A colisão entre asteroides que desencadeou uma longa era glacial na Terra

Há cerca de 466 milhões de anos, muito antes dos dinossauros dominarem o planeta, a Terra congelou, assim como os mares, e uma nova faixa de temperaturas nunca vista preparou o ambiente para a evolução de novas espécies. Saiba mais aqui!

colisão entre asteroides no espaço; ilustração
A poeira das estrelas, resultante desta colisão e que cobriu o planeta, causou um resfriamento que durou dois milhões de anos e obrigou as espécies a se adaptarem.

Por qual motivo ocorreu a Era do Gelo conhecida como Era do Gelo do Ordovícico? A questão foi respondida agora por um estudo publicado na Science Advances, que descreve a origem do fenômeno como uma colisão gigantesca entre asteroides no espaço, que acabou enchendo a atmosfera terrestre de poeira e causando o resfriamento global.

O fato é que a Terra recebe constantemente matérias do espaço, como detritos de asteroides e cometas. No entanto, isso constitui uma pequena porção da poeira atmosférica; as cinzas vulcânicas, sal marinho e nuvens de poeira do deserto contribuem muito mais! Contudo, a ruptura de um asteroide com cerca de 150 km de comprimento, entre Marte e Júpiter, lançou destroços suficientes para escurecer o céu na Terra.

"Os nossos resultados mostram, pela primeira vez, que esta poeira foi capaz, em certos momentos, de resfriar drasticamente a Terra", afirma Birger Schmitz, professora de geologia na Universidade de Lund, da Suécia, e autora principal do estudo. “O estudo pode nos fornecer uma compreensão muito mais detalhada e empírica deste fenômeno, que por sua vez nos ajudará a avaliar melhor o realismo das simulações".

Oceanos de gelo

Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores procuraram vestígios de poeira espacial em rochas de 466 milhões de anos, e compararam os resultados com os minúsculos micrometeoritos encontrados na Antártica. "Estudamos a matéria extraterrestre e os meteoritos no estrato sedimentar da Terra, ou seja, nas rochas que antigamente foram o fundo do mar", explica Philipp Heck, professor associado da Universidade de Chicago (EUA) e um dos autores do estudo. "Depois extraímos ela para descobrir o que era e de onde veio", continua.

O processo foi o seguinte: as amostras foram submetidas a um tratamento ácido que consumiu a rocha, deixando intactos os vestígios de poeira das estrelas, que depois foram analisadas quanto ao seu perfil químico. Em paralelo, as rochas do antigo fundo do mar foram analisadas para identificar elementos estranhos à crosta terrestre e isótopos - átomos particulares - que poderiam indicar a sua origem extraterrestre.

Os autores explicam que, os átomos de hélio têm normalmente dois prótons, dois nêutrons e dois elétrons, mas alguns dos átomos lançados pelo Sol têm um nêutron a menos. Se estes isótopos especiais de hélio aparecerem ao lado de metais raros, que tendem ser parte de asteroides, temos a prova de que este material veio do espaço.

Estes vestígios que aparecem nas rochas que formaram o fundo marinho arenoso há 466 milhões de anos é uma "correspondência perfeita", segundo Schmitz, pois coincidem com outras evidências dessa Idade do Gelo: os geólogos podem dizer, pela sua forma, que os oceanos eram mais rasos do que o habitual em outra época.

E a razão é que grande parte da água da Terra ficou presa em calotas de gelo e glaciares. "A poeira das estrelas filtrava a luz solar e provocava o resfriamento", conclui.

A mudança climática

Como a mudança do clima foi gradual ao longo desses dois milhões de anos, a vida se adaptou gradualmente e houve uma explosão da biodiversidade à medida que as variações de temperatura apareciam entre as regiões.

Esta colisão entre asteroides no espaço deu lugar a um nível de poeira tão elevado que acabou contribuindo para um resfriamento gradual do clima na Terra. Contudo, as mudanças climáticas causadas por um impacto direto no nosso planeta seriam muito mais rápidas.

Em contrapartida, Heck adverte: uma mudança climática como a provocada pela queda do meteorito da cratera de Chicxulub (que provocou a extinção dos dinossauros), no Yucatán (México), tem consequências "catastróficas".