Desastres climáticos cresceram 460% desde os anos 1990 no Brasil, aponta estudo

Enquanto eventos climáticos extremos aumentam no país, o investimento governamental em medidas emergenciais e prevenção de desastres têm diminuído.

Desastres climáticos causam perdas anuais e bilionárias para o Brasil. Crédito: Divulgação Diário do Povo
Desastres climáticos causam perdas anuais e bilionárias para o Brasil. Crédito: Divulgação Diário do Povo

Em 2024, o Brasil viveu extremos climáticos de Norte a Sul do território. Em rios da Amazônia, a seca atingiu níveis recorde, associada ao aumento das queimadas e da fumaça e, na outra ponta do país, o Rio Grande do Sul foi assolado por enchentes históricas, que não se viam há mais de 50 anos. Esses dois casos ilustram um ano que ficou marcado como o mais quente já registrado e pelos desastres associados às mudanças do clima. Um estudo recente, lançado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, indica que os eventos extremos no Brasil aumentaram 460% desde os anos 1990.

O documento, chamado “2024 - O ano mais quente da história”, reúne estatísticas das últimas três décadas sobre o aumento da temperatura do ar e nos oceanos e como essas mudanças estão conectadas com o crescimento de desastres climáticos no país. De acordo com o levantamento feito pelos especialistas da iniciativa, os impactos da crise climática são críticos e abrangentes, passando pela queda da biodiversidade, de qualidade de vida e perdas econômicas severas.

Os pesquisadores analisaram o panorama de desastres climáticos entre 1991 e 2023 no Brasil. Nesse período, foram registrados 64.820 eventos extremos em 5.117 municípios (92% do total no país). As enchentes representam metade (50%) desses desastres, seguidas de inundações, enxurradas e enchentes (27%) e tempestades (19%).

Na década de 1990, foram 6.253 registros de desastres climáticos. Comparativamente, entre 2020 e 2023 houve um total de 16.306 registros, um aumento de 2,5 vezes em relação aos anos 90. Considerando o recorte de 32 anos de monitoramento, isso significa um aumento médio de 100 registros de desastres climáticos por ano.

Estudo ressalta os efeitos socioambientais e econômicos dos desastres climáticos

Inundações representaram 27% dos desastres climáticos registrados no Brasil entre 1991 e 2023. Crédito: AFP
Inundações representaram 27% dos desastres climáticos registrados no Brasil entre 1991 e 2023. Crédito: AFP

“É crucial compreender que as mudanças climáticas são resultado direto das atividades humanas e que os desastres climáticos, intensificados pelas mudanças climáticas, afetam diretamente a população”, ressalta a publicação. Entre os exemplos de danos causados pelos desastres climáticos estão o aumento no custo de energia e alimentos, a escassez hídrica e as doenças relacionadas ao calor.

Nos últimos 30 anos, mais de 219 milhões de pessoas foram afetadas por desastres climáticos no Brasil, incluindo mortos, desalojados, desabrigados e enfermos. Somente nos últimos quatro anos, 78 milhões de brasileiros sofreram diretamente com os efeitos dessas tragédias.

No campo financeiro, o estudo estima que, para cada aumento de 0,1 °C na temperatura média global, é gerado um acréscimo de R$5,6 bilhões nos prejuízos econômicos decorrentes de desastres no país. As inundações do ano passado no RS, com fechamento de rodovias, aeroportos, perdas de produção agrícola e destruição de comércios e residências, exemplificam a escala dessas perdas.

De acordo com o estudo, entre os anos de 1995 e 2023, os desastres climáticos causaram déficits de R$ 547,2 bilhões no Brasil. Desde 2020, a média anual de prejuízos é de R$ 47 bilhões. Isso representa mais que o dobro dos R$ 22 bilhões anuais registrados na década anterior.

“Paradoxalmente, os recursos destinados a medidas emergenciais e de prevenção de desastres têm diminuído, agravando ainda mais a vulnerabilidade do país”, apontam os pesquisadores. Segundo o levantamento, entre 2012 e 2023, os recursos gastos em medidas emergenciais e de prevenção desses tipos de desastre apresentaram uma redução média de quase R$200 milhões ao ano.

“Estamos vendo um impacto direto da expansão urbana e do uso intensivo de bens naturais no agravamento dos desastres climáticos. É preciso repensar como lidamos com o meio ambiente para proteger as pessoas.”, afirma uma das coordenadoras do estudo, a pesquisadora Aline Martinez, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O documento faz parte da série “Brasil em transformação: o impacto da crise climática”. O projeto conta com a parceria do Programa Maré de Ciência da Unifesp, o MCTI, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e a Fundação Grupo Boticário.

Referências da notícia

Diário do Povo. Desastres climáticos no Brasil aumentam 460% desde os anos 1990. 2025

Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica. 2024 - O ano mais quente da história. 2025