Adeus ao clima: FIFA estabelece pausas obrigatórias para hidratação em todos os jogos da Copa do Mundo

A FIFA confirmou que, a partir de 2026, todas as partidas terão pausas fixas para hidratação, independentemente das condições climáticas. A medida se baseia em estudos de desempenho, dados históricos e evolução do esporte mundial.

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A Copa do Mundo de 2026 marcará uma mudança histórica com a adoção de intervalos fixos para hidratação, independentemente das condições climáticas.

A Copa do Mundo de 2026 marcará um ponto de virada na história do futebol. A FIFA (Federação Internacional de Futebol) decidiu que todas as partidas incluirão pausas obrigatórias para hidratação, uma interrupção breve, porém estratégica, independentemente do calor, da umidade ou de outros fatores ambientais.

A partir do torneio que os Estados Unidos, o México e o Canadá organizarão em conjunto, a hidratação deixará de ser uma medida específica associada ao clima e se tornará um componente estável do regulamento, tão previsível quanto o tempo adicional ou a revisão do VAR (Video Assistant Referee).

A decisão surge de um cenário físico e competitivo em rápida transformação, já que o futebol profissional exige esforços mais intensos, transições mais rápidas e um ritmo de jogo muito superior ao das décadas anteriores. Nesse contexto, especialistas alertam que a desidratação — mesmo em condições climáticas amenas — afeta os reflexos, a coordenação, o raciocínio tático e a resistência, variáveis que influenciam diretamente lesões e o desempenho.

Portanto, a FIFA decidiu padronizar um procedimento que antes se baseava no índice WBGT, um parâmetro que combina temperatura, umidade e radiação. Esse sistema, utilizado em Copas do Mundo recentes, exigia que o árbitro interrompesse o jogo apenas quando os valores ultrapassassem os limites críticos.

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A FIFA busca proteger a saúde dos jogadores de futebol com um protocolo universal de hidratação que será aplicado sem exceções.

A partir de 2026, essa exigência deixará de existir. Haverá duas pausas por partida, uma em cada tempo, com duração de três minutos e aplicadas uniformemente em todos os jogos, mesmo em estádios fechados ou em climas mais frios.

Por que a FIFA adotou as pausas obrigatórias?

A principal justificativa é médica e fisiológica. Estudos apresentados ao Comitê de Desempenho da FIFA mostram que um jogador de futebol profissional pode perder entre 0,8 e 2 litros de água por hora, mesmo na ausência de calor extremo. Essa perda reduz a capacidade cognitiva e a coordenação motora fina, altera a percepção do esforço e aumenta o risco de distensões musculares, cãibras e rupturas.

A medida também é entendida como parte de uma tendência global: o esporte profissional está passando por uma fase de revisão que prioriza o bem-estar do atleta. A FIFA já incorporou o monitoramento fisiológico, novas recomendações de calendário e protocolos de saúde reforçados, e a pausa obrigatória se encaixa nesse novo paradigma de prevenção.

Uma breve história da pausa para hidratação no futebol

Embora possa parecer uma inovação recente, a ideia de interromper o jogo para hidratação tem uma história formal de mais de uma década. O primeiro caso emblemático ocorreu na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, durante uma partida entre Holanda e México, disputada em condições extremas em Fortaleza.

Naquela partida, o árbitro solicitou uma pausa para hidratação após a confirmação de que o índice WBGT excedia os níveis de risco. Esse incidente gerou um debate global e abriu caminho para a incorporação sistemática do conceito.

A partir daí, a FIFA e as confederações começaram a implementar pausas para hidratação ("cooling breaks") quando o calor assim o justificasse. Essas pausas foram aplicadas na Copa América, na Eurocopa, na Liga dos Campeões e nas eliminatórias da Copa do Mundo, sempre sujeitas à avaliação do árbitro e da equipe médica.

O sistema nunca foi obrigatório nem uniforme, o que gerou diferenças entre partidas e locais. Essa inconsistência alimentou o debate sobre a necessidade de se adotar uma abordagem padronizada.

Em 2020, durante a pandemia e em meio a um calendário extremamente apertado, o International Football Association Board (IFAB) retomou a discussão sobre a padronização das paralisações. A proposta não obteve total apoio, mas estabeleceu um precedente importante para futuras reformas.

Somente com os preparativos para a Copa do Mundo de 2026 e com uma vasta quantidade de evidências fisiológicas acumuladas, a FIFA decidiu avançar definitivamente. Assim, as pausas deixaram de ser um mecanismo circunstancial e se tornaram uma regra geral e obrigatória.

Outros esportes que já implementam pausas obrigatórias

O futebol não é o único esporte que adotou estratégias de controle de temperatura. Vários outros já implementam tempos técnicos obrigatórios há anos, que são ativados independentemente das condições climáticas.

  • Tênis: os Grand Slams têm há décadas regras de “heat breaks” e “toilet breaks”, com pausas obrigatórias entre os sets em condições críticas. O Aberto da Austrália permite até mesmo a suspensão de partidas quando o índice WBGT está
  • Basquete (FIBA e NBA): os intervalos comerciais na televisão servem para pausar a atividade e permitir a hidratação regular, algo fundamental em um esporte com ritmo explosivo.
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Os jogadores receberão pausas regulares para se hidratarem e estabilizarem seu desempenho físico durante cada tempo da partida.
  • Rugby: em torneios internacionais, há "pausas para hidratação" no intervalo quando um certo nível de umidade é ultrapassado, embora em muitos países elas sejam sempre aplicadas nas categorias de base.
  • Hóquei em campo: os intervalos entre os quartos permitem pausas para hidratação geral, independentemente das condições climáticas.

A tendência global é clara: esportes fisicamente exigentes buscam mecanismos uniformes de prevenção, e não soluções temporárias para o calor. O futebol, um dos últimos a dar esse passo, agora se alinha a essa lógica.

Uma mudança que antecipa o futuro do futebol

A Copa do Mundo de 2026 será a primeira a ser disputada sob este novo protocolo obrigatório e universal. A FIFA acredita que a hidratação não deve depender do clima, mas sim do volume de esforço e da fadiga acumulada que o futebol moderno exige.

Num contexto global de agendas mais apertadas, jogos mais curtos e exigências fisiológicas mais rigorosas, o futebol está adaptando suas regras para proteger os jogadores em campo. Se essa medida se mostrar eficaz — e tudo indica que sim —, poderá abrir caminho para novos padrões físicos, médicos e organizacionais no futuro.