Nobel de Medicina 2025 premia cientistas que descobriram “células guardiãs” do sistema imunológico

A descoberta feita por três cientistas mostrou como o corpo humano evita atacar a si mesmo, um mecanismo chamado de tolerância imunológica periférica, e abriu caminho para novos tratamentos contra o câncer.

Desenho dos cientistas que ganharam o Prêmio Nobel de Medicina 2025: à esquerda: Mary E. Brunkow; no centro: Fred Ramsdell; e à direita: Shimon Sakaguchi. Crédito: Niklas Elmehed.

O Prêmio Nobel de Medicina de 2025, também conhecido como Nobel de Fisiologia, foi concedido a um trio de pesquisadores: Shimon Sakaguchi, da Universidade de Osaka, Mary E. Brunkow, do Institute For Systems Biology, e Frederick Ramsdell.

O Nobel 2025 de Medicina vai para a descoberta de um mecanismo essencial do corpo humano que impede o sistema imunológico de atacar os próprios tecidos do corpo, distinguindo os saudáveis dos "não-saudáveis".

Os cientistas foram laureados por sua descoberta da tolerância imunológica periférica, um mecanismo do corpo responsável por manter o equilíbrio do sistema imunológico. Essa descoberta transformou o conhecimento sobre o funcionamento do sistema imunológico e abriu novos caminhos para tratamentos contra doenças autoimunes e câncer.

Prêmio Nobel de Medicina 2025

Os Prêmios Nobel foram criados por Alfred Nobel, o inventor sueco da dinamite e um rico empresário, que determinou em testamento que a maior parte de seu patrimônio fosse usada para financiar "prêmios para aqueles que, durante o ano anterior, conferiram o maior benefício à humanidade". Os prêmios são concedidos desde 1901 por contribuições extraordinárias em ciência, literatura e paz. Os vencedores são selecionados por comitês de especialistas de várias instituições, e é uma das tradições mais prestigiadas do mundo.

O prêmio deste ano na área da Medicina foi anunciado nesta segunda-feira (6). O trio vencedor foi selecionado pela Assembleia Nobel da Universidade Médica do Instituto Karolinska, na Suécia, e receberá um prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,2 milhão), além de uma medalha de ouro concedida pelo rei da Suécia.

“Suas descobertas lançaram as bases para um novo campo de pesquisa e estimularam o desenvolvimento de novos tratamentos, por exemplo, para câncer e doenças autoimunes” - afirmou o Comitê Nobel em um comunicado nesta segunda-feira.

O trabalho dos cientistas ajudou a revelar como o organismo mantém o equilíbrio entre atacar invasores, como vírus e bactérias, e preservar células saudáveis, um mecanismo chamado ' tolerância imunológica periférica'.

Shimon Sakaguchi descobriu, em 1995, as chamadas células T reguladoras (Tregs), que atuam como “células guardiãs” do nosso sistema imunológico, impedindo que linfócitos ataquem órgãos e tecidos saudáveis. Ou seja, elas funcionam como um “freio” que mantém células perigosas sob controle, prevenindo ataques ao próprio corpo.

A tolerância imunológica periférica é um mecanismo do corpo responsável por manter o equilíbrio do sistema imunológico.

Aí, Mary Brunkow e Fred Ramsdell em 2001 complementaram essa descoberta ao identificar o gene FOXP3, essencial para o desenvolvimento e funcionamento das Tregs. A mutação nesse gene em humanos está associada a doenças autoimunes raras e graves, como a síndrome IPEX (doença ligada ao cromossomo X na qual meninos afetados desenvolvem autoimunidade grave que pode atingir qualquer órgão).

"Ele [Sakaguchi] mostrou que o sistema imunológico é mais complexo do que se imaginava e identificou uma classe inédita de células imunes que protegem o corpo de doenças autoimunes", acrescentou o Comitê Nobel em comunicado.

Essas descobertas abriram caminho para novas terapias, explicando como o corpo distingue o “eu” do “invasor” e como restaurar esse equilíbrio quando ele se perde. Pesquisas atuais já investigam como estimular as Tregs para tratar enfermidades como diabetes tipo 1, lúpus e esclerose múltipla, além de outras linhas de pesquisa.

Sobre os cientistas ganhadores

Mary E. Brunkow é americana, nascida em 1961. Na época da descoberta, era afiliada ao Institute for Systems Biology (ISB), em Seattle, Washington (EUA). Ela tem doutorado pela Universidade de Princeton e atualmente é gerente de programas no mesmo Instituto.

Fred Ramsdell, também americano, nasceu em 1960. Tornou-se doutor em 1987 pela Universidade da Califórnia (UCLA), e na época da sua descoberta trabalhava na Sonoma Biotherapeutics, em São Francisco, Califórnia (EUA), onde continua até hoje como consultor científico.

Shimon Sakaguchi é japonês, nascido em 1951. Formou-se em Medicina e fez doutorado na Universidade de Kyoto, no Japão. Na época da sua descoberta, era afiliado à Universidade de Osaka, em Suita, no Japão, onde continua até hoje como professor emérito do Immunology Frontier Research Center.

Referências da notícia

Nobel de Medicina premia cientistas que descobriram “células guardiãs”. 06 de outubro, 2025. Reuters.

Nobel de Medicina 2025 premia descoberta da tolerância imunológica e seu papel em doenças autoimunes. 06 de outubro, 2025. Victória Ribeiro.

Nobel de Medicina 2025: veja o perfil dos vencedores Mary E. Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi. 06 de outubro, 2025. Redação G1.