Pesquisa da UnB conduzida por cientistas brasileiros revela potencial do veneno de vespa contra Alzheimer

O Alzheimer, que afeta mais de 1,2 milhão de brasileiros, pode ter seu avanço retardado por uma substância descoberta no veneno da vespa Polybia occidentalis.

A vespa social Polybia occidentalis foi a base da descoberta de cientistas da UnB
A vespa social Polybia occidentalis foi a base da descoberta de cientistas da UnB. Foto: Biodiversity4all/ gernotkunz

O Alzheimer é uma das doenças neurodegenerativas mais desafiadoras da atualidade. Estima-se que mais de 1,2 milhão de brasileiros convivam com a condição, que compromete progressivamente a memória, a cognição e a autonomia. Sem cura até o momento, os tratamentos existentes apenas retardam a evolução dos sintomas, mas ainda não impedem a degeneração cerebral.

Em meio a esse cenário, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) oferece uma nova perspectiva. A equipe descobriu que uma substância presente no veneno da vespa social Polybia occidentalis pode atuar contra o Alzheimer. Os primeiros resultados, obtidos em testes com animais, demonstraram melhora em déficits cognitivos.

Equipe de pesquisadores coordenada pela professora Luana Cristina Camargo.
Equipe de pesquisadores coordenada pela professora Luana Cristina Camargo. Foto: Reprodução/ FAPDF

Além de revelar o potencial terapêutico dessa peçonha, a pesquisa reúne especialistas de diferentes áreas do conhecimento e mostra como a ciência brasileira pode desempenhar um papel central no desenvolvimento de soluções inovadoras para problemas de saúde global.

O poder da peçonha e os primeiros resultados

Pesquisadores do Instituto de Psicologia da UnB identificaram que a Polybia occidentalis possui um peptídeo chamado octo vespina. Após ser modificado em laboratório, ele demonstrou capacidade de agir contra a beta-amiloide, proteína diretamente associada ao desenvolvimento do Alzheimer.

Segundo a coordenadora do projeto, Luana Cristina Camargo, o trabalho é fruto de mais de duas décadas de estudos sobre a ação da peçonha em doenças do sistema nervoso. “Agora conseguimos adaptá-la para enfrentar diretamente o Alzheimer”, afirmou a pesquisadora.

A iniciativa conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e integra especialistas de diferentes áreas, como farmácia, física, neurofarmacologia e nanotecnologia. O objetivo é transformar a descoberta em um tratamento acessível, seguro e com potencial de uso clínico.

Caminho até o medicamento

Um dos maiores desafios enfrentados pelo grupo é garantir que o composto chegue de forma eficaz ao cérebro. Entre as alternativas estudadas, a aplicação intranasal tem ganhado destaque por ser menos invasiva e mais prática para pacientes. Apesar dos resultados animadores, a equipe lembra que o percurso até a disponibilização do medicamento é longo.

É preciso avançar em infraestrutura, equipamentos e recursos financeiros para viabilizar as próximas etapas. Isso inclui ensaios clínicos, análises regulatórias e aprovação da Anvisa. “Nosso sonho é que essa substância chegue de fato ao mercado, trazendo esperança às famílias que convivem com essa doença tão difícil”, declarou Luana.

Sintomas e cuidados que fazem diferença

Muitos sinais do Alzheimer podem ser confundidos com o processo natural de envelhecimento. Os indícios mais comuns incluem:

  • Perda de memória progressiva;
  • Dificuldade em realizar tarefas cotidianas, como cozinhar ou cuidar das finanças;
  • Problemas para planejar ou organizar atividades;
  • Desorientação no tempo e no espaço;
  • Dificuldades de linguagem, como esquecer palavras ou usar termos inadequados.

Identificar esses sintomas logo no início e buscar avaliação médica é essencial para que o tratamento seja iniciado o quanto antes.

Embora não exista cura, há alternativas que ajudam a retardar a evolução da doença, como os anticolinesterásicos, que melhoram a memória e a cognição. Além disso, terapias complementares são fundamentais: fisioterapia, exercícios físicos, acompanhamento psicológico e estimulação cognitiva.

Referências da notícia

Gabriela Pereira. Nova pesquisa transforma substância de vespa em possível aliada contra o Alzheimer. 14 de agosto, 2025.