Um hotspot no Oceano Indo-Pacífico está crescendo cada vez mais

Devido às alterações climáticas, os nossos oceanos têm aquecendo a uma taxa de 0,06°C por década, desde o século passado. Mas, segundo um novo estudo, este aquecimento não é uniforme. Saiba tudo aqui!

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Para além de o aquecimento dos oceanos poder traduzir-se em mudanças nas suas correntes, pode também resultar na alteração do padrão da chuva a nível global.

Uma pesquisa recente, financiada pelo NOAA, mostra que um hotspot – uma espécie de “piscina” natural que concentra água mais quente que a água envolvente -, que se estende pelos oceanos Índico e Pacífico Oeste, ficou ainda mais quente e tem crescendo desde 1900.

Esta “piscina” aquecida em expansão não afeta apenas a vida oceânica. De acordo com o novo estudo, está provocando mudanças na Oscilação Madden-Julian (MJO) - o maior elemento da variabilidade intra-sazonal na atmosfera tropical -, e nas chuvas regionais em todo o mundo.

O estudo

Os mapas elaborados e expostos neste estudo mostram a evolução do “Indo-Pacific Warm Pool” – a tal região onde as temperaturas da superfície do mar permanecem acima de 28°C, durante todo o ano - entre novembro-abril de 1900 a 1980 e 1981 a 2018. As cores mais escuras representam as temperaturas mais quentes.

A "piscina" de água quente foi detetada em 1900 e não parou de crescer até hoje, sendo que a taxa de crescimento tem aumentado.

Tendo em conta o período de tempo estudado, entre 1900 e 1980 este hotspot teve uma taxa de crescimento médio anual que o levou a alcançar o tamanho do estado de Washington (230 mil km²). Nas últimas décadas, de 1981 a 2018, esta taxa de crescimento acelerou, sendo que este passou a ter uma área do tamanho da Califórnia (400 mil km²).

O aquecimento é desigual em toda a região, sendo maior no oeste do Pacífico. Esta irregularidade cria um contraste de temperatura que aumenta o vento, a umidade e a energia que formam as nuvens na região e atrai o ar úmido e quente do Oceano Índico.

Estas mudanças nos oceanos Pacífico e Índico não afetam apenas o clima da região. Ao longo da sua trajetória, a MJO interage com a circulação geral da atmosfera o que pode influenciar tudo, desde monções e El Niño-Oscilação Sul, a ciclones tropicais e outros eventos extremos, como ondas de calor e tempestades de neve nos Estados Unidos.

De acordo com este estudo, este crescimento do hotspot está ligado à alteração da precipitação nas estações inverno-primavera, em regiões de todo o planeta. As costas leste e oeste dos Estados Unidos, Equador, Pacífico central, bacia do Yangtze na China, norte da Índia e África oriental viram condições mais secas, enquanto a bacia amazônica, norte da Austrália, sudeste da Ásia e sudoeste da África presenciaram condições mais húmidas.

Os modelos climáticos apontam, ainda, para que os nossos oceanos continuem a aquecer e que seja possível vermos esses impactos na MJO e nos padrões globais de chuva, caso isto se intensifique no futuro.