O recente caso de cólera no Brasil representa um risco para a saúde pública?

O caso, considerado autóctone, foi identificado na Bahia. O Brasil estava há 18 anos sem registro de casos autóctones. A cólera é uma doença bacteriana, transmitida pela via oral-fecal e a partir de alimentos e água contaminadas, e pode ser grave.

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O caso detectado na Bahia é autóctone. País estava sem identificar casos autóctones há 18 anos. Doença é relacionada com saneamento básico e higiene.

Recentemente, um caso de cólera foi detectado em Salvador, Bahia, conforme informado pelo Ministério da Saúde. O paciente é um homem de 60 anos que não tem histórico de viagens para localidades com alta circulação da doença.

O caso

Segundo dados oficiais, a detecção da cólera foi feita laboratorialmente, e foi considerado um caso autóctone, uma vez que o paciente também relata não ter tido contato com caso suspeito ou confirmado da doença.

Caso autóctone são casos de uma doença que se originam no local onde o paciente vive

O paciente apresentou um desconforto abdominal e diarreia aquosa em março de 2024, relatando que, na semana anterior, fez tratamento com antibioticoterapia para outra doença. O caso é considerado isolado até o presente momento, não tendo confirmação de novos casos após investigação e "o paciente não transmite mais o agente etiológico desde o dia 10/04/2024", segundo a Nota Técnica.

Cólera

A cólera é uma doença causada por uma bactéria (no caso do paciente de Salvador, a Vibrio cholerae O1 Ogawa (toxigênico). A bactéria pode produzir uma toxina que modifica o funcionamento adequado do intestino, fazendo com que o corpo perca grandes quantidades de água, podendo causar diarreias intensas, desidratação e perda de fluidos e sais minerais.

A principal via de transmissão é a via oral-fecal, pela ingestão de alimentos ou água contaminados com a bactéria, ou pela contaminação entre pessoas. É preciso tomar cuidado no preparo de alimentos como frutos do mar, especialmente se consumidos crus.

Os principais fatores de risco associados a casos de cólera são condições precárias de saneamento básico e de higiene pessoal, além do consumo de alimentos sem a correta higienização e manipulação.

A doença pode evoluir para complicações, ocorrendo em pessoas com maior vulnerabilidade, como idosos, diabéticos, imunossuprimidos, entre outros, podendo levar a " deterioração progressiva da circulação, da função renal e do equilíbrio de água e minerais no corpo, causando dano a todos os sistemas do organismo".

Mudanças Climáticas

Apesar de o caso isolado, atualmente, não representar um risco sanitário, existe uma crescente preocupação sobre o impacto das mudanças climáticas sobre diversas doenças - e a cólera está inclusa.

As mudanças climáticas podem agravar vulnerabilidades pré-existentes em regiões de maior pobreza e conflito, por exemplo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), "eventos climáticos extremos, como inundações, ciclones e secas, reduzem o acesso à água potável e criam um ambiente ideal para o desenvolvimento da cólera".


Em 2022, 44 países notificaram casos de cólera, um aumento de 25% em relação aos 35 países que notificaram casos em 2021, segundo a Organização

Recentemente, a República Democrática do Congo e grande parte do sul da África vivenciaram inundações, causando o pior surto de cólera em três anos e "o clima adverso aumenta o risco dessa doença mais rapidamente do que no resto do mundo", segundo reportagem da Folha de São Paulo.

Vacinação

Atualmente, existem vacinas contra a cólera, mas são indicadas apenas para "áreas endêmicas para a doença, populações em situação de crise humanitária com alto risco para cólera ou durante surtos de cólera, sempre em conjunto com outras estratégias de prevenção e controle", segundo o Ministério da Saúde.

Recentemente, a OMS pré-qualificou uma vacina oral contra a cólera (Euvichol-S), utilizando a toxina inativada (ou seja, sem capacidade de gerar a doença no organismo). Sua formulação simples, somado a aplicação em dose única, pode facilitar a produção e adesão populacional.