Duas grandes perdas na Ciências do Mar

A comunidade de cientistas do mar ficou desfalcada nesse segundo mês de 2019, com a morte de Walter Munk, o "Einstein dos Oceanos" e Wallace Broecker, o "pai" do aquecimento global. Os dois são responsáveis por grandes achados na oceanografia e áreas afins.

Walter Munk (esquerda) e Wallace Broecker (direita) faleceram em Fevereiro deste ano.

Fevereiro de 2019 foi um mês triste para a ciência, especialmente para as ciências do mar. Em um intervalo de 10 dias perdemos Walter Munk, o "Einstein dos oceanos", e Wallace Broecker, o "pai" do Aquecimento Global. Ambos revolucionaram a ciência em suas áreas de atuação e estão envolvidos com os maiores achados da oceanografia dos últimos tempos. Broecker e Munk deixam um vazio em uma área do conhecimento ainda carente de investimentos, mas que o entusiasmo e legado desses dois profissionais possam inspirar e desafiar as novas gerações de cientistas do mar.

Walter Munk (1917-2019)

Walter Munk morreu aos 101 anos, no dia 8 de Fevereiro, em sua casa in La Jolla, Califórnia (EUA). Nascido em Viena (Áustria), veio aos 14 anos para Nova Iorque (EUA) e estudou física e geofísica no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Em 1940, ingressou no doutorado no Instituto Oceanográfico Scripps da Universidade de San Diego, sob a mentoria de Harald Sverdrup, onde construiu sua carreia extraordinária.

Os trabalhos e esforços de Munk elevaram a oceanografia a um outro nível, especialmente nos campos de previsão de ondas, temperatura dos oceanos, energia da maré em alto mar, acústica marinha e influência da rotação da Terra nos movimentos do mar. Cheio de convicções e paixão pela ciência, Munk foi consultor da inteligência americana e contribuiu para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, quando participou do planejamento da invasão da Normandia, conhecida como “Dia D”, provendo a previsão do estado das ondas durante o ataque.

Munk (esquerda) e Broecker (direita) estão envolvidos com os maiores achados da oceanografia dos últimos tempos.

Munk também ampliou a teoria de circulação oceânica gerada pelo vento elaborada por seu tutor, Sverdrup. A chamada Teoria de Munk, constitui ainda um modelo conceitual completo de circulação dos giros oceânicos. “Water Munk é uma joia da ciências do mar e geofísica. Ele foi um guia, um estimulante e um provocador das ciências por 80 anos”, conta Margaret Leinen atual direto de Scripps.

Wallace Broecker (1931-2019)

Wallace Broecker, nascido em Chicago (EUA), foi um dos grandes pioneiros nos estudos de mudanças climáticas: em um artigo de 1975 já anunciava que o aumento dos níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera iriam levar a um aumento da temperatura. Por essa razão, o cientista é conhecido por muitos como o "avô" ou "profeta" do aquecimento global, sendo o primeiro a usar a expressão.

Por mais de meio século Broecker trabalhou intensivamente para provar o papel dos oceanos no clima global. Atuou em pesquisas de ciclos biogeoquímicos do carbono e em registros do clima em amostras de gelo e sedimentos marinhos. Através do estudo da composição química da água do mar e do uso de traçadores químicos, comprovou a existência da circulação termohalina global. Esta circulação oceânica, conhecida também como “esteira transportadora” tem papel fundamental na manutenção do clima da Terra, afetando a distribuição de calor e chuva através do globo. Essa descoberta é considera por muitos, o maior achado da oceanografia de todos os tempos.

Broecker era professor e pesquisador da Universidade de Columbia (Nova Iorque, EUA), onde também fez sua graduação, mestrado e doutorado nas áreas de geofísica e geologia. Morreu aos 87 anos, na última segunda-feira (18) em Nova Iorque, segundo um porta-voz da instituição.