O mistério do 'Octopus Garden' no fundo do mar foi resolvido

Localizado nas profundezas das águas da costa da Califórnia, o 'Octopus Garden' é o maior aglomerado de polvos do mundo. Mas por que tantos se reúnem lá? Saiba aqui.

Octopus Garden
Uma imagem do 'Jardim de Polvos' no Monte Submarino Davidson. Crédito: © 2022 MBARI.

Os cientistas resolveram o mistério do motivo pelo qual milhares de polvos migram para fontes termais de águas profundas na costa da Califórnia, formando o maior aglomerado de polvos da Terra.

Apelidado de “Jardim de Polvos” (Octopus Garden, em inglês), este enorme local de aglomerados de cefalópodes foi descoberto em 2018, localizado a 128 quilômetros a sudoeste de Monterey, a uma profundidade de aproximadamente 3.200 metros. Mais de 6.000 polvos foram contabilizados no 'Jardim de Polvos', embora os cientistas acreditem que possa haver até 20.000 indivíduos ou mais.

A descoberta inicial impressionou os pesquisadores, mas não ficou totalmente claro por que os polvos estavam ali. Agora, uma nova pesquisa publicada na revista Science Advances descobriu que os moluscos de oito braços se reúnem ali para acasalar e fazer seus ninhos, atraídos pelas características únicas da região.

A atração do 'Jardim de Polvos'

Situado em uma pequena colina perto da base de Davidson Seamount, um vulcão subaquático extinto, o 'Jardim de Polvos' é banhado por águas quentes que brotam do fundo do mar, formando inúmeras fontes hidrotermais.

Ao longo de 14 mergulhos, utilizando o veículo Doc Ricketts, operado remotamente pelo Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI), os cientistas estudaram detalhadamente os polvos. Todos os indivíduos pertenciam à espécie Muusoctopus robustus, apelidada de polvo pérola.

A presença de indivíduos adultos, machos e fêmeas, além de ovos em desenvolvimento e filhotes, indicava que o local era utilizado exclusivamente para reprodução, com ninhos concentrados ao redor das fendas das fontes hidrotermais.

Normalmente, a temperatura nesta profundidade, cerca de três quilômetros abaixo da superfície do oceano, é de 1,6°C. No entanto, em torno das fissuras e fendas das fontes hidrotermais atinge quase 11°C.

Larvas de polvo
Imagem de uma larva de polvo nas profundezas.

A descoberta mais intrigante foi que estas águas quentes aceleraram o desenvolvimento dos ovos do polvo. Embora a maioria dos ovos de polvo do fundo do mar leve cerca de cinco a oito anos para eclodir nas temperaturas geladas do abismo, os ovos no 'Jardim de Polvos' foram observados eclodindo depois de apenas dois anos.

Uma necessidade de velocidade

Segundo os investigadores, este rápido desenvolvimento é fundamental para a concentração dos polvos no 'jardim', pois aumentou o seu metabolismo e reduziu bastante o tempo necessário para a incubação dos embriões. Isso significou que o sucesso reprodutivo aumentou, pois havia menos risco de embriões serem perdidos para predadores.

“O fundo do mar é um dos ambientes mais desafiadores da Terra, mas os animais desenvolveram maneiras inteligentes de lidar com temperaturas frias, escuridão perpétua e pressão extrema”, disse Jim Barry, autor principal do estudo e cientista sênior do MBARI.

"Períodos de incubação muito longos aumentam a probabilidade de os ovos não sobreviverem. Ao fazerem seus ninhos em fontes hidrotermais, as mães polvos dão uma vantagem aos seus filhotes", complementou ele.

Depois de se reproduzirem, os polvos pérola adultos morrem, proporcionando um verdadeiro "buffet de frutos do mar" que atrai uma rica comunidade de necrófagos, incluindo isópodes, caranguejos e peixes. Os polvos jovens, por outro lado, aventuram-se nas profundezas, voltando ao 'jardim' para repetir o ciclo depois de maduros.