Cientistas criam maneira de pessoas com deficiência motora jogarem videogames apenas com o pensamento

Engenheiros criaram uma interface cérebro-computador que não requer calibração extensiva para cada usuário, e poderá ser facilmente utilizada por pessoas com deficiência motora.

Cientistas criam maneira de jogar videogames apenas com o pensamento para pessoas com deficiência motora
Engenheiros criaram interface cérebro-computador que não requer calibração e poderá ser facilmente utilizada por pessoas com deficiência motora. (imagem: Kumar et al. 2024)

Imagine jogar um jogo de corrida como Mario Kart, porém controlando seu carro apenas com o poder da mente. Este não é mais um conceito de ficção científica, mas sim uma realidade tangível graças aos esforços dos engenheiros da Universidade do Texas, em Austin.

O objetivo da pesquisa, liderada por José del R. Millán, é melhorar a vida das pessoas com deficiências motoras. A Interface Cérebro-Computador (abreviada como BCI, de Brain-Computer Interface) que os cientistas criaram permite com que qualquer pessoa jogue videogames usando apenas os seus pensamentos.

Esta inovação é especialmente significativa porque elimina a necessidade de uma calibração extensa para cada usuário, como era necessário anteriormente. Isso a torna potencialmente útil para uma ampla gama de aplicações clínicas.

Como a Interface Cérebro-Computador funciona?

A chave para o sucesso desta nova BCI é a integração de recursos de inteligência artificial. Ao contrário das BCIs convencionais, que exigem uma calibração específica para cada usuário, esta interface é capaz de se autocalibrar através da repetição, tornando-se uma solução universal. Isso significa que vários pacientes podem usar o dispositivo sem a necessidade de ajustes individuais demorados.

Além dos videogames, a equipe está explorando outras aplicações do BCI, como controle de robôs de reabilitação de pernas e braços. (imagem: Kumar et al. 2024)

O funcionamento da BCI é simples: os usuários colocam na cabeça uma touca com eletrodos que medem os sinais elétricos do cérebro. Esses sinais são então interpretados por um decodificador, que os traduz para ações dentro do jogo. Esta abordagem inovadora não só permite aos indivíduos com deficiências motoras desfrutar de atividades de lazer como jogar videogames, mas também pode ter aplicações terapêuticas significativas.

O objetivo dessa tecnologia é ajudar as pessoas, ajudá-las em suas vidas cotidianas. Continuaremos nesse caminho onde quer que ele nos leve na busca de ajudar as pessoas - José del R. Millán, Universidade do Texas.

Um dos aspectos mais impressionantes deste trabalho é a capacidade da BCI de ajudar os usuários a fortalecer sua neuroplasticidade. Isso significa que, ao treinar o cérebro para realizar tarefas complexas através da BCI, os pacientes podem melhorar sua função cerebral ao longo do tempo. Isso abre toda uma gama de novas oportunidades para a reabilitação e o tratamento de condições neurológicas.

O sistema de controle cerebral vai muito além dos videogames

Além dos videogames, a equipe de pesquisa está explorando outras aplicações para a BCI. Por exemplo, estão desenvolvendo uma cadeira de rodas controlada pelo cérebro, que permitirá aos usuários navegar em seu ambiente com facilidade. Além disso, os cientistas estão investigando o uso de robôs de reabilitação para pernas e braços controlados pela BCI, o que ajudará na recuperação de pacientes com lesões ou deficiências físicas.

Em última análise, este trabalho tem um potencial gigantesco para melhorar a qualidade de vida das pessoas, fornecendo-lhes novas formas de interagir com o mundo ao seu redor. À medida que a pesquisa avança, espera-se que a BCI se torne uma ferramenta cada vez mais importante no campo da medicina e da reabilitação, abrindo novas possibilidades especialmente para aqueles que vivem com deficiências motoras.

Referência da notícia:
Satyam Kumar, Hussein Alawieh, Frigyes Samuel Racz, Rawan Fakhreddine, José del R Millán. Transfer learning promotes acquisition of individual BCI skills. PNAS Nexus, 2024; 3 (2).