Atualização da NOAA aumenta para quase 100% a chance do El Niño se manter no verão

O CPC da NOAA divulgou nesta quinta-feira (10) a atualização de seu diagnóstico e previsão do El Niño-Oscilação Sul (ENOS), cujo principal destaque foi o aumento da probabilidade de continuidade do El Niño, podendo ser forte, até início de 2024!

El Niño
O El Niño já se encontra bem configurado sobre o Pacífico Tropical e, de acordo com o CPC, deverá se manter até o verão de 2023/24 (NOAA)

A mais nova atualização da previsão do El Niño -Oscilação Sul (ENOS) do Climate Prediction Center (CPC) da NOAA, divulgada nesta quinta-feira (10), indica que a chance do El Niño - fase positiva do ENOS - continuar ao longo do verão do Hemisfério Sul é maior que 95%!

Essa é uma probabilidade muito alta, visto que ainda nem entramos na primavera e essa previsão vale para o verão. Apesar de parecer uma previsão arriscada, ela possui uma série de fatores que a justificam. Um deles são as anomalias positivas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) que já estão sendo registradas sobre o Pacífico Tropical.

De acordo com a atualização do CPC, espera-se que o El Niño continue durante o verão do Hemisfério Sul, com mais de 95% de chance até o trimestre de dezembro de 2023 a fevereiro de 2024.

Desde o fim da La Niña em março deste ano, a região do Niño 3.4, principal região de monitoramento do ENOS, tem apresentado um gradual aquecimento, passando a registrar anomalias positivas de TSM a partir de maio, que se fortaleceram e ficaram acima do limiar de +0.5°C em junho. No último mês de julho a região do Niño 3.4 registrou uma anomalia positiva de 1.1°C, indicando a continuidade do processo de intensificação das condições oceânicas do El Niño.

Sob a superfície do oceano, no que chamamos de subsuperfície, nota-se que atualmente existem águas bem mais quentes que o normal, principalmente na porção leste do Pacífico Tropical. Essas águas mais quentes na subsuperfície são responsáveis em manter as anomalias positivas de TSM. E como não há nenhum sinal de propagação de uma bolha de águas mais frias, espera-se que esse aporte de águas quentes continue nos próximos meses.

Além do aquecimento das águas no Pacífico, a atmosfera também começou a indicar um padrão de resposta a essas anomalias oceânicas e, como sabemos, esse acoplamento oceano-atmosfera é essencial para o ENOS. Em condições normais, a Célula de Walker gera uma centro de convecção sobre a porção oeste do Pacífico Tropical, próximo a Indonésia, associada a uma baixa pressão, e um centro de alta pressão associado a condições mais secas sobre a porção central.

Em julho passamos a observar mais chuvas que o normal sobre a porção central do Pacífico e condições ligeiramente mais secas sobre a Indonésia, um sinal que a Célula de Walker está se enfraquecendo, que é a resposta atmosférica esperada durante um El Niño. Isso pode ser confirmado no Índice de Oscilação Sul (SOI, na sigla em inglês), que voltou a ficar negativo em julho, registrando um valor de -0.3.

Além de todas as condições observadas apontarem a manutenção do El Niño, a grande maioria dos modelos de previsão apontam que essas condições, oceânicas e atmosféricas, se manterão nos próximos meses, podendo ganhar ainda mais força!

O que esperar do El Niño nos próximos meses?

O El Niño geralmente costuma se intensificar durante a primavera austral e atingir seu pico de máxima intensidade durante o verão. Dessa forma, o atual evento, que já pode ser considerado de intensidade fraca, quase moderada, se intensificará ainda mais e seus impactos serão mais evidentes nos próximos meses.

De acordo com o novo prognóstico do CPC, baseado no último gráfico disponibilizado em julho pelo International Research Institute for Climate and Society (IRI) de previsão das anomalias na região do Niño 3.4, os especialistas estão mais confiantes de que esse será um El Niño forte, com cerca de 2 em 3 chance de atingir ou exceder anomalias de +1.5°C no verão austral.

Analisando a pluma de previsões de modelos do IRI de julho, vemos que muitos modelos realmente apontam um El Niño de forte intensidade (anomalias entres +1.5 e +2°C) e alguns até indicam um Super El Niño (anomalias acima de +2°C). Porém, é preciso ressaltar que somente os modelos dinâmicos apontam um El Niño forte, e não são todos. Além disso, muitos desses modelos diminuíram as intensidades das anomalias previstas na última atualização de julho, quando compara as previsões feitas em junho.

Enquanto os modelos dinâmicos enxergam um El Niño forte, todos os modelos estatísticos indicam um El Niño de intensidade no máximo moderada. Isso mostra uma grande divergência entre os métodos de previsão. Também vale destacar que se o El Niño chegar ao patamar de forte, isso poderá durar pouco, já que a cada atualização os modelos mostram uma diminuição de intensidade nos primeiros meses de 2024.

A equipe de meteorologistas da Meteored Brasil acredita que o El Niño irá se intensificar nos próximos meses, mas não chegará a ser um Super El Niño, como foi o de 2015/16.

Com base nesses apontamentos, os especialistas da Meteored Brasil acreditam que este evento não deverá configurar um Super El Niño, não podendo ser comparado ao evento de 2015 e 2016, como iremos explicar em artigos futuros. De qualquer forma, continuaremos atentos e iremos noticiar as próximas atualizações de previsões dos grandes centros internacionais.