Um passeio pelas nuvens altas: cirrus, cirrocumulus e cirrostratus, gelo nas alturas
Nuvens altas aparecem na troposfera superior e são compostas inteiramente por cristais de gelo. Há três gêneros de nuvens dentro desta família: cirrus, cirrocumulus e cirrostratus.

Nuvens são hidrometeoros. Por definição, consistem em um conjunto visível de gotículas de água líquida, cristais de gelo ou ambos, suspensos na atmosfera, normalmente localizados a uma certa altura acima da superfície da Terra, embora possam estar em contato com ela. Elas são agrupadas em quatro famílias distribuídas verticalmente na troposfera: 1) nuvens altas, 2) nuvens médias, 3) nuvens baixas e 4) nuvens em desenvolvimento vertical. Dedicaremos este texto às nuvens altas, que são compostas inteiramente por cristais de gelo.
Dentro da família das nuvens altas, encontramos três gêneros de nuvens: Cirrus (Ci), Cirrocumulus (Cc) e Cirrostratus (Cs). Seus nomes oficiais são em latim e escritos com a inicial maiúscula.
Nuvens cirriformes flutuam nos céus entre 8 e 12 quilômetros acima do nível do mar em latitudes médias. Os cristais de gelo que as formam são responsáveis por sua brancura deslumbrante, pois esses cristais microscópicos refletem a maior parte da radiação solar que incide sobre eles em todas as direções.
Nuvens Cirrus em forma de gancho e cordeiro
De acordo com a definição oficial do Atlas Internacional de Nuvens da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o gênero de nuvens Cirrus (Ci) [que traduzimos do latim como cabelo ou fios de cabelo] é composto por "nuvens separadas na forma de delicados filamentos brancos, ou faixas estreitas, brancas ou quase brancas. Essas nuvens têm uma aparência fibrosa (semelhante a um cabelo) ou um brilho sedoso, ou ambos". Cirrus é a nuvem alta por excelência e pode apresentar até cinco espécies diferentes: fibratus, spissatus, castellanus, floccus e uncinus. Vamos nos concentrar neste último.

A aparência irregular das nuvens cirrus é frequentemente identificada com caudas de gato (um termo náutico) e rabo de galo; elas também são conhecidas como nuvens-palmeira, devido à sua semelhança com as folhas em leque dessa espécie de árvore. Ocasionalmente, apresentam um formato característico em forma de gancho. Nesses casos, as nuvens cirros são da espécie Uncinus.
Essa característica indica a presença de correntes de jato na troposfera superior. As grandes diferenças na velocidade e direção do vento perto da corrente de jato — conhecidas em meteorologia como cisalhamento — causam movimentos irregulares de algumas áreas da nuvem em comparação com outras, resultando nessas formas em forma de garra ou gancho.

O segundo gênero de nuvens altas é o Cirrocumulus. Cirrocumulus (Cc) é facilmente distinguível da Cirrus, e sua definição é a seguinte: "Uma fina camada de nuvens brancas, sem sombras, composta por elementos muito pequenos na forma de grãos, ondulações, etc., unidos ou separados e distribuídos com maior ou menor regularidade; a maioria dos elementos tem uma largura aparente de menos de um grau".
Este último detalhe é importante para distinguir entre nuvens Cirrocumulus e Altocumulus, visto que ambas parecem semelhantes, como um rebanho de ovelhas ou cordeiros no céu. É por isso que referências a ovelhas ou céus semelhantes a ovelhas são tão comuns em provérbios meteorológicos, fazendo alusão a essas nuvens. O tamanho aparente (visto da superfície da Terra) dos elementos das nuvens Cirrocumulus é significativamente menor do que o das nuvens Altocumulus.
Céu leitoso e formação de halos
O terceiro gênero de nuvem que completa a família das nuvens altas é o Cirrostratus (Cs). Ele é descrito no Atlas Internacional de Nuvens da OMM da seguinte forma: "Um véu de nuvens transparente e esbranquiçado, com aparência fibrosa (semelhante a um cabelo) ou lisa, que cobre o céu total ou parcialmente e geralmente produz halos". Esse véu de nuvens confere ao céu uma aparência esbranquiçada e leitosa. Às vezes, é tão fino que chega a ser quase transparente.
A luz solar atravessa as nuvens Cirrostratus, às vezes formando um halo ao redor do Sol ou da Lua devido às reflexões e refrações sofridas pela luz solar ao passar pelos cristais de gelo que formam essa nuvem estratiforme alta. A observação de um halo geralmente precede uma mudança no clima. As nuvens Cirrostratus geralmente aparecem na frente de uma frente quente; portanto, se observarmos esse fenômeno ideal, espera-se chuva. Normalmente, isso ocorre dentro de 24 a 36 horas.

A meteorologia popular reflete essa circunstância em inúmeros provérbios. Um dos mais conhecidos afirma: "Lua cercada, chuva certa" ("Cerco de luna, lluvia segura!" em espanhol), e encontramos outro que diz: “O cercado (halo) do Sol molha o manto do pastor e a da Lua o seca”.
A explicação para a conexão da presença do halo lunar e o manto do pastor está na ausência de orvalho, portanto, não se refere à chuva. Se o céu à noite estiver coberto por uma camada de nuvens altas, a temperatura não será tão baixa durante o início da manhã, o que impedirá a formação de orvalho, impedindo que qualquer coisa que entre em contato com o ar fique úmido.
O provérbio também costuma incluir uma alusão ao mês de abril ("Em abril, o vento do sol molha o manto do pastor, e o vento da lua o seca"). Nesta versão, pode se referir às típicas chuvas de primavera, que costumam ser mais intensas durante o dia do que à noite. Estas últimas, se ocorrem, são mais ocasionais, pois tudo o que fica molhado seca rapidamente.