Antártica atinge a sua menor extensão de gelo desde 1978

Depois de estabelecer um novo recorde de menor extensão de verão no início deste ano, o gelo marinho da Antártida também registrou um novo recorde de baixa no inverno. Esta mudança, pode afetar milhões de pessoas de comunidades costeiras em todo o mundo

Recentemente, em meio ao calor extremo, seca e incêndios florestais, boa parte da Europa experimentaram um dos três julhos mais quentes já registrados, de acordo com a agência meteorológica da ONU.

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (WMO), as temperaturas estavam 0,4°C acima da média de 1991-2020 em grande parte da Europa, devido a intensa onda de calor em meados do mês de julho.

O mês de julho foi marcado por vários recordes de eventos extremos, tanto na Europa quanto no Brasil, com eventos de chuvas extremas no nordeste. Depois de estabelecer um novo recorde de menor extensão de verão no início deste ano, o gelo marinho da Antártida também registrou um novo recorde de baixa no inverno.

A extensão do gelo marinho da Antártida foi a mais baixa desde que o monitoramento por satélite começou em 1978, segundo o relatório recente do National Institute of Polar Research e da Japan Aerospace Exploration Agency.

No extremo sul do planeta, o continente da Antártida é cercado por gelo flutuante, resultado do congelamento do próprio oceano ou devido à água doce que flui das geleiras e mantos de gelo do continente.

A cada ano existem flutuações sazonais na quantidade de gelo marinho. O gelo atinge uma extensão máxima em meados de setembro ou início de outubro, e em seguida derrete em uma extensão mínima no final do verão austral, geralmente em fevereiro ou março.

Entre 1979 e 2021, o gelo marinho no inverno do continente cobriu até 20 milhões de quilômetros quadrados (aproximadamente toda a extensão do Oceano Atlântico), enquanto a extensão do gelo marinho no verão encolheu para apenas 2 milhões de quilômetros quadrados.

Em fevereiro de 2022, o mínimo caiu abaixo de 2 milhões de quilômetros quadrados pela primeira vez no registro do satélite, e o maior recorde de baixa extensão foi estabelecido em 25 de fevereiro.

Importância dos satélites no monitoramento do gelo polar

A extensão do gelo marinho possui uma sazonalidade, dependendo da espessura do gelo, das condições da superfície e das condições de deriva. Atualmente, essas informações só podem ser obtidas a partir de observações de campo, mas as agências já estão desenvolvendo um método para estimar essas informações a partir de dados de observação de satélite.

Extensão mensal do gelo em julho de 1979 a 2022, mostra um declínio de 7,2% por década. Fonte: National Snow and Ice Data Center.

Olhando para o mês como um todo, a extensão do gelo marinho de julho diminuiu 2,42 milhões de quilômetros quadrados, ou a uma taxa de 78.100 quilômetros quadrados por dia. Isso resultou na extensão média de julho classificando o décimo segundo mais baixo no registro do satélite.

Segundo o National Snow and Ice Data Center, as extensões de gelo marinho de junho têm sido uma espécie de anomalia, na medida em que não correspondem aos padrões de vento experimentados ao longo do mês.

Normalmente, o gelo marinho vai se expandindo à medida que as temperaturas caem e aquela região do mundo mergulha na escuridão do inverno. No entanto, a partir de junho deste ano, início do inverno austral, a extensão do gelo marinho da Antártida vem estabelecendo mínimos recordes diários para esta época do ano.

Representação da extensão e a concentração do gelo marinho. Do outro lado do Mar de Amundsen e do Mar de Bellingshausen, as extensões estão bem abaixo da média para esta época do ano (linha laranja). Fonte: NSIDC/NASA EO/Scott Sutherland)

Os cientistas descreveram uma combinação de fatores que estão atrelados à baixa do gelo marinho da Antártida, entre fevereiro e março deste ano. Entre eles, as temperaturas mais frias do Oceano Pacifico equatorial devido a La Niña, as temperaturas oceânicas quentes em outras partes do hemisfério sul e uma forte região de baixa pressão atmosférica na costa da Antártida Ocidental.

As geleiras dessa região do continente têm sido particularmente vulneráveis aos efeitos do aquecimento global. Pesquisas recentes descobriram que as geleiras Thwaites e Pine Island, ambas localizadas ao longo da costa do Mar Amundsen, estão recuando a uma taxa mais rápida do que qualquer coisa vista nos últimos 5000 anos.

Risco de colapso da geleira Thwaites

Thwaites, a geleira mais larga do mundo, contêm água suficiente para elevar o nível do oceano em cerca de 65 centímetros, se caso venha a desmoronar no mar. O perigo maior, de acordo com os cientistas, vêm de como Thwaites está ligado às geleiras ao seu redor, ajudando a fixá-las no lugar.

Então, se caso esta geleira entrasse em colapso completo, abriria um caminho para as geleiras ao redor seguirem. Isso poderia arrastar o resto do manto de gelo da Antártida Ocidental junto com a geleira, e resultaria em 3 a 4 metros de elevação do nível do mar, afetando milhões de pessoas de comunidades costeiras em todo o mundo.