Por que a Terra está ficando mais escura? Estudo da NASA explica
Nosso planeta está refletindo cada vez menos radiação solar, o que afeta, sobretudo, o Hemisfério Norte, que está escurecendo mais rapidamente que o Hemisfério Sul. O declínio do gelo marinho e da cobertura de neve contribui para isso, mas não é o único fator.

Quando a luz solar atinge a Terra, parte dela é absorvida pelos oceanos, solo, vegetação e atmosfera, enquanto parte é refletida de volta para o espaço. Essa propriedade é conhecida como albedo e é um fator crucial para manter o equilíbrio energético do planeta.
Mas esse equilíbrio está mudando. Segundo um estudo de pesquisadores da NASA, publicado em 29 de setembro na revista PNAS, nos últimos anos, o albedo global diminuiu, o que significa que a Terra está refletindo menos luz e retendo mais calor. Em outras palavras, nosso planeta está ficando mais quente e mais escuro.
Diferenças entre Hemisférios
Embora historicamente o albedo de ambos os hemisférios fosse considerado quase o mesmo, observações recentes por satélite revelaram uma assimetria na qual a radiação absorvida aumenta mais rapidamente no Hemisfério Norte do que no Hemisfério Sul. Entre 2001 e 2024, registrou-se um declínio constante na luz solar refletida pela Terra. O Hemisfério Norte sofreu a maior perda de refletividade.
A Terra absorve, em média, aproximadamente 240 W/m² (watts por metro quadrado) de radiação solar. Nas últimas décadas, observou-se uma divergência entre os hemisférios de 0,34 W/m² por década. Isso significa que os hemisférios estão refletindo cada vez menos radiação solar e em quantidades cada vez mais diferentes. Embora esse número possa parecer pequeno, ele é estatisticamente significativo.
Em teoria, as correntes atmosféricas e oceânicas deveriam equilibrar essa diferença, transferindo energia entre os dois hemisférios, mas constatou-se que esse mecanismo não foi suficiente para compensar o desequilíbrio das últimas duas décadas.
Os motivos do escurecimento
Uma das principais razões para essa tendência é a diminuição do albedo da superfície no Hemisfério Norte, causada pelo derretimento do gelo marinho e da neve. Essas superfícies de cor clara costumavam refletir grande parte da luz solar, mas, à medida que diminuem, expõem oceanos e solos mais escuros que absorvem mais calor.
A isso se soma o papel dos aerossóis – pequenas partículas suspensas na atmosfera que influenciam a formação de nuvens e, portanto, a quantidade de luz refletida – que estão diminuindo devido à menor poluição.
Aerosols are tiny solid or liquid particles in our atmosphere like dust, sulfates from pollution or volcanoes, wildfire smoke, and more. NASAs GEOS model shows how these particles can affect the air we breatheeven from far away. pic.twitter.com/zTKJGshzQn
— NASA Earth (@NASAEarth) September 16, 2025
As políticas ambientais implementadas na Europa, nos Estados Unidos e na China reduziram a poluição por partículas finas no Hemisfério Norte. Em contrapartida, o Hemisfério Sul registrou um aumento nos níveis de aerossóis devido aos incêndios florestais na Austrália e às erupções do vulcão Hunga Tonga em 2021 e 2022.
O vapor d'água também contribui para a tendência de diferenças hemisféricas, e as nuvens podem não desempenhar um papel compensatório tão significativo quanto se pensava anteriormente, o que exige uma revisão de algumas premissas nos modelos climáticos atuais.
Compreender como o albedo da Terra varia e como a energia é distribuída entre os hemisférios será fundamental para aprimorar as projeções sobre as mudanças climáticas. A diminuição do brilho do planeta não é apenas uma curiosidade: é um sinal direto de que a Terra está retendo mais calor do que liberando, perturbando o equilíbrio energético que permitiu a estabilidade climática por milênios. Em outras palavras: quanto menos refletimos, mais nos aquecemos.
Referência da notícia
Emerging hemispheric asymmetry of Earth's radiation. 29 de setembro, 2025. Loeb, et al.