A próxima pandemia pode emergir do Ártico, mas por quê?

Um novo estudo científico revelou que o derretimento cada vez mais acelerado no Polo Norte poderia “despertar” os vírus e bactérias que permaneceram “adormecidos” por centenas ou até milhões de anos sob o gelo e o permafrost.

Gelos; Ártico; Groenlândia
O derretimento do gelo no Ártico pode liberar vírus e bactérias presos nele por milhões de anos.

É isto mesmo! Vírus e bactérias que estão “adormecidas” centenas, milhares ou até mesmo milhões de anos sob o gelo no Ártico podem retornar à atividade com consequências imprevistas para a vida na Terra.

O aquecimento global acelerado derrete os corpos de gelo e o permafrost (solo congelado), especialmente no Círculo Polar Ártico, pois essa área do planeta aquece quatro vezes mais rápido que a média global, expondo microrganismos antigos e desconhecidos.

Nesse contexto, um grupo de cientistas da Universidade de Ottawa alerta que a próxima pandemia poderia surgir da “liberação” desses vírus e bactérias que estão alojados sob o gelo e o permafrost, muito antes do ser humano pisar neste planeta.

“Existem vírus que podem sobreviver por dezenas, centenas, milhares e, em teoria, milhões de anos no gelo. O que está acontecendo é que estamos encontrando muitos animais muito bem preservados, como os mamutes, descobertos pelos degelos. Se esses seres congelados foram infectados por vírus e bactérias, então podem infectar outros animais e pessoas”, revela o microbiologista Anirban Mahapatra.

Um despertar perigoso

A pesquisa, que foi realizada no Lago Hazen, no extremo norte do Canadá, conclui que a análise genética do solo e sedimentos do lago sugere o risco de disseminação viral, onde um vírus pode infectar um novo hospedeiro pela primeira vez, com tal risco podendo ser maior perto de geleiras derretidas.

A equipe coletou amostras de solo de um leito de rio com água de geleira derretida no verão, bem como do próprio lago. Eles também obtiveram amostras de animais, plantas e fungos da área.

Assim, eles demonstraram que, à medida que as temperaturas globais aumentam, é mais provável que vírus e bactérias presos no gelo e no permafrost possam emergir e infectar a vida selvagem local, principalmente porque seu alcance também se aproxima dos polos por ter um ambiente menos inóspito.

Feedback positivo

Você já viu, pelo menos nos filmes, como uma bola de neve começa a rolar montanha abaixo, crescendo à medida que mais neve é adicionada até se tornar uma avalanche? Essa analogia é válida para relacionar o feedback positivo com o aquecimento global acelerado. O feedback positivo é um processo que amplifica os efeitos em um sistema.

Vamos a alguns exemplos. Os oceanos capturam dióxido de carbono, mas como há tanto na atmosfera, os mares acidificam e perdem sua capacidade de reter CO2, o que aumenta a presença deste gás de efeito estufa.

Ou, à medida que a temperatura do planeta aumenta, a evaporação aumenta, e o vapor d'água é outro gás de efeito estufa. Ou, como no caso da pesquisa, o aquecimento derrete as geleiras e o permafrost.

Permafrost
O permafrost é um tipo de solo que foi congelado por milhares de anos. Além de conter vírus e micro-organismos potencialmente perigosos, libera enormes quantidades de gases de efeito estufa quando descongela.

Ao ficar exposto, o permafrost libera uma série de gases de efeito estufa, que, em condições normais, devem ficar retidos na atmosfera, como o metano (CH4). Ou seja, o derretimento dos gelos multiplica a presença de estes gases e, por sua vez, tem uma menor capacidade de repelir a radiação solar, por isso acumula um maior aquecimento, acelerando o derretimento.

E assim o círculo vicioso continua a amplificar o aquecimento e suas consequências em uma espiral sem fim.