Organização Meteorológica Mundial adverte: ondas de calor pioram a qualidade e poluição do ar

Não é apenas um aumento nas temperaturas que as ondas de calor provocam… um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (WMO) alerta para outros efeitos negativos desses eventos. Saiba mais aqui!

onda de calor, poluição do ar
Ondas de calor também geram um impacto negativo na poluição e qualidade do ar.

Muito se fala sobre as mudanças climáticas, não é mesmo? Pois é, e já se sabe que elas estão aumentando a intensidade e a frequência de ondas de calor no mundo todo. Em julho deste ano, por exemplo, chamou a atenção a ocorrência de várias ondas de calor extremas no Hemisfério Norte, como noticiamos aqui na Meteored. Inclusive, um estudo da World Weather Attribution (WWA) afirmou que “tais ondas de calor não seriam possíveis sem a mudança climática”.

Uma onda de calor corresponde a um período de vários dias consecutivos com temperaturas máximas acima da média climatológica em certa localidade.

Agora, um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (WMO) sobre Qualidade do Ar e Clima, publicado neste mês, traz um destaque para outro efeito nocivo das ondas de calor, que não só o aumento das temperaturas. Elas impactam também a qualidade e a poluição do ar.

Ondas de calor e poluição do ar

O calor extremo gerado pelas ondas de calor está deixando um impacto significativo na qualidade do ar, na saúde humana e no ambiente. Normalmente, a preocupação surge apenas com o risco das temperaturas elevadas, mas, como o relatório destaca, há também os impactos da poluição resultante, que são frequentemente ignorados, mas igualmente prejudiciais.

O relatório mostra que as ondas de calor que desencadearam incêndios florestais no noroeste dos Estados Unidos e as acompanhadas por incursões de poeira do deserto na Europa resultaram em uma qualidade do ar perigosa no ano passado. “As ondas de calor pioram a qualidade do ar, com repercussões na saúde humana, nos ecossistemas, na agricultura e na nossa vida quotidiana”, disse Petteri Taalas, Secretário-Geral da WMO. “As mudanças climáticas e a qualidade do ar não podem ser tratadas separadamente. Elas andam de mãos dadas e devem ser enfrentadas em conjunto para quebrar esse ciclo vicioso”, acrescentou ele.

formação do ozônio troposférico
O ozônio troposférico (O3) é formado a partir de reações fotoquímicas (reações químicas à luz solar) de NOx (óxidos de nitrogênio) e VOCs (compostos orgânicos voláteis) (imagem à esquerda). Condições quentes de onda de calor (imagem à direita) levam ao acúmulo de poluentes, a reações fotoquímicas mais rápidas e ao aumento da produção de O3. Fonte: WMO Air Quality and Climate Bulletin 3.

Vale destacar aqui que esse relatório se refere a 2022, e o que estamos vivenciando nesse ano de 2023 é mais extremo. Julho foi o mês mais quente já registrado, com ondas de calor intensas em várias partes do Hemisfério Norte, como já citado aqui. Então, neste ano de 2023 as coisas podem ser bem piores.

Lorenzo Labrador, responsável científico da WMO no sistema Global Atmosphere Watch explica: “Ondas de calor e incêndios florestais estão intimamente ligados. A fumaça contém uma mistura de produtos químicos que afeta não apenas a qualidade do ar e a saúde, mas também danifica plantas, ecossistemas e colheitas, e leva a mais emissões de carbono e, portanto, a mais gases de efeito estufa na atmosfera”.

Ou seja, as ondas de calor e as condições de seca são propícias a incêndios florestais que, uma vez iniciados, crescem rapidamente à medida que encontram vegetação seca, um ‘combustível’ fácil. Essas situações levam a um aumento nas emissões de aerossóis para a atmosfera.

Alguns exemplos de eventos em 2022

O verão do ano passado foi o mais quente já registrado na Europa (junho-julho-agosto). As longas ondas de calor levaram a um aumento nas concentrações de matéria particulada (PM) e de ozônio troposférico sobre o continente. Vários locais no sudeste, centro e nordeste da Europa excederam o limite recomendado de ozônio da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 100 μg/m³ para uma exposição de 8 horas. Para piorar a situação das altas temperaturas, houve uma grande intrusão de poeira do deserto sobre o Mediterrâneo e a Europa, que levou ao aumento do teor de PM na atmosfera. Isso tudo afetou a saúde e o bem-estar das pessoas.

Também, uma persistente onda de calor em setembro foi associada com níveis anormalmente elevados de queima de biomassa em todo o noroeste dos Estados Unidos, levando a uma qualidade do ar pouco saudável em grande parte da região.

concentração de ozônio na Europa
Concentração de ozônio (O3) e anomalias de temperatura do ar (ºC) em locais urbanos na Europa entre 10 e 21 de julho de 2022. Repare que com o aumento das temperaturas (tons vermelhos ao fundo) há um aumento na concentração de O3 acima das diretrizes da OMS (bolinhas vermelhas). Fonte: WMO Air Quality and Climate Bulletin 3.

E descobriu-se que os incêndios contribuem com grandes proporções de deposição de nitrogênio em ecossistemas naturais, muitas vezes excedendo os limites de carga crítica e impactando negativamente a biodiversidade, a água potável e até a qualidade do ar através de emissões que levam a mais poluição atmosférica.

E as más notícias não param por aí: vários estudos mostram que as mudanças climáticas estão aumentando a frequência e a intensidade das ondas de calor e esta tendência deve continuar no futuro. O consenso científico é de que esses eventos aumentarão o risco e a gravidade dos incêndios florestais.