O IPCC divulga pela primeira vez os impactos climáticos sobre as montanhas

Ao longo dos anos, as descobertas do IPCC revelaram que as mudanças climáticas induzidas pelo homem causaram perturbações generalizadas na natureza e afetaram a vida de bilhões de pessoas. Porém, a importância das regiões montanhosas foi negligenciada por muito tempo nas avaliações globais.

Impacto das mudanças climáticas nas regiões montanhosas
Toda vida no planeta Terra é vulnerável a um clima em mudança.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem o objetivo de auxiliar o desenvolvimento de políticas climáticas por meio de relatórios de avaliações abrangentes sobre o estado do conhecimento científico, técnico e socioeconômico sobre as mudanças climáticas, seus impactos e riscos futuros. Atualmente o IPCC está trabalhando no sexto relatório (AR6), que consiste em contribuições de três grupos de pesquisa (WG):

  1. a base da ciência física;
  2. impactos, adaptação e vulnerabilidade;
  3. mitigação das mudanças climáticas.

As montanhas cobrem aproximadamente um quarto da superfície terrestre do planeta Terra e abriga cerca de 1.3 bilhão de pessoas, ressaltando a importância dessas regiões. Portanto, na versão final do AR6 WGII publicado em agosto de 2022, existe um capítulo só sobre ‘montanhas’. Nele são avaliados os riscos e impactos, vulnerabilidade, opções de adaptação e desenvolvimento resiliente ao clima nas regiões montanhosas nos cenários de mudanças climáticas.

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O capítulo contou com esforços de oito autores principais, o cientista do capítulo e o apoio de muitos autores contribuintes de toda comunidade científica sobre ‘montanhas’ ao redor do mundo. Em quase 30 anos de história do IPCC, este artigo é o primeiro a apresentar detalhes mais específicos sobre os impactos, desafios, oportunidades e soluções para adaptação às mudanças climáticas nas regiões montanhosas.

As montanhas oferecem um contexto específico para observar fenômenos complexos e dinâmicos de mudanças globais, como as mudanças climáticas, manifestando-se de forma rápida e tangível - disse a Dra. Carolina Adler, diretora executiva da Mountain Research Initiative e co-líder deste capítulo.

Essa avaliação constatou que nas últimas décadas os impactos das mudanças climáticas nas regiões montanhosas aumentaram, gerando consequências negativas para a população e o ecossistema como um todo, enfatizando a necessidade urgente de ações adaptativas.

É possível detectar que a agricultura, criosfera, ecossistema aquáticos e terrestres, infraestrutura, migração, produção de energia, recursos hídricos, turismo, saúde e bem-estar estão sendo afetados pelos desastres provocados pelas mudanças climáticas. Além disso, o documento destaca as principais áreas de pesquisa necessárias para abordar importantes lacunas de conhecimento acerca da comunidade científica de ‘montanhas’.

Principais destaques do novo capítulo do IPCC AR6:

As mudanças observadas incluem aumento do número e tamanho dos lagos glaciares, mudanças nos padrões sazonais, redução na cobertura de neve e temperaturas crescentes. Como consequência do aumento acima de 1.5°C das temperaturas na maioria das regiões montanhosas, a distribuição espacial de muitas espécies de plantas migraram para altitudes mais altas. Até 84% das espécies endêmicas de montanha estão em risco de extinção. As mudanças observadas na sazonalidade estão afetando negativamente as atividades relacionadas ao turismo.

Perigos como inundações repentinas e deslizamentos de terra, bem como alterações no ciclo da água, contribuíram para um aumento de desastres que afetam um número crescente de pessoas, além de interferir na infraestrutura e economia das regiões montanhosas. A adaptação em áreas montanhosas é restrita, predominantemente, às condições sociais e econômicas; processo que tem como consequência a pobreza, marginalização e dinâmicas de gênero desiguais.

Salvar a natureza é fundamental para garantir um futuro habitável.

O novo capítulo sobre ‘montanhas’ evidencia a necessidade de ações rápidas de adaptação aos cenários de mudanças climáticas, pois, o ritmo atual é insuficiente para lidar com os riscos futuros nas regiões montanhosas.