Doce amargo: relatório da CONAB expõe impactos climáticos na safra de cana 2024/25

O novo relatório da Conab aponta queda na safra de cana-de-açúcar 2024/25. Clima extremo, queimadas e seca reduziram a produtividade, impactando diretamente a produção de açúcar e etanol em diversas regiões do país.

Cana-de-açúcar, safra
Relatório da Conab aponta retração na safra 2024/25 por causa das condições climáticas adversas.

O Brasil, líder mundial na produção de açúcar e um dos maiores produtores globais de etanol, enfrenta um cenário preocupante na safra 2024/25. O recente levantamento divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica uma redução expressiva na produção de cana-de-açúcar devido às condições climáticas adversas registradas principalmente na região Centro-Sul, que responde por mais de 90% da produção nacional.

Essa queda gera preocupação em toda a cadeia produtiva e pode influenciar diretamente os preços do açúcar e do etanol, tanto no mercado doméstico quanto no internacional.

Segundo o quarto levantamento da safra brasileira divulgado pela Conab, são esperados cerca de 677 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, representando uma redução de 5,1% em relação à safra anterior. A produtividade média também caiu significativamente (9,8%), sendo estimada em 77.223 kg por hectare. As universidades e centros de pesquisa agrícola brasileiros destacam que a redução é consequência direta da combinação entre chuvas abaixo da média, altas temperaturas e queimadas frequentes, elementos que, juntos, causaram sérios prejuízos às lavouras.

O impacto climático e suas consequências diretas

Na região Centro-Sul, onde São Paulo lidera como maior produtor, as condições climáticas adversas foram especialmente prejudiciais. As altas temperaturas combinadas à falta de chuvas regulares durante fases críticas do crescimento da planta resultaram em um ambiente pouco propício para a cana-de-açúcar atingir seu potencial produtivo. A ocorrência de incêndios em diversas áreas agrícolas agravou ainda mais a situação, destruindo plantações inteiras e contribuindo diretamente para a queda na produtividade.

Safra, redução
Safra de cana-de-açúcar sofre impactos da seca e do calor extremo, segundo novo levantamento nacional.

Por outro lado, estados como Goiás e Minas Gerais conseguiram amenizar parte das perdas graças ao retorno de chuvas mais regulares no final do ciclo produtivo, o que permitiu recuperar parcialmente a produtividade. Em Mato Grosso do Sul, a seca prolongada impactou severamente os canaviais, embora o retorno das chuvas tenha ajudado a recuperar grande parte das áreas cultivadas na fase final da safra.

Etanol e açúcar: mudanças no cenário produtivo

Com a redução geral da matéria-prima, a indústria precisou rever o planejamento estratégico para a produção de açúcar e etanol. Apesar da diminuição da produção de cana, o açúcar segue com prioridade nas usinas devido à valorização no mercado internacional, impulsionando os produtores a focar mais neste produto em detrimento do biocombustível.

Assim, mesmo com menos cana disponível, o Brasil conseguiu manter uma produção significativa, alcançando mais de 44 milhões de toneladas de açúcar.

Em relação ao etanol, o cenário é de retração. Houve uma diminuição expressiva na produção de etanol anidro, muito utilizado na mistura obrigatória da gasolina no Brasil. Apesar disso, a produção do etanol à base de milho ganhou destaque, contribuindo para compensar parcialmente as perdas e reforçando a diversificação da matriz energética brasileira.

Perspectivas para o mercado brasileiro e desafios futuros

Diante deste panorama desafiador, algumas questões ganham relevância sobre o futuro da produção nacional:

  • A necessidade urgente de investimentos em tecnologias mais resistentes ao clima.
  • A ampliação dos sistemas de irrigação para mitigar efeitos das secas prolongadas.
  • A promoção de boas práticas agrícolas para reduzir a ocorrência e o impacto das queimadas.
etanol, cana, açúcar, produtividade
Produção de açúcar e etanol é afetada por queimadas e irregularidade das chuvas, revela relatório da Conab.

Além dessas medidas, é importante refletir sobre como as mudanças climáticas vêm exigindo adaptações significativas na agricultura brasileira. A capacidade de adaptação do setor sucroenergético será fundamental para a manutenção da liderança global do Brasil.

Para o consumidor final, as consequências imediatas podem ser sentidas diretamente no bolso, especialmente no preço do etanol nos postos e do açúcar nos supermercados. Portanto, além de estratégias de produção, políticas públicas eficazes e colaboração entre setor público, privado e instituições acadêmicas serão cruciais para garantir uma agricultura sustentável e economicamente viável no futuro próximo, preservando o protagonismo brasileiro no agronegócio mundial.

Referência da notícia

Acompanhamento da safra brasileira: Cana-de-açúcar – Safra 2024/25 – Quarto levantamento (v. 12, n. 4). 17 de abril, 2025. Companhia Nacional de Abastecimento. (CONAB).