Ciclones tropicais estão atuando como “bombas de calor” ampliando desastres

Cientistas descobrem que os ciclones tropicais estão alimentando ondas de calor extremo após sua passagem, o que complica ainda mais a recuperação de desastres naturais.

Ciclones tropicais estão atuando como “bombas de calor” ampliando desastres
Cientistas descobrem que ciclones tropicais estão alimentando ondas de calor extremo, complicando ainda mais a recuperação de desastres.

Apenas três dias após o impacto catastrófico do furacão Fiona em Porto Rico, que ocorreu em meados de setembro desde ano, o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos emitiu um alerta para uma onda de calor extremo, que poderia exceder os 42°C - dificultando consideravelmente a recuperação do desastre.

Após a passagem do furacão Fiona, 90% de Porto Rico ficou sem energia elétrica, situação fortemente agravada pela onda de calor que atingiu o país na sequência.

Embora pareça uma cruel coincidência, cientistas descobriram que a situação descrita acima está se repetindo com frequência: Após a passagem de tempestades tropicais ou furacões, as temperaturas podem subir para valores 5°C acima da média - ou mais, já que as estimativas foram bastante conservadoras.

A pesquisa foi publicada na Journal of Geophysical Research e mostrou que os perigos dos ciclones tropicais vão muito além dos ventos fortes, da chuva intensa e das inundações. Os resultados mostram, inclusive, que as ondas de calor podem chegar até regiões que não foram diretamente atingidas pelos ciclones.

Como os cientistas descobriram que os ciclones tropicais estão impulsionando ondas de calor extremo?

O principal autor do estudo é Zackry Guido, professor no Instituto de Resiliência do Arizona (também chamado de AIRES). Lá, Guido lidera programas internacionais que incentivam a pesquisa em regiões do globo sensíveis às mudanças sociais e ambientais, o que direcionou a equipe para as regiões mais afetadas pelos ciclones, como o Caribe.

Furacões são bombas de calor gigantescas, que redistribuem calor através de uma grande distância espacial ao redor do centro da tempestade. - Zackry Guido

Assim, os cientistas analisaram 53 ciclones tropicais que ocorreram no leste do Caribe entre 1991 e 2020, além de 205 interações entre os ciclones e 14 cidades caribenhas. Os resultados mostraram que os índices de calor das cidades eram sempre mais quentes do que a média após a passagem da tempestade, o que traz grandes riscos para a saúde humana e retarda a recuperação do local.

E para a piorar a situação, embora o artigo não tenha explorado como as mudanças climáticas podem estar afetando o fenômeno, os autores acreditam que a situação tende a piorar. Isso porque ambientes mais quentes e chuvas mais intensas se alimentam mutuamente e, consequentemente, resultam em impactos maiores.

O estudo faz parte de um grande movimento para construir uma maior resiliência climática em Porto Rico, que envolve pesquisadores de saúde pública e do clima e visa conscientizar a população sobre riscos meteorológicos, incluindo as ondas de calor.