Ciclones extratropicais e Mudanças Climáticas no Brasil
Os ciclones extratropicais afetam o tempo e clima em boa parte do Brasil, por estarem relacionados ao regime de chuvas e eventos extremos. Pesquisas sobre como as mudanças climáticas vão afetar o comportamento desse tipo de sistema são essenciais para o gerenciamento hídrico e de desastres no país.

É frequente ouvirmos falar sobre frentes frias nas previsões do tempo, e elas vem normalmente acompanhas da notícia de chuvas, ventos fortes e inundações. As frentes frias são associadas aos ciclones extratropicais, que atuam com frequência na América do Sul e oceano adjacente.
A variabilidade na ocorrência desse sistema atmosférico está ligada ao regime de chuvas no país e a eventos extremos ao longo da costa sul e sudeste. Por tanto, saber como os ciclones extratropicais vão se comportar nas mudanças climáticas é importante para o gerenciamento hídrico e de desastres no país.
Visão global
As mudanças nos ciclones extratropicais ao redor do mundo vem sendo estudadas desde dos anos 2000. De forma geral, a ocorrência desses sistemas tende a diminuir no globo e sua faixa de atuação está se deslocando em direção aos pólos. Além disso, outra mudança encontrada em diversos estudos que analisam as projeções climáticas é a intensificação desses sistemas de baixa pressão.
Essas mudanças no padrão de atuação dos ciclones extratropicais descritas para o globo afetam severamente as regiões em médias latitudes, entre 30ºS - 60ºS, que poderão apresentar uma tendência de déficit no balanço hídrico, já que dependem das chuvas trazidas por sistemas de baixa pressão.
Um melhor entendimento dos efeitos das mudanças climáticas nos #ciclones extratropicais no #Brasil é fundamental para criação de políticas públicas para a mitigação de desastres naturais e gerenciamento de recursos hídricos. pic.twitter.com/wcuUTyJYK6
— Carolina Barnez Gramcianinov (@CGramcianinov) June 11, 2020
Também há um potencial aumento de eventos extremos, já que os ciclones tendem a ficar mais fortes. O alerta fica principalmente em altas latitudes, entre 60ºS e 80ºS, onde a frequência de ciclones deve aumentar. Mas mesmo regiões em médias latitudes, como o Sudeste e Sul do país podem sofrer as consequências dessa intensificação, como aumento de chuvas muito intensas, alagamentos, ondas fortes e ressacas.
Foco no regional
Apesar dessa visão geral das tendências dos ciclones extratropicais nas projeções futuras ser importante, é necessário um estudo mais regional das mudanças. Principalmente porque a resolução espacial dos modelos climáticos ainda não é suficiente para representar com detalhes feições essenciais para o desenvolvimento dos ciclones extratropicais na América do Sul, como orografia (relevo), gradientes de temperatura de superfície do mar e fluxo de umidade.

Um artigo publicado nesse mês na Climate Dynamics mostrou que, apesar da redução de 2,6% na ocorrência de ciclones na América do Sul durante o inverno, há uma tendência de aumento na precipitação. A chuva estaria associada à fase de desenvolvimento dos ciclones extratropicais, e, portanto, seria restrita às regiões propícias para o "nascimento" de ciclones: costa da Argentina, Uruguai e Sul do Brasil.
A Dra. Michelle Reboita, professora da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e seus coautores utilizaram um modelo regional, com uma melhor resolução, para "refinar" as informações dos modelos climáticos globais e compararam o período de "presente", de 1995 a 2014, com o "futuro", de 2080 a 2099.
Os resultados do artigo vão de encontro com os poucos trabalhos que existem sobre os ciclones extratropicais e mudanças climáticas focados na América do Sul - quando comparados com regiões do Hemisfério Norte, por exemplo. É fundamental que pesquisas como essa continuem para entendermos melhor as consequências do aquecimento global no nosso país e elaborar um plano de mitigação adequado para os desafios que virão.