A cidade fantasma na Amazônia que guarda um passado dos EUA esquecido no Brasil
Projeto de Henry Ford criou cidade industrial na Amazônia para produzir borracha, mas choque cultural, doenças e floresta levaram ao abandono; hoje ruínas atraem turistas e pesquisadores históricos fotógrafos curiosos

Às margens do rio Tapajós, no oeste do Pará, Fordlândia permanece como um dos episódios mais peculiares da história industrial do século 20 no Brasil. Criada em 1928 pelo empresário americano Henry Ford, a cidade foi pensada para garantir o fornecimento de borracha à indústria automobilística dos Estados Unidos.
O projeto ambicioso pretendia reproduzir na Amazônia um modelo urbano e social típico do meio-oeste americano. Casas padronizadas, hospital moderno, áreas de lazer e rígidas normas de comportamento foram implantadas em plena floresta tropical.
Quase um século depois, o que resta é uma cidade parcialmente abandonada, marcada por prédios industriais corroídos pelo tempo e pela vegetação. O local se tornou um destino de interesse histórico, atraindo visitantes em busca de memória, fotografia e reflexão.
Um sonho industrial em meio à floresta
Fordlândia surgiu como resposta ao monopólio britânico da borracha no Sudeste Asiático. A ideia era cultivar seringueiras em larga escala, mas o desconhecimento das condições amazônicas levou à proliferação de pragas que devastaram as plantações.
Com a produção inviável e os custos crescentes, o projeto foi abandonado na década de 1940. A cidade, então, entrou em um processo gradual de esvaziamento, preservada mais pelo isolamento do que por políticas de conservação.
Ruínas, memória e turismo histórico
Entre os principais marcos de Fordlândia está a imponente caixa d’água metálica, que ainda domina a paisagem e oferece vista panorâmica do rio Tapajós. Galpões industriais mantêm máquinas originais da Ford Motor Company, hoje tomadas pela ferrugem.

A chamada Vila Americana, área residencial construída em uma colina, conserva casas de madeira inspiradas na arquitetura norte-americana. Algumas seguem habitadas por moradores locais, descendentes de trabalhadores que permaneceram na região.
O antigo hospital, projetado pelo arquiteto Albert Kahn, é outro símbolo do passado grandioso. Atualmente em ruínas, o prédio se tornou um dos pontos mais fotografados do distrito.
Entre o passado e a resistência da Amazônia
O acesso a Fordlândia é feito principalmente por barco, a partir de Santarém ou Itaituba. Durante a estação seca, praias de água doce surgem ao longo do Tapajós, facilitando a circulação e ampliando o interesse turístico.
Mais do que um destino não convencional, Fordlândia é um retrato do embate entre ambição industrial e complexidade socioambiental. A floresta, aos poucos, retomou o espaço que lhe foi imposto dividir.
Hoje, o distrito de Aveiro simboliza não apenas o fracasso de um projeto estrangeiro, mas também a resistência da Amazônia e de suas populações diante de tentativas de dominação externa.
Referências da notícia
Correio Braziliense. A cidade fantasma na Amazônia que guarda um passado americano esquecido no Brasil. 2025