Lagoa em Florianópolis tem concentração de cocaína entre as mais altas do mundo

Segundo um estudo, a Lagoa da Conceição, que é um dos principais destinos turísticos de Florianópolis, tem uma das concentrações de cocaína mais altas do mundo. Veja mais informações aqui.

Lagoa da Conceição, em Florianópolis
Lagoa da Conceição, em Florianópolis, está contaminada com cocaína e outras substâncias. Crédito: Booking.

Um estudo publicado na revista Science of the Total Environmental analisou amostras de água da Lagoa Conceição, em Florianópolis (Santa Catarina) entre dezembro de 2022 e abril de 2023 e revelou uma alta concentração de cocaína, colocando esse local como um dos mais contaminados pela droga no mundo.

O estudo e seus resultados

Para a pesquisa, que foi conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foram coletadas 27 amostras de água e 18 de sedimentos. O estudo teve colaboração do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). As amostras foram coletadas em pontos estratégicos da Lagoa, considerando áreas próximas da estação de tratamento de esgoto, das áreas urbanizadas e das regiões de maior biodiversidade.

Foram identificados 35 ‘contaminantes emergentes’ na Lagoa da Conceição. Além da cocaína, também encontraram cafeína, antibióticos e analgésicos.

Ao todo, foram encontrados ‘35 emergentes contaminantes’ na área próxima à estação de tratamento da Lagoa de Evapo Infiltração (LEI) da companhia de saneamento. Além da cocaína, foram encontradas cafeína, diferentes tipos de medicamentos antibióticos e analgésicos e substâncias usadas em cosméticos e produtos de higiene pessoal.

O estudo menciona também a detecção de metabólitos de drogas ilícitas, como a benzoilecgonina, que é o principal metabólito da cocaína. Essas substâncias da cocaína foram observadas em 63% das amostras analisadas, sugerindo uma presença significativa e consistente nessa área da Lagoa. A detecção da benzoilecgonina foi relevante, já que ela é considerada um marcador para o uso e descarte de cocaína.

amostras de água
Amostras da água no laboratório do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, em Florianópolis. Crédito: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC.

"São dados bastante expressivos. Claro, a pesquisa chamou a atenção por causa da cocaína, mas a gente tem um número muito grande de medicamentos, além de outros produtos, inclusive as drogas ilícitas, principalmente a cocaína e outros derivados", disse Silvani Verruck, professora do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSC e coautora do estudo, à CNN Brasil.

O que explica a alta concentração dos contaminantes na água?

Apesar do estudo não focar em como esses contaminantes chegaram ao local, Silvani explicou que uma possibilidade é o esgoto não tratado, o descarte ilegal direto na água ou até mesmo por embarcações.

Além disso, as áreas mais urbanizadas registram os maiores volumes de contaminantes, o que pode ter relação com o impacto da atividade turística.

A presença desses contaminantes na água compromete a saúde e a biodiversidade do ecossistema aquático local, podendo afetar algas, crustáceos e peixes.

E sobre a cocaína e a benzoilecgonina, Silvani comentou que os índices são "surpreendentes, mas esperados", já que as substâncias são liberadas pelos humanos na urina e nas fezes.

Em relação à balneabilidade, a pesquisadora explicou que os contaminantes "não são considerados para o estabelecimento da qualidade de banho no local". O Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina avalia semanalmente o local com base na concentração de coliformes fecais.

Referências da notícia

Lagoa da Conceição, em Florianópolis, tem concentração de cocaína entre as mais altas do mundo. 13 de fevereiro, 2025. Caroline Borges.

UFSC identifica 35 contaminantes emergentes na Lagoa da Conceição, inclusive cocaína. 13 de fevereiro, 2025. Amanda Miranda/UFSC.

Suspect screening and quantitative analysis of 165 contaminants of emerging concern in water, sediments, and biota using LC-MS/MS: Ecotoxicological and human health risk assessment. 01 de fevereiro, 2025. Da Silva, et al.