Descoberta incrível: Dinossauros do Brasil e da Mongólia desenvolveram estratégias iguais para sobreviver no deserto
Pesquisadores descobriram adaptações anatômicas similares em fósseis do Brasil e da Mongólia, ilustrando um caso notável (e muito raro) de evolução convergente em locais distintos do planeta.

Imagine estar com fome em um deserto onde a única vegetação disponível são plantas conhecidas como xerófitas - espinhosas, com folhas muito espessas e sementes duras. Essa foi a situação encontrada tanto no Brasil quando na Mongólia a milhões de anos atrás.
Acontece que Dinossauros que habitaram a região onde, atualmente, está o Deserto de Gobi (Mongólia) há 66 milhões de anos, encontraram uma situação muito similar à dos dinossauros brasileiros que viveram no Oeste do Paraná, 125 milhões de anos atrás: ambas as regiões foram desertos com pouquíssimas fontes de comida.
Esse é um raríssimo caso de evolução convergente - em que espécies distintas, que não possuem nenhum grau de parentesco, desenvolvem traços semelhantes por viverem em ambientes parecidos, com os mesmos desafios. Essas adaptações evolutivas parecem diretamente relacionadas à dieta desafiadora dos desertos.

A descoberta foi realizada por pesquisadores do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), que analisaram dezenas de amostras de fósseis de diversos locais do planeta para confirmar suas hipóteses.
Dezenas de amostras de fósseis foram estudados na USP
Para testar a semelhança entre os dinossauros brasileiros e mongolianos, os pesquisadores mapearam pontos de referência em 65 maxilares e 52 dentários de terópodes de diversas partes do mundo, separando-os entre carnívoros e não carnívoros.
A robustez observada na mandíbula de algumas das espécies se mostrou ideal para quebrar estruturas duras de plantas hostis, como sementes. Isso destaca como dinossauros de diferentes regiões do planeta se adaptaram de maneiras similares a condições áridas, com temperaturas extremas e escassez de umidade e alimentos.

As descobertas também reforçam hipóteses sobre a presença de plantas xerófitas no antigo deserto paranaense e a formação do arenito Caiuá, onde os fósseis de B. leopoldinae foram encontrados, marcando o início da sedimentação da bacia Bauru. Apesar das condições inóspitas, essa bacia abrigou uma rica biodiversidade no passado.
As pegadas indicam que a lagoa funcionava como um oásis usado por diversos animais durante períodos de seca. Isso nos dá pistas valiosas sobre como esses animais se comportavam e interagiam com o ambiente inóspito ao seu redor.

O estudo foi capaz ainda de apontar outros exemplos de conversão evolutiva. Um deles mostra que o Berthasaura leopoldinae provavelmente perdia os dentes ao longo da vida, tornando-se um adulto desdentado — algo semelhante ao que ocorreu com o Limusaurus inextricabilis, da China, ilustrando uma outra convergência pouco discutida até o momento.
Referência da notícia:
Dinossauros de ambientes extremos do Brasil e da Mongólia tinham estratégias semelhantes de sobrevivência. Revista FAPESP, Junho de 2025. Enrico di Gregorio.