Como o crescimento dos carros elétricos afeta o mercado brasileiro de fertilizantes

Em meio à crescente pressão em escala mundial, o fosfato tornou‑se recurso estratégico para garantir a produtividade agrícola e abastecer baterias LFP de veículos elétricos, intensificando a competição por reservas minerais e desafiando cadeias de suprimento globais.

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Baterias LFP de veículos elétricos utilizam fosfato como componente-chave no armazenamento de energia.

O fosfato é um nutriente fundamental para a produção agrícola em todo o mundo, garantindo o desenvolvimento saudável das plantas e a alta produtividade das safras. Ao mesmo tempo, esse mesmo mineral tem ganhado destaque como componente essencial em baterias LFP, usadas em veículos elétricos por sua capacidade de oferecer maior durabilidade, segurança térmica e menor custo, sem depender de cobalto ou manganês.

Com essa demanda dupla, o fosfato tornou‑se um recurso cada vez mais disputado, pressionando produtores, indústrias e governantes a buscar soluções para equilibrar excesso de procura e limitações na oferta.

Seja na fertilização de lavouras ou no avanço da mobilidade elétrica, a gestão de reservas e a diversificação de fontes de suprimento passaram a ser prioridades estratégicas.

A demanda agrícola

O uso do fosfato nos fertilizantes, especialmente na forma de DAP, é indispensável para a nutrição de plantas de grãos, hortaliças e demais culturas. Esse insumo melhora a eficiência da fotossíntese, favorece o enraizamento e aumenta a resistência a pragas, contribuindo de forma decisiva para a segurança alimentar global.

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O DAP, forma de fosfato diamônico, é fundamental para melhorar a fotossíntese, fortalecer o enraizamento e aumentar a resistência das culturas.

No Brasil, a dependência de importações chega a cerca de 70 % do fosfato consumido, tornando o setor agrícola sensível a variações cambiais, políticas de exportação de grandes fornecedores e oscilações nos preços internacionais.

Em 2024, o Brasil adquiriu quase 9 milhões de toneladas de fertilizantes fosfatados, o que representa uma fatia significativa dos custos de produção de grãos e frutas.

A elevação do dólar ou restrições de embarque em países como China e Marrocos pode elevar os custos do DAP, pressionar a margem de lucro dos produtores e até influenciar os preços finais dos alimentos nas prateleiras.

Por isso, cooperativas e associações agrícolas têm buscado acordos de longo prazo com fornecedores alternativos e apoiado pesquisas em fontes locais de fósforo, como subprodutos de mineração ou resíduos orgânicos transformados em biofertilizantes.

O crescimento das baterias LFP

As baterias de lítio ferro fosfato ganharam mercado por dispensarem minerais críticos, terem maior estabilidade em altas temperaturas e oferecerem ciclo de vida mais longo, características valorizadas em aplicações urbanas e em sistemas de armazenamento estacionário. Montadoras de renome mundial, especialmente na Ásia, adotaram as LFP como opção padrão em modelos de entrada, contribuindo para um crescimento intenso desse segmento.

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As baterias LFP ganham cada vez mais espaço na mobilidade elétrica por combinar durabilidade, segurança térmica e eficiência energética.

Hoje, as baterias LFP representam cerca de 39 % do mercado global de baterias para veículos elétricos, percentual que pode subir ainda mais nos próximos anos em função de metas de redução de custos e regulamentações ambientais. Cada unidade de 180 kg requer até 7 kg de fosfato, o que traduz a alta intensidade de consumo desse mineral no setor automotivo.

Confira alguns dados que ilustram essa realidade:

  • Consumo médio de fosfato por bateria LFP: 6 a 7 kg
  • Participação de mercado das LFP em 2022: 34 %
  • Projeção para 2024: 39 % do total de baterias EV
  • Investimentos anunciados em fábricas de LFP nos EUA: mais de 11 bilhões de dólares

Além do volume de matéria‑prima, a indústria de baterias tem buscado contratos de fornecimento de longo prazo e parcerias com empresas de mineração, a fim de garantir suprimento estável e previsível. Essa estratégia reduz riscos diante de flutuações de preço e, ao mesmo tempo, fortalece a cadeia de valor das montadoras.

Tensões e desafios no Brasil

Para proteger o abastecimento interno, grandes exportadores de fosfato aplicaram restrições e cotas de exportação, priorizando o uso agrícola antes de enviar volumes ao mercado internacional. Essa medida elevou os preços de referência e levou investidores a procurar depósitos em regiões como Norte da África e Oriente Médio, onde se iniciam novos projetos de mineração e refino.

O fosfato ocupa hoje uma posição estratégica, pois alimenta o campo e impulsiona a transição para energia limpa. Equilibrar esses usos dependerá de políticas públicas eficientes, de investimentos em tecnologias de reciclagem e de uma visão integrada que considere tanto a produção de alimentos quanto o futuro da mobilidade elétrica.

Referências da notícia

Lithium iron phosphate (LFP) batteries accounted for a 34 percent share of the global electric vehicle battery market in 2022; forecast to increase to 39 percent by 2024. 14 de outubro, 2024. Statista Research Department

Concerns about global phosphorus demand for lithium‑iron‑phosphate batteries in the light electric vehicle sector. 6 de abril, 2022. Spears, B. M., et al.