Saúde Mental: não é perda de concentração, você está sendo roubado!

Dividir nossa atenção entre mídias sociais, mensagens, tarefas importantes e assuntos descartáveis está destruindo nossa capacidade de concentração. Precisamos recuperar nossas mentes enquanto ainda podemos.

Você não está perdendo a concentração: Está sendo roubado
As mídias sociais estão nos viciando e destruindo nossa capacidade de concentração. Precisamos recuperar nossas mentes enquanto ainda podemos. (imagem: Jorge Barahona)

Vivemos hoje em uma crise de atenção. Poucas pessoas são capazes de se concentrar em algo por mais do que alguns segundos. Há estudos, por exemplo, indicando que estudantes universitários não se concentram em uma mesma tarefa por mais do que 65 segundos. Já trabalhadores de escritório mantém o foco por no máximo três minutos.

O fato é que a vida moderna, em especial as mídias sociais e seu conteúdo descartável de consumo rápido, estão destruindo nossa capacidade de concentração. Caímos em uma grande ilusão, de que é possível digerir várias fontes de informação ao mesmo tempo. Não é.

Porque tentar consumir muito conteúdo está destruindo sua capacidade mental

Como explica o professor Earl Miller, do Massachusetts Institute of Technology (EUA), o cérebro só é capaz de produzir um ou dois pensamentos conscientes ao mesmo tempo. Quando as pessoas acreditam estar fazendo várias coisas ao mesmo tempo, estão na verdade fazendo um tipo de “malabarismo mental” que pode ser muito prejudicial.

Digamos que você está estudando determinado assunto quando recebe uma mensagem no celular. Prontamente, você a lê e, depois, retorna ao estudo. Ao ler a mensagem, seu cérebro se reconfigurou para dar conta daquela tarefa, e quando você retornou ao estudo, seu cérebro teve de se reconfigurar novamente.

Você não está perdendo a concentração: Está sendo roubado
Vivemos em uma constante degradação cognitiva, dividindo nossa atenção e reduzindo nossa capacidade mental em pelo menos 20% (imagem: Karolina Grabowska)

Essa reconfigurações constantes tem um preço: Você gasta mais energia, fica mais lento, seu desempenho cai. Faça isso várias vezes e o resultado é que você se sentirá mais cansado e não conseguirá produzir muita coisa. É o que os neurocientistas chamam de custo de mudança.

Como prova, a Carnegie Mellon University (EUA) levou 136 alunos para fazer um teste. Alguns tiveram que desligar seus telefones, e outros ligaram seus telefones e receberam mensagens de texto intermitentes. Os alunos que receberam mensagens tiveram um desempenho, em média, 20% pior. É o que está acontecendo com todos nós, todo dia.

Como recuperar o potencial do seu cérebro?

A resposta não é abandonar completamente o celular! Isso somente criaria um vácuo e uma abstinência que piorariam ainda mais a situação. De acordo com o professor Mihaly Csikszentmihalyi, da Claremont Graduate University (EUA), o segredo pode estar nos estados de fluxo.

Se você chegou até aqui neste texto, provavelmente já está em estado de fluxo. Acontece quando você começa a fazer algo realmente significativo para você, se envolve de verdade, e o tempo simplesmente desaparece. De repente, você está completamente entregue, sem nenhum esforço. O fluxo é a forma mais profunda de atenção que os seres humanos podem oferecer.

Para entrar em estado de fluxo, você precisa seguir três passos:

  1. Escolher um único objetivo para atingir. O fluxo toma toda a sua energia mental, desdobrada deliberadamente em uma única direção.
  2. Esse objetivo precisa ser significativo para você. Não é possível fluir para um objetivo com o qual você não se importa.
  3. Ajuda muito se o objetivo estiver no limite de suas habilidades – se, digamos, a rocha que você está escalando for um pouco mais alta do que a última rocha que você escalou.

Em pouco tempo, estados de fluxo começam a vir de maneira mais natural e fica mais fácil acessá-los, o que contribuirá muito com a sua saúde mental. Ainda assim, há um problema estrutural a se abordar.

O problema das mídias sociais

Cinquenta anos atrás havia pouca obesidade no mundo, mas hoje ela é comum em países ocidentais. Isso não aconteceu porque, de repente, nos tornamos gananciosos ou esfomeados. O fato é que hoje temos, ao nosso redor, todo tipo de comida ruim - Doces, salgadinhos, frituras… É tão fácil e barato comer mal que, mesmo não querendo, você vai sucumbir uma hora ou outra.

O mesmo está acontecendo com as mídias sociais. A todo momento, nossa atenção é roubada por notificações, mensagens, likes - E ainda não sabemos como resolver esse problema. Talvez se as mídias sociais mudassem seu modelo de negócios, projetado para invadir nossa atenção e nos manter rolando, quem sabe?

Mas o primeiro passo sempre é, de qualquer maneira, a conscientização. Precisamos parar de nos culpar e entender que há um problema ao nosso redor. E lembrar que, quanto mais degradada nossa mente estiver, mais difícil será reunir energia pessoal e política para enfrentar essas forças. Precisamos agir rápido.