Secretário da ONU visitará a Antártica para expor efeitos da crise climática

António Guterres viajará com o Presidente Gabriel Boric ao continente branco para “ver com os seus próprios olhos” o impacto que o aquecimento global tem tido nesta região.

Antártica
Durante este ano, foram registradas situações anormais na Antártica, como chuvas líquidas durante 12 horas no extremo norte da Península devido a um rio atmosférico, que juntamente com a precipitação favoreceu o derretimento do gelo.

“É importante demonstrar à comunidade internacional, falar sobre ciência e paz e como combater conjuntamente a crise climática, que é um dos desafios mais importantes que temos como humanidade”, comentou o Presidente Boric sobre a visita histórica de António Guterres ao Chile, o Secretário-geral das Nações Unidas (ONU).

Este encontro se deu apenas alguns dias após a publicação de um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA) que alerta que o mundo está no caminho para aquecer entre 2,5 e 2,9°C este século.

Este relatório mostra que, se nada mudar, em 2030 as emissões ultrapassarão em 22 gigatoneladas o limite de 1,5 graus Celsius - António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas.

Da imprensa presidencial foi noticiado que um dos objetivos desta viagem com a mais alta autoridade da ONU é destacar a liderança do Chile em matéria de investigação científica, proteção dos oceanos e luta contra as mudanças climáticas, tendo em vista a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28).

Antártica como polo de investigação científica

O itinerário das autoridades da região será alterado. Eles chegarão à Base Aérea Antártica “Presidente Frei”, onde ficarão até sábado, 25 de novembro.

Conforme detalhado pela presidência, Boric e Guterres viajarão no navio AP 41 Aquiles da Marinha do Chile, onde participarão de uma exposição do Instituto Antártico Chileno (INACH) sobre as mudanças climáticas e a gestão do Chile.

O passeio também inclui visitas ao Glaciar Collins, Ilha Kopaitic e Covadonga Rada, além de um passeio pelas dez bases que o Chile possui no continente Antártico.

Durante o último dia, deverão participar do lançamento de uma radiossonda com a qual serão medidas as variáveis meteorológicas registradas pela plataforma de investigação TARP-02 do Grupo de Investigação Antártica de Usach.

Quais são os efeitos das mudanças climáticas na Antártica?

No mês passado, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) publicou uma avaliação do clima global, a qual apresentou dados preocupantes.

Por exemplo, é mencionado que outubro foi o sexto mês consecutivo durante 2023 em que se registrou a menor extensão de gelo marinho já registrada, marcando assim um triste recorde para a extensão global de gelo marinho.

Outros estudos como o “Antarctic extreme events”, publicado recentemente na revista Frontiers in Environmental Science, mostram que eventos extremos em locais como a Antártica podem ocorrer na forma de uma “cascata”.

Um exemplo disso é o rio atmosférico registrado no ano passado, que provocou temperaturas recordes no centro da Antártica oriental. Como consequência, a superfície do gelo terrestre aqueceu, causando a ruptura do gelo marinho e o subsequente colapso da plataforma de gelo Congrio.

Esforços globais coordenados

Durante a sua visita a Santiago, Guterres foi recebido pelo Ministro das Relações Exteriores, Alberto van Klaveren, com quem discutiu os desafios da sua visita à Antártica e também divulgou iniciativas como a “Ambition Melting Ice”.

Antártica
A temperatura na Antártica aumentou 3ºC, o que significa que todas as plataformas que antes eram estáveis estão agora em perigo. Desde a década de 1950, isto representa uma perda de 25.000 km2 de plataforma de gelo.

Conhecida como “Amigos da Criosfera”, esta coligação liderada pelo Chile e pela Islândia – duas nações polares e montanhosas – procura coordenar ações para divulgar provas científicas sobre os graves impactos das mudanças climáticas nas regiões polares e glaciais de latitudes médias.

Antes da COP28, que se realizará em Dubai, esta visita é uma oportunidade que, segundo o Ministro van Klaveren, "permite avançar na protecção do nosso planeta".

Referência da notícia:
Siergert. J.M., Bentley J.M,. et all. Antarctic extreme events. Frontiers of Environmental Science (2023)