Crise climática: mais de um terço de incêndios podem ser de responsabilidade de empresas emissoras de carbono!

Um novo estudo identificou que as principais empresas emissoras de carbono foram responsáveis por mais de um terço da área devastada por incêndios florestais no oeste da América do Norte nos últimos 40 anos.

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A queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) é a principal fonte das emissões de gás carbônico (CO2) na atmosfera.

Sabemos que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) contribuem significativamente para um aumento da temperatura média do planeta. O gás carbônico (CO2) é o GEE que mais contribui para o aquecimento global, pois representa a maior parte das emissões e o seu tempo de permanência na atmosfera é de, no mínimo, 100 anos, impactando o clima ao longo de vários anos.

O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que as emissões entre 2010-2019 foram maiores do que em qualquer década anterior, e o CO2 foi o que mais contribuiu para o aquecimento registrado até o momento. As principais fontes emissoras do carbono são o uso de combustíveis fósseis, desmatamentos e queimadas. E sobre este último, recentemente noticiamos aqui na Meteored Brasil como incêndios florestais podem ter contribuído para a longa duração incomum do último evento La Niña.

Agora, pesquisadores dos Estados Unidos (EUA) publicaram um novo estudo na revista Environmental Research Letters, onde quantificam a contribuição dos principais produtores de carbono do mundo para os incêndios florestais do oeste da América do Norte.

Relação entre o déficit de pressão de vapor e a temperatura média global

O objetivo do estudo é descrever o papel dos principais produtores de carbono do mundo no aumento dos riscos de incêndios no oeste dos EUA e sudoeste do Canadá, mas para isso, os autores primeiramente analisaram uma questão: como é a relação entre as mudanças no déficit de pressão de vapor (DPV) e na temperatura média global (TMG) do planeta?

Déficit de pressão de vapor é uma medida do poder de secagem que o ar tem sobre as plantas. Basicamente, é a umidade que é retirada da planta pela atmosfera.

Eles usaram um modelo de balanço energético global do ciclo de carbono, um conjunto de modelos climáticos e um modelo de área queimada para determinar a contribuição dos principais emissores de CO2 do mundo para o aumento no DPV durante 1901-2021.

A equipe encontrou que as emissões das principais empresas produtoras de carbono foram responsáveis pelo aumento da TMG em 0,5 graus Celsius desde o início do século 20, ou aproximadamente metade do aquecimento observado no período. Essa contribuição das empresas foi então usada para calcular quanto elas adicionaram ao aumento do DPV.

Como o ar mais quente pode conter mais vapor d'água, o aumento das temperaturas causado pelas mudanças climáticas está fazendo com que a medida de DPV também aumente.

Sobre essa questão, o estudo concluiu que as emissões das empresas foram responsáveis por 48% do aumento no DPV entre 1901 e 2021, ou seja, quase metade do aumento observado. Ressalta-se que, quanto maior essa medida, mais propensa a incêndios uma área será.

As emissões de carbono e os incêndios florestais na América do Norte

Califórnia, EUA, incêndio florestal, 2022
'Apple Fire', incêndio florestal ao norte de Beaumont, no condado de Riverside, Califórnia, em 31 de julho de 2020. Crédito: Brody Hessin/Twitter.

Nesta outra parte do estudo, os pesquisadores investigaram o quanto as emissões dos principais produtores de carbono contribuíram para os incêndios florestais no oeste dos EUA e no sudoeste do Canadá.

Os resultados modelados mostraram que as emissões contribuíram com 37% do total dos incêndios florestais entre 1986 e 2021. Foram 8 milhões de hectares queimados — uma área aproximadamente do tamanho da República Tcheca. Segundo os autores, o aumento observado no DPV está associado tanto ao aumento da atividade de fogo quanto à mega seca prolongada que ocorreu em 2022 na região.

Este é o primeiro estudo a quantificar como as emissões de carbono por empresas corporativas pioraram os incêndios florestais. Os pesquisadores consideraram as emissões emitidas diretamente pelas operações das empresas, bem como as emitidas indiretamente pelos produtos que elas vendem. As empresas são: Chevron, ExxonMobil, BP, Shell, produtores estatais de petróleo como Saudi Aramco e Gazprom, e fabricantes de cimento.

Os autores acreditam que este tipo de pesquisa quantitativa é importante, pois conecta os impactos das mudanças climáticas às fontes emissoras de poluentes, e pode informar discussões públicas, políticas e legais sobre a responsabilidade dos emissores de carbono por riscos climáticos passados, presentes e futuros.