Estudo revela que poluentes atmosféricos em São Paulo ultrapassaram o limite mesmo durante a pandemia

Uma pesquisa recente identificou níveis altos de poluentes atmosféricos mesmo no período da pandemia, principalmente nos meses de inverno! As condições da circulação atmosférica contribuíram para o transporte desses poluentes.

Poluição do ar em São Paulo
A poluição atmosférica ultrapassou os níveis seguros de qualidad eo ar na cidade de São Paulo, no período do auge da pandemia. Foto: Eduardo Knapp.

Quem mora na cidade de São Paulo certamente se lembra de um acontecimento ocorrido no dia 19 de agosto de 2019, quando nuvens escuras cobriram o céu e o dia virou noite. O fenômeno não foi causado pela poluição local ou pelas emissões produzidas em SP, mas por um fluxo intenso de partículas expelidas por incêndios florestais que ocorreram na Amazônia.

Agora, segundo um novo estudo publicado na Atmosphere, a poluição do ar na região metropolitana de São Paulo apresentou níveis altos entre julho de 2019 e agosto de 2020, mesmo no auge da pandemia!

Alta concentração de poluentes mesmo na pandemia!

O estudo focou no material particulado e teve o objetivo de analisar a emissão de poluentes nos meses de inverno, quando a queima de biomassa é generalizada no estado de São Paulo. As condições de circulação atmosférica podem impulsionar a fumaça e o material particulado, onde podem descer quase até o nível do solo.

Dessa maneira, as partículas finas são as que mais contribuem porque interagem de forma particularmente forte com a radiação solar, intensificando o seu efeito no clima e na saúde humana.

Foi realizada a caracterização do material particulado fino, além da composição química obtida na superfície em relação aos parâmetros ópticos observados na coluna atmosférica. Uma das autoras do artigo, Regina Maura de Miranda, conta que através do modelo apropriado para analisar os dados ambientais, foi possível identificar 4 fontes principais de aerossóis: veículos pesados (42%), poeira do solo (38,7%), veículos leves (9,9%) e fontes locais (8,6%). Estas fontes locais incluem emissões industriais e incêndios em outras partes do estado.

Concentração de poluentes na atmosfera
Variabilidade média mensal da concentração de material particulado (PM2.5) e Carbon Black (BC). Fonte: Vieira 2023.

Foi observado que durante a estação seca, especialmente de julho a outubro, a queima da biomassa na porção central do Brasil e no interior de São Paulo é responsável pela liberação de grandes quantidades de gases e partículas. No caso de agosto de 2019, as partículas foram transportadas pelo vento até a região metropolitana de São Paulo, impulsionados por processos turbulentos na alta atmosfera.

Contribuição das emissões de veículos

Miranda também enfatizou a importância do carbono emitido por veículos pesados e pela queima da biomassa, chamado de carbono escuro. Este tipo de material particulado é um perigo para a saúde humana, que pode causar danos ao sistema respiratório, além de contribuir localmente para o aquecimento atmosférico e agravar o impacto do aquecimento global.

Em 2019 e 2020, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) detectou 197,632 e 222,797 focos de incêndio, respectivamente.

A área de estudo foi o campus da EACH-USP na zona leste da cidade, que possui mais de 6 milhões de habitantes, muitas fábricas e diversas vias de tráfego intenso, além de conter o maior aeroporto do Brasil. O asfalto torna grande parte da superfície impermeável, e outros tipos de cobertura do solo, juntamente com ilhas de calor e altos níveis de poluentes fazem parte do contexto presente no artigo.

Para caracterizar os tipos e concentrações de aerossóis, bem como sua composição química, propriedades ópticas e variabilidade sazonal, o estudo foi conduzido em diferentes estações com períodos secos e chuvosos.

Miranda afirma que o período estudado foi de certa forma atípico porque as emissões de poluentes caíram drasticamente no auge da pandemia. No entanto, as recomendações da OMS foram superadas. Nos próximos estudos ela pretende publicar os dados coletados nos anos seguintes e investigar os aerossóis secundários.

Referência da notícia

Vieira, E.V.R.; do Rosario, N.E.; Yamasoe, M.A.; Morais, F.G.; Martinez, P.J.P.; Landulfo, E.; Maura de Miranda, R. Chemical Characterization and Optical Properties of the Aerosol in São Paulo, Brazil. Atmosphere, 2023, 14, 1460. https://doi.org/10.3390/atmos14091460 .