Bacia do São Francisco: as chuvas no fim período úmido podem não ser suficientes para recuperar os reservatórios

Energia armazenada na bacia do São Francisco volta a crescer depois de um período de queda em 2023! Mas ainda há risco de atingir níveis críticos no segundo semestre de 2024. Confira a previsão climática!

Usina Hidrelétrica de Sobradinho (BA)
Nível dos reservatórios da bacia do São Francisco pode ser um obstáculo na produção de energia no Nordeste. Foto: André Schuler/Chesf.

A bacia hidrográfica do rio São Francisco corresponde a 8% do território nacional. Com uma extensão de 2.863 km e uma área de drenagem de mais de 639.219 km², estende-se desde de Minas Gerais, na Serra da Canastra, até o Oceano Atlântico, onde deságua na divisa dos estados de Alagoas e de Sergipe.

Desde 2013, a bacia do velho chico vem enfrentando condições hidrometeorológicas adversas, com vazões e precipitações abaixo da média com consequências nos níveis de armazenamento dos reservatórios existentes na bacia. Isto porque o rio São Francisco constitui a base para o suprimento de energia elétrica, principalmente da região Nordeste do país. Ao todo são 9 hidrelétricas espalhadas pela bacia hidrográfica.

Queda na energia armazenada no Nordeste

Atualmente, a fonte hidráulica corresponde a 50% da matriz de energia elétrica brasileira, e segundo o Sistema Interligado Nacional (SIN), o setor fechou o ano de 2023 com 214,4 GW, sendo 108 GW provenientes de hidrelétricas. O ano de 2023 foi marcado por um grande avanço no consumo de energia, quando ondas de calor intenso ocorreram em diferentes regiões do Brasil. Esse calor, assim como as chuvas escassas no Norte e no Nordeste, estiveram associadas à maior intensidade do fenômeno El Niño.

Energia Armazenada
Energia armazenada (%) no subsistema Nordeste e volumes útil dos reservatórios da Bacia São Francisco na mesma região. Fonte: ONS.

Segundo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a partir de maio de 2023, foi observada uma queda na energia armazenada no subsistema da região Nordeste, e assim permaneceu até janeiro deste ano, quando foi registrado um aumento na energia armazenada do subsistema, associada às recentes precipitações ocorridas no alto São Francisco, que engloba o estado de Minas Gerais e porção oeste da Bahia.

A menor porcentagem de energia armazenada no subsistema do Nordeste foi registrada em novembro de 2023 com 58%, e fechou o mês de dezembro do mesmo ano com 67%.

A energia armazenada representa a energia associada ao volume de água disponível nos reservatórios, o qual pode ser convertido em geração. No subsistema Nordeste, a Bacia do Rio São Francisco corresponde a 96,9% do subsistema, sendo dividido entre 3 reservatórios: Sobradinho com 64% de volume útil, Três Marias no alto São Francisco com 57,7% e Itaparica com 52%.

Um dos mecanismos que regem a precipitação no alto São Francisco é a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que se estende desde o sul da região Norte até o Sudeste e sendo responsável por grande parte dos acumulados de chuva da estação chuvosa do Brasil, influenciando diretamente o nível dos reservatórios existentes na Bacia do Rio São Francisco.

Expectativas de chuvas para as próximas semanas

Na última Reunião de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco em 2024, foi definido que haverá um aumento na vazão de saída (defluência) nos reservatórios de Sobradinho e Xingó, passando de 900 m³ para 1.200 m³ e de 1.040 m³ para 1.100 m³, respectivamente. Tais medidas foram tomadas visando manter o equilíbrio entre os reservatórios do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, uma vez que o sistema ainda está sujeito a condições de restrição na defluência máxima e média mensal.

Em resumo, estamos entrando nos últimos meses chuvosos no alto e parte do médio São Francisco, e isto pode representar um risco para o nível dos reservatórios nesta região.

Estamos se aproximando do outono no Hemisfério Sul, que compreende os meses de março, abril e maio, e algumas mudanças no padrão meteorológicos são esperadas para várias regiões do país, inclusive o Nordeste, onde está localizado grande parte da Bacia do São Francisco. O mês de março é caracterizado por uma redução gradual das chuvas no alto São Francisco, e os maiores acumulados ficam concentrados na região Norte e Nordeste.

Anomalia de chuva
Previsão semanal das anomalias dos acumulados de chuva para as semanas de Fevereiro e Março. Fonte: ECMWF.

Já no começo de março podemos observar uma mudança no cenário de chuvas sobre o Brasil. Segundo o modelo de confiança da Meteored, ECMWF, entre os últimos dias de fevereiro e o início de março, a tendência é de chuvas abaixo da média sobre o alto, médio e submédio do São Francisco. Na porção baixa da bacia, entre os estados de Alagoas e Sergipe, a probabilidade é de chuvas acima da média, associadas a intensa atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

Entre 4 e 11 de março, o modelo prevê uma precipitação dentro ou abaixo da média sobre a bacia do São Francisco, e chuva acima da média concentrada no extremo norte da região Nordeste. Nas semanas seguintes, a previsão indica chuvas dentro da normalidade na região que compreende a bacia do São Francisco, ou levemente acima da média em algumas áreas pontuais entre o médio e baixo São Francisco.

Assim, espera-se condições de estabilidade ou até mesmo declínio nos níveis dos reservatórios da bacia do Velho Chico, principalmente na porção do alto São Francisco.

Porém, com o enfraquecimento do El Niño e a chegada da La Niña no outono de 2024, segundo projeções da NOAA, os gestores dos recursos hídricos especulam um possível inverno rigoroso sobre a bacia do Velho Chico. Assim, os níveis dos reservatórios poderiam sair das condições de restrição estabelecidas pelas operadoras de energia.