Chefe da ONU diz que Paquistão está vivendo uma “carnificina climática”

O grande volume de água decorrente das chuvas de monção e do derretimento de geleiras deixou cerca de 1400 mortos no Paquistão, até o momento. Essa grande tragédia climática foi denominada como “carnificina climática” pelo chefe da ONU.

Inundações Paquistão
O Paquistão vive uma "carnificina climática” devido às inundações que já mataram centenas de pessoas. Foto: Fareed Khan/ Associated Press.

Há meses o Paquistão vive uma tragédia humanitária devido ao pior episódio de inundações de sua história! Desde junho deste ano já foram contabilizadas cerca de 1400 mortes em decorrência das inundações e deslizamentos de terra causadas pelas chuvas recordes de monções e também pelo derretimento das geleiras das montanhas do norte do país.

Em julho e agosto, o Paquistão registrou em média 391 mm, quase 190% mais que a média climatológica de 30 anos. A província de Sindh, no sul do país, chegou a registrar 466% mais chuva que a média, sendo a província mais afetada pelas inundações. Padidan, uma pequena cidade de Sindh, foi inundada por mais de 1,8 metro desde o início das monções em junho.

Grandes áreas do país foram completamente inundadas, as águas chegaram a cobrir um terço do território do país, destruindo milhares de casas, estradas, pontes e plantações, deixando a população em uma situação extremamente precária. Quase 33 milhões de pessoas foram afetadas pelas inundações, milhares de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Até o momento, a estimativa dos danos chega a 30 bilhões de dólares.

As inundações também causaram danos significativos a Mohenjo Daro, um famoso sítio arqueológico de cerca de 4 500 anos na província de Sindh, designado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Embora as águas tenham poupado a estrutura principal, o trabalho de conservação feito nos últimos anos foi danificado.

As chuvas de monções, que geralmente ocorrem entre junho e setembro, são eventos anuais e essenciais para garantir a irrigação das plantações e abastecimento dos recursos hídricos. Entretanto, o Paquistão não registrava chuvas tão volumosas e extremas há pelo menos três décadas! Além das chuvas, o país já enfrentou uma onda de calor extrema que fez os termômetros baterem os 50°C e grandes incêndios florestais neste ano.

Um verdadeiro massacre climático, mas quem é o culpado?

Com o intuito de alertar o mundo em relação à catástrofe vivida no Paquistão, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, visitou várias zonas do país afetadas pelas inundações nos últimos dias. Durante a visita, Guterres disse: “Já vi muitos desastres humanitários no mundo, mas nunca vi uma carnificina climática nessa escala”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou neste sábado (10) nunca ter visto uma catástrofe climática como a ocorrida no Paquistão. E disse: "O Paquistão e outros países em desenvolvimento estão pagando um preço terrível pela intransigência dos grandes emissores que continuam apostando nos combustíveis fósseis"

Guterres disse que o mundo precisa entender o impacto da crise climática nos países de baixa renda e manifestou sua indignação com a indiferença do mundo, especialmente dos países mais industrializados, diante dessas tragédias climáticas. "Isso é insanidade, um suicídio coletivo", disse ele.

Para o chefe da ONU os países mais ricos são moralmente responsáveis por ajudar países em desenvolvimento como o Paquistão a se recuperarem de desastres como este e a se adaptarem, para construírem resiliência a futuros impactos climáticos. Guterres ainda acrescentou que as nações do G20 são responsáveis por 80% das emissões globais atuais de gases de efeito estufa. Enquanto o Paquistão é responsável por menos de 1% das emissões globais, mas é o oitavo na lista de países mais vulneráveis ao clima extremo causado pelas mudanças climáticas, de acordo com a ONG Germanwatch.