Crise climática ameaça extinção do raro macaco-preto-de-cabeça na Amazônia; saiba mais
Cientistas alertam que as mudanças no ciclo das águas na Amazônia já afetam espécies vulneráveis como o macaco-preto-de-cabeça, que pode desaparecer completamente em poucos anos.

O macaco-preto-de-cabeça (Saimiri vanzolinii), um dos primatas mais raros do planeta, está prestes a desaparecer. Exclusivo de uma pequena área da floresta amazônica alagada, ele é hoje uma das espécies mais ameaçadas pelo avanço das mudanças climáticas.
Esse primata habita uma área restrita de apenas 870 km², menor do que a cidade de São Paulo. Ele vive isolado em três ilhas entre os rios Solimões e Japurá, sendo que duas delas estão fora da zona de proteção ambiental. O problema é que essa faixa de floresta depende diretamente do regime de cheias e secas dos rios — e é exatamente esse ciclo que está sendo destruído.
Projeções indicam perda quase total do habitat
Estudos liderados pelo biólogo Rafael Rabelo, do Instituto Mamirauá, usaram modelos climáticos para prever o futuro da espécie em cenários até 2070. Mesmo nas condições mais otimistas, a previsão é de perda de 99,8% da área adequada ao macaco até 2050.
No pior cenário, a perda chega a 100% nas décadas seguintes. “Independentemente do ano ou do cenário, o risco de extinção permanece muito alto”, afirmou Rabelo.
Com a intensificação de secas severas, inundações prolongadas, aumento da temperatura e mudanças nos ciclos de frutas e insetos, a alimentação e reprodução da espécie ficam comprometidas. Além disso, a elevação da temperatura da água e do ar pode causar estresse térmico e até a morte de indivíduos mais sensíveis.
Um primata abundante, mas vulnerável
Apesar da ameaça, o macaco-preto-de-cabeça ainda pode ser encontrado com facilidade dentro da reserva. Durante o censo populacional realizado este ano, a pesquisadora Anamélia Jesus avistou mais de 20 indivíduos em apenas um dia.
“É angustiante ver uma população aparentemente saudável e saber que está prestes a desaparecer”, comentou Anamélia. Estima-se que existam cerca de 350 mil animais da espécie, mas isso não garante sua sobrevivência. Seu habitat extremamente limitado a torna extremamente vulnerável a qualquer evento climático extremo.
Esse cenário levou o ICMBio a reclassificar a espécie como “Em Perigo de Extinção”, no mais recente levantamento da fauna brasileira. Além disso, o macaco faz parte do Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação de Primatas Amazônicos, que discute ações emergenciais, como a criação de uma população em cativeiro — hoje inexistente.
“Talvez o mais sensato, neste momento, seja documentar esse processo e aprender com ele, para proteger outras espécies em situações semelhantes”, concluiu Rabelo.