Descoberta espantosa confirma que o homem faz e cozinha pão há 8.600 anos

Um pão intacto encontrado na Turquia revela segredos alimentares antigos. A descoberta fornece informações valiosas sobre a dieta das antigas civilizações neolíticas.

Çatalhöyük
O pão com 8.600 anos foi descoberto no sítio arqueológico neolítico de Çatalhöyük, no distrito de Cumra, em Konya, na Turquia.

Durante as escavações realizadas no sítio de Çatal Hüyük nos últimos anos, uma equipa de arqueólogos descobriu os restos de um pão num forno parcialmente destruído. Após análise, os investigadores confirmaram que, com 8.600 anos de idade, o pão é o mais antigo encontrado até à data.

Çatal Hüyük, situada no sul da atual Turquia, é uma das mais importantes povoações neolíticas alguma vez descobertas. Segundo os arqueólogos, trata-se de uma "proto-cidade" construída há mais de 9.000 anos e que constituía um espaço de transição entre as habitações rupestres habitadas por grupos de caçadores-recoletores e as primeiras construções urbanas da história.

Çatal Hüyük é o local onde, pela primeira vez na história, o homem começou a desenvolver a agricultura e a criação de animais de forma planeada e sistemática.

Esta antiga povoação neolítica (Património Mundial da UNESCO) albergou cerca de 8.000 pessoas entre 10.000 a.C. e 2.000 a.C. Nos primeiros anos de escavação, foram encontrados os mais antigos têxteis, artefatos de madeira, pinturas murais e desenhos do mundo.

Pão, massa fermentada ou resíduos orgânicos?

Este pedaço de alimento foi descoberto no canto de um forno situado numa zona chamada Mekan 66, uma zona onde se erguiam casas de tijolo de barro com telhados interligados e a que se acedia por cima. À volta do forno parcialmente destruído, foram também encontradas sementes de trigo, cevada e ervilha, que teriam sido utilizadas para fazer pão.

O que chamou a atenção foi um resíduo descrito como "esponjoso" e redondo, que foi encontrado perto do forno.

Embora existam vestígios de produção de pão ázimo desde há cerca de 15 000 anos na Jordânia, o último registo de pão fermentado é do Egito faraónico, há cerca de 4 500 anos; por conseguinte, o produto encontrado na Turquia é o pão fermentado mais antigo.

Os cientistas afirmam que se trata de um pão pequeno e redondo, que tinha a pressão de um dedo no centro e que não era cozido mas fermentado, tendo chegado aos nossos dias com amido no interior. A argila fina que o cobria permitiu que todos os restos orgânicos se conservassem até hoje, incluindo os pedaços de plantas moídas, como a cevada, o trigo e o feijão, no seu interior.

farinha
Os testes de radiocarbono efetuados no Centro de Investigação TUBITAK Marmara (MAM) confirmam que o pão data de 6600 a.C.

Embora a descoberta tenha sido feita em 2021, só agora é que a notícia foi divulgada após os resultados das descobertas e dos testes laboratoriais. O especialista da Universidade Anadolu Ali Umut Turkcan, que esteve envolvido na análise do pão, disse que os testes de radiocarbono sugeriam que a amostra poderia datar de cerca de 6600 a.C. Entretanto, Salih Kavak, biólogo e professor na Universidade de Gaziantep, na Turquia, explicou que as imagens de microscópio eletrônico revelaram espaços de ar na amostra, substâncias químicas encontradas em plantas e indicadores de fermentação, o que significa que a farinha e a água tinham sido misturadas.

O que são os antepassados do Neolítico?

Durante o período Neolítico, que se estendeu de 7.500 a.C. a 3.000 a.C., os antepassados destacaram-se como os primeiros humanos a domesticar plantas e animais, marcando o início da agricultura e da criação de animais.

O Neolítico foi pioneiro no desenvolvimento de novos utensílios de pedra polida, de cerâmica e de têxteis.

Esse período, conhecido como a "Idade da Pedra Nova", caracterizou-se por alguns aspetos que foram decisivos na evolução humana: tinham uma estratégia de subsistência baseada na combinação de práticas agrícolas com a caça e a recolha de frutos silvestres para assegurar o seu abastecimento alimentar. Esse fato permitiu-lhes estabelecerem-se em comunidades permanentes, formando aldeias e cidades que foram o ponto de partida para uma organização social mais complexa e estruturada.