Ponto mais oriental do Brasil é arquipélago vulcânico isolado e estratégico no Atlântico Sul
Localizado a 1.200 km do continente, Trindade e Martim Vaz abriga as rochas mais jovens do país, biodiversidade rara e fortalece a soberania brasileira sobre uma vasta área oceânica.

Ao contrário do que dizem os livros escolares, o sol não nasce primeiro na Ponta do Seixas, na Paraíba. O ponto mais oriental do Brasil está muito mais longe: a mais de 1.200 km da costa, no remoto Arquipélago de Trindade e Martim Vaz. Com acesso restrito a militares e cientistas autorizados, o território é formado por um conjunto de ilhas vulcânicas que projetam a soberania brasileira sobre o Atlântico Sul.
Esse local inóspito e de beleza selvagem é muito mais que um marco geográfico. Trata-se de uma base estratégica de defesa nacional, um laboratório científico único e um reduto ecológico com espécies raras e endêmicas. Desde 1957, a Marinha do Brasil mantém presença constante na ilha principal, garantindo controle sobre a área e suporte à pesquisa científica.
Além de sua função simbólica e estratégica, o arquipélago serve como um pilar de conhecimento. Cientistas estudam ali desde formações geológicas até ecossistemas marinhos e terrestres únicos. A região, apesar de remota, tem papel central em debates sobre conservação, mudança climática e segurança oceânica.
Projeção geopolítica e defesa marítima
A designação de Martim Vaz como ponto mais a leste do Brasil não é mero detalhe. De acordo com a Convenção da ONU sobre o Direito do Mar, ilhas como essa permitem a expansão da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do país em até 200 milhas náuticas — cerca de 370 km. Isso significa, na prática, que um arquipélago de apenas 10,4 km² garante ao Brasil direitos sobre cerca de 450.000 km² de mar.
Essa imensa área faz parte da chamada “Amazônia Azul”, vital para a economia e segurança nacional. Por ela passam mais de 95% do comércio exterior brasileiro e é onde se localizam os principais campos de extração de petróleo do país. Assim, a presença em Trindade e Martim Vaz é decisiva para proteger recursos naturais e rotas de navegação essenciais.
A Marinha mantém o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), que atua em vigilância estratégica e apoio à pesquisa científica. O local também coleta dados meteorológicos e oceanográficos fundamentais para o monitoramento ambiental e climático da região.
Geologia jovem e biodiversidade impressionante
Trindade e Martim Vaz são a ponta visível da Cadeia Vitória-Trindade, uma cordilheira submarina de origem vulcânica. As ilhas abrigam as rochas mais jovens do Brasil, com apenas 50 mil anos, resultado da movimentação da placa tectônica sul-americana sobre um ponto quente do manto terrestre.
Na terra firme, destacam-se bosques de samambaias gigantes, a tartaruga-verde — monitorada pelo Projeto TAMAR —, e espécies raras como o caranguejo-amarelo e a pardela-de-trindade, uma ave marinha endêmica. A Ilha da Trindade é o maior ninhal da tartaruga-verde no Brasil.
Desafios ambientais no meio do oceano
Apesar do isolamento, o arquipélago enfrenta impactos ambientais graves. Cabras e porcos introduzidos no século XVIII devastaram parte da vegetação nativa. Hoje, projetos como o RETER-Trindade buscam reverter esse quadro, erradicando espécies invasoras e replantando flora nativa.
Outro fenômeno alarmante é a formação de “rochas plásticas” ou plastiglomerados: detritos plásticos derretem ao sol e se fundem com sedimentos naturais da praia, formando rochas artificiais. O paradoxo de encontrar essas “rochas” no local com as formações geológicas mais jovens do Brasil serve como alerta para o impacto global da poluição.
Trindade e Martim Vaz são, assim, mais que um posto avançado. Representam a interseção entre soberania, ciência e responsabilidade ambiental. Um território onde o Brasil afirma sua presença — e onde o mundo observa os efeitos da ação humana até nos pontos mais remotos do planeta.
Referências da notícia
Click Petróleo e Gás. O ponto mais oriental do Brasil é um arquipélago vulcânico a 1.200 km da costa, abriga as rochas mais jovens do país e tem acesso restrito a militares e cientistas autorizados pela Marinha. 2025