O aquecimento global aumentará o risco de turbulências nos voos

As turbulências atmosféricas são responsáveis por grande parte das lesões durante as viagens de avião, além do trauma que elas podem causar dependendo de sua gravidade. De acordo com cientistas do Reino Unido, as turbulências ficarão cada vez piores com o aquecimento global.

Aquecimento global e turbulências
Os voos transatlânticos enfrentarão mais Turbulências de Ar Claro (TACs) no futuro devido ao aquecimento do planeta.

Uma das maiores preocupações e medo das pessoas que viajam de avião são as turbulências! Esse é um medo justificável já que, de acordo com estudos, as turbulências atmosféricas são responsáveis por 71% das lesões ocorridas durante os voos. Inclusive, o maior número de registros de turbulências severas tem feito com que essa preocupação aumente entre os viajantes. Mas será que foram somente os registros que aumentaram ou de fato a ocorrência dessas turbulências aumentou?

Bom, é difícil saber se atualmente estamos experimentando mais turbulências severas, mas no futuro muito provavelmente teremos um aumento da frequência de turbulências devido ao aquecimento global! Isso é o que pesquisadores da Universidade de Reading e do National Center for Atmospheric Science (NCAS), ambos do Reino Unido, sugerem em seu mais recente estudo publicado neste mês pela revista Climate Dynamics.

Entre os diferentes tipos de turbulências, a Turbulência de Ar Claro (TAC) é a mais perigosa. As TACs ocorrem nos níveis superiores da atmosfera em um ambiente sem nuvens, não oferecendo nenhuma pista visual aos pilotos e são indetectáveis pelos radares, por isso quase sempre esse tipo de turbulência pega os pilotos de surpresa. As TACs geralmente ocorrem nas latitudes médias por onde passam as fortes correntes de ventos nos altos níveis da atmosfera, os famosos jatos de altos níveis.

De acordo com os pesquisadores, os eventos de TAC ocorrem devido as instabilidades geradas pelo cisalhamento do vento nessas regiões dos jatos, ou seja, devido às grandes mudanças de velocidade e direção do vento. Os voos transatlânticos são os que mais enfrentam essas turbulências, devido a presença dos jatos nas latitudes médias sobre o Atlântico Norte.

Aquecimento global e turbulências: qual a relação?

Para entender como o aquecimento do planeta poderia afetar as condições meteorológicas associadas às TACs, os pesquisadores utilizaram simulações de modelos climáticos globais para verificar as possíveis alterações na dinâmica nos altos níveis da atmosfera que poderiam alterar a ocorrência desse tipo de turbulência até o ano de 2050, em diferentes épocas do ano.

“Nossos resultados confirmam que o setor de aviação deve se preparar para um futuro mais turbulento” - principal conclusão dos autores da pesquisa publicada neste mês pela Climate Dynamics.

A intensidade das correntes de jatos em altos níveis depende do gradiente de temperatura latitudinal, ou seja, do contraste de temperatura entre diferentes latitudes. De acordo com as simulações, em um planeta mais aquecido haverá um aumento do gradiente de temperatura entre os pólos e os trópicos nos altos níveis da atmosfera, o que implicaria em correntes de jatos mais intensas e maior cisalhamento do vento, o que aumentaria a ocorrência das turbulências mais intensas!

O melhor método para evitar as lesões causadas pelas turbulências é usar o cinto de segurança ao longo de todo o voo, mesmo quando o sinal de luz estiver apagado.

Apesar do inverno ser a estação mais turbulenta do Atlântico Norte, as simulações sugerem que, até o ano de 2050, os verões serão tão turbulentos quanto os invernos na década de 1950! As simulações também indicam que, para cada 1 °C de aquecimento global, haverá um aumento de turbulência em todas as estações do ano, de 14% no verão e outono e 9% no inverno e primavera do Hemisfério Norte.

Em um estudo anterior de um dos autores dessa pesquisa, o físico Paul D. Williams, também foi mostrado que a quantidade de turbulências atmosféricas leves a moderadas aumentará em cerca de 75%, enquanto as turbulências moderadas a severas aumentarão em 127% e as turbulências mais graves aumentarão em 149%, em um futuro com o dobro das concentrações atmosféricas pré-industriais de gás carbônico.

Mas calma, isso não quer dizer que voar no futuro será mais perigoso! Primeiramente, devemos lembrar que as aeronaves são projetadas para aguentar turbulências muito fortes. Para evitar o incômodo e prejuízos gerados pelas turbulências, as companhias aéreas podem evitar as áreas mais propensas a ocorrência de TACs. Mas o principal meio de evitar as lesões geradas por turbulências severas é o uso de cinto de segurança, mesmo quando o sinal de luz está apagado!