Guano dos pinguins pode ser fundamental para reduzir os impactos da mudança climática, diz estudo na Nature
Um estudo publicado na Nature revela esse impacto, até então desconhecido pelos cientistas, que pode ser fundamental para a evolução e o impacto das mudanças climáticas em escala planetária global.

Um estudo publicado na revista Nature afirma que os dejetos fecais que os pinguins espalham abundantemente na Antártica liberam amônia. A amônia é um gás essencial na formação de nuvens, e as nuvens podem atuar como camadas isolantes da atmosfera, filtrando a radiação solar direta.
O papel essencial dos pinguins nas mudanças climáticas
Os pinguins-de-adélia costumam se reunir em colônias de cerca de 50.000 a 60.000 membros na Península Antártica, onde também está localizada a Base de Marambio, operada pela Força Aérea Argentina e a apenas 8 km da principal estação científica do país transandino. Ela está em operação há 10 anos.
Nesta ilha, a paisagem é um deserto polar frio com brisas geladas, abundantes em rochas e permafrost, além de tempestades silenciosas, aquelas que não deixam trovões ou relâmpagos. Um deserto desolado de gelo e rochas que também constitui o habitat onde os pinguins vivem juntos, acasalam e formam famílias.
Sabías que hoy es el #diamundialdelpinguino#WorldPenguinDay. Coincide con la migración anual del pingüino Adelia (Pygoscelis adeliae) y también nos invita a reflexionar sobre los peligros que enfrentan. Son 17 especies y 11 se encuentran clasificadas en peligro o vulnerables pic.twitter.com/foVGQ3AAc9
— Erasmo Macaya Horta (@erasmomac) April 25, 2019
Guano é o nome dado à matéria fecal ou excremento de aves marinhas, como pinguins, gaivotas, morcegos e focas. Este substrato natural também é usado como fertilizante na agricultura. Os pinguins o espalham ampla e abundantemente por onde vivem.
Além disso, o guano libera amônia na área onde é depositado. O NH3 é um composto gasoso incolor e de odor muito desagradável, que contribui para o aumento da formação de certos tipos de nuvens, que por sua vez atuam como camadas isolantes da atmosfera, de acordo com o estudo.
A relação entre guano e aerossóis
Pesquisadores da Universidade de Helsinque (Finlândia) foram ao continente branco para estudar como a amônia, produzida naturalmente pela decomposição lenta de matéria orgânica fecal, tem o potencial de contribuir para a redução das temperaturas da superfície da Antártica.
O estudo analisou a concentração de amônia no ar registrada entre janeiro e março de 2023. Normalmente, os níveis de gás NH3 são extremamente baixos, então qualquer fonte desse elemento pode ter um impacto significativo em sua concentração final.
A amônia pode aumentar a formação dessas pequenas partículas, que permanecem suspensas no ar como aerossóis. Essas partículas, por sua vez, fornecem ao vapor de água uma superfície para condensar, levando à formação de nuvens.
Satellite imagery of 16 #emperorpenguin colonies show a 22% population decline from 2009-2024.
— Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI) (@WHOI) June 30, 2025
Its absolutely alarming that the numbers are so much worse than predicted, #WHOIs Dan Zitterbart told the @AP
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Dependendo do tipo de cobertura de nuvens, o clima é impactado de forma diferente: algumas formações de nuvens refletem a luz solar de volta para o espaço, resfriando a superfície; no entanto, outras retêm a radiação, contribuindo para o aquecimento.
Os pesquisadores descobriram que, quando o vento soprava da direção de uma colônia, a concentração de amônia aumentava para 13,5 partes por trilhão. Esse efeito persistiu quando os pinguins migraram daquele local no final de fevereiro, quando a quantidade de amônia ainda era mais de 100 vezes maior do que a linha de base, porque o guano remanescente na área continuava emitindo NH3.
Outros compostos gasosos
Vale ressaltar que os gases oceânicos sofrem transformações químicas na atmosfera, produzindo alguns compostos como o ácido sulfúrico, que ao interagir com a amônia pode iniciar a formação de novas partículas.
Isso ocorre porque a taxa de formação de partículas determina quantas delas chegam à atmosfera. Essas partículas atuam como sementes em torno das quais se formam gotículas de nuvens, ou núcleos de condensação.
Por outro lado, o poder do plantio de guano em terra já era conhecido, por exemplo, para comunidades de plantas terrestres, como musgos e líquens, por meio de pesquisas sobre o papel dos pinguins na reciclagem de metais e nutrientes no Oceano Antártico.
Adélie Penguin - Pingüino de Adelia, 𝘗𝘺𝘨𝘰𝘴𝘤𝘦𝘭𝘪𝘴 𝘢𝘥𝘦𝘭𝘪𝘢𝘦, Andresen Island, Graham Land, Antarctica.
— IAATO (@iaato_org) August 2, 2023
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O guano, quando introduzido nas águas próximas às colônias, pode introduzir metais traço essenciais para o desenvolvimento do fitoplâncton. O fitoplâncton absorve CO2 da atmosfera e o transforma em carbono orgânico, que será absorvido.
Esta nova descoberta e os resultados da análise levantam uma nova hipótese sobre o papel dos pinguins na formação de partículas e seu poder na formação de nuvens.
A interação das nuvens com o clima é complexa e depende de muitos outros fatores, de acordo com cientistas finlandeses, então o próximo passo será medir diretamente as propriedades radiativas dessas nuvens para entender seu impacto no clima.
Referência da notícia
Boyer, M., Quéléver, L., Brasseur, Z. et al. Penguin guano is an important source of climate-relevant aerosol particles in Antarctica. Commun Earth Environ 6, 368 (2025). https://doi.org/10.1038/s43247-025-02312-2