Secas e inundações são prolongadas pela ocorrência tripla do La Niña

O atual episódio de La Niña, iniciado em setembro de 2020, se estenderá pelos próximos seis meses, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). E quais os efeitos desse prolongamento? Veja aqui.

seca
Um episódio triplo de La Niña agravará a seca em setores como o Chifre da África, onde a subsistência de cerca de 18 milhões de pessoas está ameaçada, segundo a OMM.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) prevê que o atual episódio de La Niña, que ocorre de forma persistente e prolongada, se manterá até o final do inverno no Hemisfério Norte e do verão aqui no Hemisfério Sul, produzindo o primeiro episódio triplo do século.

“As condições características de um episódio de La Niña se instalaram no Pacífico tropical em setembro de 2020 e, exceto por breves interrupções, persistiram desde então, mas o efeito de resfriamento que esse fenômeno tem sobre as temperaturas globais foi apenas transitório e limitado”, afirmou o Secretário-Geral da OMM, professor Petteri Taalas.

Análises que reafirmam o possível episódio triplo

Com base em dados de modelos de previsão de todo o mundo, a probabilidade de que La Niña persista durante o período de dezembro de 2022 até fevereiro de 2023 é de, aproximadamente, 75%.

Após esse período, aumentaria para 55% a probabilidade de que condições neutras para o fenômeno se estabelecessem entre fevereiro e abril de 2023, aumentando para 70% entre março e maio.

Ao longo da história de ocorrências do fenômeno La Niña que se tem registros, desde o ano de 1950 ocorreram somente três episódios triplos.

Lembremos que La Niña produz um resfriamento em grande escala das águas superficiais do mar no centro e leste do Pacífico equatorial, que tem efeitos climáticos opostos aos que ocorrem sob os efeitos do El Niño, que é a fase quente do ENOS.

Prognóstico ENOS OMM
A probabilidade de que o fenômeno La Niña continue durante todo o verão do Hemisfério Sul é de 75%. Imagem: Organização Meteorológica Mundial.

E enquanto a La Niña é um fenômeno natural, hoje em condições de mudança climática, os eventos climáticos estão se intensificando a níveis extremos, alterando a distribuição da precipitação em escala global.

Projeção climática mundial

Apesar do persistente episódio de La Niña no Pacífico equatorial central e oriental, no resto do mundo as temperaturas da superfície do mar encontram-se acima da média, condicionando a previsão de temperaturas do ar para o período de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023.

O aquecimento geral das águas dos demais oceanos do planeta supera os efeitos do resfriamento do Pacífico equatorial, que caracteriza o fenômeno La Niña.

Isso resultaria em temperaturas acima do normal em áreas do Hemisfério Norte, exceto o noroeste da América do Norte, a costa ártica da Ásia, as regiões setentrionais da América Central, a parte leste do Continente Marítimo e a Nova Zelândia.

Quanto às previsões do comportamento da precipitação para os meses de dezembro a fevereiro de 2023, elas corresponderiam aos típicos efeitos da La Niña relacionados às chuvas.

Crise humanitária sob os efeitos do La Niña

“Este episódio persistente de La Niña está prolongando as condições que causam secas e inundações nas regiões afetadas. A comunidade internacional está especialmente preocupada com a catástrofe humanitária que castiga milhões de pessoas no Chifre da África como resultado da seca mais persistente e grave da história recente”, disse o professor Taalas.

Como consequência das precipitações escassas registradas durante o início da estação chuvosa de outubro a dezembro, a seca extrema continua.

Já existem mais de 20 milhões de pessoas com insegurança alimentar elevada no Quênia, Somália e Etiópia, cuja população corre o risco de passar fome até o final do ano.

Em relação aos efeitos do La Niña, “entre o sul da Califórnia e o centro-sul do Chile, estão associados à baixa pluviosidade e à seca. No entanto, seus efeitos vão muito além da bacia do Pacífico, podendo afetar também as chuvas no sul do Brasil e, nas anomalias do padrão de vento, podendo intensificar a temporada de furacões no Atlântico”, explicou Raúl Cordero, climatologista da Universidade de Santiago.

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“A OMM continuará fornecendo informações adaptadas ao setor humanitário e apoiará setores sensíveis, como agricultura, segurança alimentar, saúde e redução do risco de desastres”, explicou Taalas.

Da mesma forma, continuará a aplicar um plano de ação, com acesso a sistemas de alerta precoce para os próximos cinco anos contra perigos relacionados ao tempo, clima e água.