Petrobras avança com exploração de petróleo na Amazônia às vésperas da COP30 em Belém
No ano em que o Acordo de Paris completa dez anos e às vésperas do Brasil sediar a COP30, a Petrobrás anunciou que obteve aval para perfurar a foz do Rio Amazonas, na floresta Amazônica.

Às vésperas de sediar 30ª Conferência das Partes da ONU sobre o Clima (COP30), o Brasil envia um sinal contraditório ao mundo. O aval do Ibama para que a Petrobras perfure um poço exploratório na Foz do Rio Amazonas mostra insistência em apostar no passado, justamente quando a ciência e os acordos internacionais apontam para a necessidade urgente de zerar combustíveis fósseis.
Celebrada pelo governo como avanço da “soberania energética” e anunciada segunda-feira (20), a decisão ignora o contexto climático e ambiental, que deveria orientar as escolhas estratégicas de transição energética sustentável em um país que se apresenta como liderança verde global.
Amazônia: a maior floresta tropical do mundo
Com 60% do território no Brasil, a Amazônia é patrimônio global, vital para estabilidade climática, biodiversidade e sobrevivência cultural de milhões de pessoas. Destaques importantes deste “oceano verde”:
- Biodiversidade única: a Amazônia abriga cerca de 10% (1 em cada 10) de todas as espécies conhecidas do planeta, muitas delas encontradas somente nessa floresta;
- Armazena enormes quantidades de carbono, e ajuda a regular padrões de chuva na América do Sul e influencia o clima global;
- Aproximadamente 30 milhões de pessoas vivem na Amazônia, incluindo milhões de indígenas e tribos em isolamento voluntário, que preservam tradições ancestrais.

Esses fatores tornam a Amazônia um elo essencial para o equilíbrio ambiental e climático do planeta, tornando qualquer ameaça à sua integridade uma preocupação global urgente.
Quais são os principais riscos?
Embora o aval inicial seja para perfuração e pesquisa, este é o primeiro passo para a extração de petróleo na Amazônia, cujo risco potencial envolve:
- Poluição e desmatamento associado à infraestrutura do petróleo (estradas, oleodutos, instalações, etc);
- Risco de vazamentos e derramamentos, com contaminação de água doce e estuários (impacto direto na biodiversidade e comunidades ribeirinhas e indígenas);
- Alterações no clima local, continental e global (reciclagem de umidade, rios atmosféricos, transporte de umidade para outras regiões);
- Risco de desastre ambiental em grande escala, com impactos potencialmente irreversíveis, como a extinção de parte da biodiversidade e risco às vidas humanas.
Além de todos estes motivos importantes, também há um efeito cascata sobre a economia, saúde, disponibilidade de alimentos e gastos públicos.
Decisão vai na contramão da ciência
Cada novo projeto de exploração de petróleo representa mais carbono liberado na atmosfera, o principal combustível da crise climática. Estima-se que o petróleo da Foz do Amazonas, se extraído e queimado, emitiria milhões de toneladas de CO₂, ampliando o aquecimento global e dificultando o cumprimento das metas do Acordo de Paris.

A COP30 marca 10 anos do Acordo de Paris, assinado em 2015 por quase todos os países do mundo. Ele tem como principal meta limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, preferencialmente abaixo de 1,5 °C até 2100.
Segundo o Monitor Tendência de Temperatura Global, desenvolvido pelo Copernicus em 2021, o Serviço Europeu de Mudanças Climáticas, de acordo com o ritmo atual de aquecimento, o limiar de 1,5°C será ultrapassado permanentemente em 2029 - cinco anos antes da estimativa inicial de 2034.

Se alcançarmos este limiar antes de 2050, significa que estamos nos encaminhando para os piores cenários que as projeções climáticas vêm mostrando para o final do século.
Ultrapassar este limite nos aproxima do chamado “ponto de não retorno”, quando as mudanças no clima se tornam tão grandes que não podem mais ser revertidas, como o colapso de calotas polares ou a morte em larga escala de florestas tropicais.
Oportunidade perdida às portas da COP30
Ironicamente, às vésperas da COP30 em Belém do Pará (PA), o coração da floresta amazônica, iniciar uma nova frente de exploração petrolífera justamente na Amazônia, expõe uma profunda contradição entre o discurso de líder ambiental, além de comprometer acordos globais pelo clima.
Espera-se que o Brasil apresente compromissos sólidos e coerentes com a urgência climática, e não decisões que fragilizam sua credibilidade e decisões que perpetuam a dependência de combustíveis fósseis.

Em vez de abrir novas fronteiras petrolíferas em um dos ecossistemas mais valiosos do planeta, o país poderia reafirmar seu protagonismo investindo em energias renováveis, inovação e proteção da Amazônia, pilares indispensáveis para alcançar a neutralidade de emissões até 2050, previstas no Acordo de Paris.
Referências da notícia
Liberação para furar foz do Amazonas na véspera da COP30 é começo de corrida por petróleo, publicado em 20 de outubro de 2025 por Agência Pública.
Copernicus: New app monitoring 1.5°C temperature target shows vast scope of free climate data for developers to adapt and use, publicado em 17 de março de 2021 por
C3S global temperature trend monitor, mantido por Copernicus.
IPCC relata que as mudanças climáticas são reais – Conheça as principais conclusões do relatório, publicado em 11 de Agosto 2021 por Jornal da USP.