O ar mais limpo da Terra está no oceano Antártico. Qual o motivo?

Anteriormente, já sabia-se que o ar atmosférico sobre o oceano Antártico é o mais puro da Terra. Agora, em um estudo recente, os cientistas encontraram a explicação para isso.

oceano austral, oceano Antártico
O ar sobre o oceano Antártico é o mais puro da Terra. E por que?

O Oceano Antártico, ou oceano austral, já é conhecido por ter o ar mais limpo da Terra. Isso foi descoberto há alguns anos por cientistas da Universidade do Colorado, que publicaram tal descoberta em um artigo publicado na época na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Segundo eles, essa região é a menos afetada pela atividade humana; estava livre de partículas de aerossol produzidas pela ação humana.

Um ar limpo tem baixos níveis de aerossóis, entre outras coisas, independente se são de fontes naturais ou industriais.

Porém, as razões precisas para isso eram um mistério até agora. Em um artigo publicado recentemente na revista NPJ Climate and Atmospheric Science, os pesquisadores explicam os motivos disso, que vai além do que apenas a falta de atividade humana na região.

Por que o ar sobre o oceano Antártico é o mais puro?

A pesquisa em questão descobriu que, além do que já se sabia, as nuvens e a chuva desempenham um papel crucial na limpeza da atmosfera sobre a região. O oceano Antártico também é o lugar mais nublado da Terra. Ele experimenta chuvas esporádicas e de curta duração como em nenhum outro lugar do planeta.

Porém, o maior problema para conseguir entender os processos que fazem deste o ar mais limpo do mundo, era a falta de observações (dados) de alta qualidade de nuvens, chuvas e aerossóis nesta região.

Menos sulfatos são produzidos durante o inverno austral, que é quando o ar sobre o oceano Antártico é mais puro.

Contudo, felizmente, uma nova geração de satélites permite a análise de imagens de nuvens com detalhes sem precedentes. Sendo assim, os pesquisadores desenvolveram um modelo para identificar padrões de nuvens em imagens de satélite em uma ampla área sobre o oceano Antártico. Essa área de estudo é a estação Kennaook/Cape Grim, que fica no noroeste da ilha da Tasmânia, na Austrália.

Com as imagens, eles estavam à procura de nuvens distintas em formato de ‘favo de mel’, já que essas desempenham um papel importante na regulação do clima. Quando tal nuvem está “fechada”, ela é mais branca e brilhante, reflete mais luz solar de volta ao espaço e ajuda a manter a Terra ‘fresca’. Quando ela está “aberta”, permite a entrada de mais luz solar, aquecendo o entorno. O fato de essas nuvens estarem ‘abertas’ ou ‘fechadas’ também está relacionado à quantidade de chuva que elas podem produzir.

nuvens sobre a Tasmânia, Austrália
Uma imagem em cores reais do satélite geoestacionário Himawari-8 mostrando a área de estudo (Kennaook/Cape Grim) e um exemplo de nuvens MCC (convecção celular de mesoescala) fechadas e abertas em forma de favo de mel sobre o Oceano Antártico. Fonte: Alinejadtabrizi et al. (2024).

Os autores compararam os padrões dessas nuvens com medidas de aerossóis da estação Kennaook/Cape Grim e com dados de precipitação. Os resultados mostraram que os dias com ar mais limpo sobre essa região estavam associados à presença de nuvens favo de mel ‘abertas’. E isso porque essas nuvens geram pancadas de chuva esporádicas, mas intensas, que parecem “lavar” as partículas de aerossol do ar.

As nuvens ‘abertas’ contêm mais umidade e geram mais chuva do que as ‘fechadas’. Além disso, encontraram que as nuvens ‘abertas’ produzem seis vezes mais chuva do que as ‘fechadas’.

Kennaook/Cape Grim, Tasmânia (Austrália)
A estação de monitoramento de gases atmosféricos em Kennaook/Cape Grim, no extremo noroeste da Tasmânia (Austrália). Crédito: CSIRO.

Segundo o estudo, o que parecia ser um tempo menos nublado nas imagens de satélite, na verdade desencadeou pancadas de chuva mais eficazes para eliminar os aerossóis da atmosfera. Já o padrão de nuvens ‘fechadas’, que parece mais turvo, é menos eficaz. E esse foi um dos aspectos mais surpreendentes das suas descobertas.

Então, em suma: o que explica o oceano Antártico ter o ar mais limpo do mundo? A chuva é a peça chave, especialmente aquela proveniente das nuvens claras e ‘abertas’ em formato de favo de mel. Esse estudo é o primeiro a descobrir que essas nuvens são as verdadeiras responsáveis pela limpeza de todo o ar que flui sobre o oceano Antártico.

Referência da notícia:

Alinejadtabrizi, T. et al. Wet deposition in shallow convection over the Southern Ocean. NPJ Climate and Atmospheric Science, v. 7, 2024.