Cientistas cultivaram sementes no espaço para adaptação às mudanças climáticas

Cientistas se reuniram em um projeto astrobotânico para enviar sementes ao espaço na intenção de explorar os efeitos da radiação cósmica e temperaturas espaciais extremas na aceleração da adaptação natural e genética de culturas importantes para nossa sobrevivência diante das mudanças climáticas!

Sementes no espaço
Em uma audaciosa investigação astrobotânica, cientistas estão tentando criar sementes mais resistentes às mudanças do clima.

No ano passado, a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) junto com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) se uniram em uma investigação astrobotânica, onde sementes foram enviadas ao espaço com o objetivo de desenvolver novas culturas mais resistentes às mudanças climáticas da Terra.

Naturalmente, as plantas têm a capacidade de crescer e se desenvolver em ambientes desafiadores, muitas vezes passando por mutações naturais para se adaptar a alterações no clima e no ambiente que podem acontecer ao longo do tempo. Entretanto, a preocupação dos cientistas é que as plantas não conseguirão se adaptar às atuais mudanças climáticas, que estão acontecendo de forma muito rápida, além da capacidade de evolução natural das plantas.

Sementes de Arabidopsis e sorgo foram enviadas para a Estação Espacial Internacional para serem expostas às condições extremas do espaço. Imagem: NASA, Nanoracks, IAEA.

Por esses motivos, cientistas da IAEA e FAO, por meio de seu Centro Conjunto FAO/IAEA de Técnicas Nucleares em Alimentos e Agricultura, uniram esforços para enviar sementes à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) no ano passado, para serem submetidas a uma gama de radiação cósmica e temperaturas extremas no espaço, e suas mutações serem analisadas pelos cientistas. Vamos entender com mais detalhes como foi feito o experimento!

Como foi feito esse cultivo no espaço?

No dia 7 de novembro de 2022 sementes de Arabidopsis e sorgo foram lançadas ao espaço a partir de uma base da NASA, na Virgínia, Estados Unidos, como parte da carga da missão CRS2 NG-18 para a ISS. Esses dois tipos de sementes foram escolhidos pois já existe um grande volume de dados e conhecimento genético a respeito dessas espécies, dando uma boa base para comparação e análise.

O projeto das colheitas cósmicas é muito especial. Esta é a ciência que pode ter um impacto real na vida das pessoas em um futuro não muito distante, ajudando-nos a cultivar colheitas mais fortes e alimentar mais pessoas - Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da IAEA.

A Arabidopsis é uma espécie de agrião, da mesma família da couve e da mostarda, de cultivo fácil e barato, capaz de produzir muitas sementes, sendo muito estudada por botânicos e geneticistas de plantas. O sorgo é um tipo de grão, típico dos das regiões tropicais semi áridas, rico em nutrientes e muito cultivado para a alimentação animal e humana.

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Metade da quantidade de sementes enviadas foram colocada fora da ISS, em uma plataforma externa, para serem expostas a toda a gama de radiação cósmica e às temperaturas extremas do espaço, enquanto a outra metade foi mantida dentro da ISS para comparação, exposta a alguns níveis de radiação e microgravidade.

De acordo com os cientistas, o ambiente espacial oferece um espectro mais amplo de radiação e extremos de temperatura, muito mais do que seria possível através das fontes terrestres, mesmo que induzidas em laboratório. Essas condições extremas do espaço têm a capacidade de induzir alterações genéticas diferentes e mais rápidas das alterações induzidas na Terra.

Após 5 meses no espaço, as sementes retornaram à Terra em abril deste ano e agora estão sendo analisadas pelos cientistas. De acordo com Qu Dongyu, diretor-geral da FAO, “agora que as sementes estão de volta à Terra, podemos ver os efeitos da radiação cósmica, microgravidade e temperaturas extremas e compará-los com os induzidos em nossos laboratórios. Este experimento inovador pode ajudar a desenvolver culturas capazes de se adaptar às mudanças climáticas e aumentar a segurança alimentar global”. Os resultados iniciais da pesquisa poderão estar disponíveis já em outubro deste ano.