Como a sua visão do envelhecimento afeta a sua saúde? Mais do que você imagina

Um estudo da Universidade de Yale sugere que pensar positivamente sobre o envelhecimento pode fazer a diferença na recuperação de uma deficiência na vida adulta.

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Um estudo da Universidade de Yale sugere que pensar positivamente sobre o envelhecimento pode fazer a diferença na recuperação de uma deficiência na vida adulta.

Há ideias que se infiltram em nossas vidas tão silenciosamente que mal as notamos. Pensamos nos anos, na ruga que apareceu de repente, na lentidão de certos movimentos e talvez também em frases como "Não aguento mais isso".

Longe de ser uma mera questão biológica, a mente e seu poder sobre o corpo estão emergindo como protagonistas inesperados na história da saúde. É o que sugere um estudo da Universidade de Yale.

Pesquisadores acompanharam 600 idosos por dez anos e descobriram que pessoas com uma visão positiva do envelhecimento vivem melhor e se recuperam de deficiências com uma velocidade surpreendente.

O que você acredita sobre o envelhecimento pode ter mais influência do que os anos

Muitas vezes atribuímos a recuperação física a fatores médicos ou hereditários, mas este estudo incorporou um novo elemento: estereótipos.

Essas crenças que carregamos — muitas vezes sem perceber — influenciam a maneira como vemos as pessoas mais idosas... e também como nos veremos quando chegarmos a essa fase.

Entre as pessoas observadas — todas com mais de 70 anos e sem deficiências no início do estudo — aquelas com uma perspectiva positiva sobre a velhice tinham 44% mais probabilidade de se recuperar totalmente de uma deficiência grave.

Encarar a velhice como uma fase ativa, com experiência e coragem, fez uma diferença notável em comparação com aqueles que a associavam à fragilidade ou deterioração.

Com o passar dos anos, muitos participantes tiveram dificuldades com atividades básicas, como se vestir, caminhar ou tomar banho. Um padrão surgiu: aqueles com uma percepção positiva do envelhecimento tinham maior probabilidade de se recuperar.

Como o que pensamos se torna saúde (ou doença)

O interessante é que esse efeito não é puramente uma questão mental. Segundo a pesquisa, as crenças têm consequências físicas: afetam o sistema imunológico, o coração e a maneira como nos movimentamos.

“Em estudos anteriores, observamos que adultos mais velhos com estereótipos positivos de idade tendem a apresentar respostas cardiovasculares mais baixas, respostas ao estresse e a se envolver em atividades mais saudáveis, o que pode ajudar a explicar nossas descobertas atuais”, disse Becca Levy, autora do estudo e especialista em saúde pública e psicologia do envelhecimento na Universidade de Yale.

Em outras palavras, pensar que você ainda consegue te leva literalmente a tentar. E isso faz a diferença entre levantar-se de uma cadeira ou não, entre precisar de ajuda para caminhar ou recuperar a independência.

Segundo a OMS, as mensagens que recebemos sobre o envelhecimento desde cedo podem permanecer conosco e afetar nossa saúde anos depois.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alertou sobre isso. O etarismo, ou discriminação por idade, afeta a dignidade dos idosos, bem como sua saúde física e mental.

Mudando o chip do envelhecimento

Talvez o aspecto mais revelador do estudo seja que esses estereótipos não se formam na velhice, mas estão conosco há muito tempo.

Essas são mensagens que se infiltram em filmes, piadas, manchetes de jornais e até mesmo em conversas familiares. E, com o tempo, se transformam em crenças que moldam a realidade.

Levy, que dedicou sua carreira ao estudo da “incorporação” (a incorporação psicológica de estereótipos), argumenta que mudar a narrativa sobre o envelhecimento pode ser uma maneira poderosa de promover o envelhecimento saudável.

Este estudo não é novo, mas sua mensagem continua tão relevante quanto urgente. Os anos se acumulam, sim. Mas as ideias que carregamos também pesam muito. Talvez essa seja a verdadeira diferença entre envelhecer e simplesmente deixar o tempo passar.

Referências da notícia

Levy BR, Slade MD, Murphy TE, Gill TM. (2012). Association Between Positive Age Stereotypes and Recovery From Disability in Older Persons. JAMA.

Universidad de Yale. (2012). Positive age stereotypes improve recovery among the elderly. Publicado en la sección de noticias de la institución.