Por que o Atlântico Norte está produzindo tempestades tão intensas?

Menos de uma semana após os prejuízos e danos causados pela Tempestade Ciara, a Europa teve que enfrentar outra poderosa tempestade de inverno, a Tempestade Dennis. Por que será que o Oceano Atlântico Norte tem produzido tempestades tão poderosas nesse ano?

Tempestade Dennis
Tempestade Dennis em seu pico de intensidade no dia 15 de fevereiro de 2020, ao sul da Islândia, Atlântico Norte. Imagem: NASA.

Uma semana após a passagem da Tempestade Ciara, o noroeste da Europa foi novamente atingido pela forte Tempestade Dennis. Dennis foi o 4º ciclone extratropical nomeado da atual temporada de tempestades de inverno do Reino Unido e Irlanda e a 13ª tempestade da temporada de inverno de 2019-20 da Europa.

A Tempestade Dennis foi o terceiro, e o mais intenso, ciclone bomba a se formar no Atlântico Norte nos últimos 10 dias, uma sequência muita rara de ocorrer, apesar de ser uma época propícia a formação de tempestades do tipo. A tempestade recebeu seu nome oficial no dia 11, após sua passagem pelos Estados Unidos, quando já atuava sobre o Atlântico Norte, onde passou a se acelerar e ganhar força.

No Atlântico Norte Dennis interagiu e se aproximou de outro ciclone bomba que assolava a Islândia. Ambos fizeram uma espécie de “dança” entre ciclones, chamado de Efeito Fujiwhara na meteorologia, até se fundirem em um único sistema. Foi nesse momento que Dennis se tornou um super ciclone bomba e o 2° ciclone não tropical mais intenso registrado no Atlântico Norte, com um valor de 920 hPa em seu centro, um valor que poucas tempestades não tropicais alcançam.

O que é um ciclone bomba?

Um ciclone extratropical é denominado de ciclone bomba quando seu centro de pressão cai rapidamente, pelo menos 24 hPa em 24 horas. Quando menor o valor do centro de baixa pressão, mais intensa é a tempestade e os ventos associados. Normalmente, são esperados 20 a 40 ciclones bombas por inverno no Atlântico Norte.

Dennis impressionou os meteorologistas por apresentar uma rápida e forte intensificação. Dentro de 24 horas, entre sexta-feira (14) e sábado (15), foi registrada uma brusca queda de 56 hPa em seu centro de baixa pressão, mais que o dobro da taxa de intensificação característica de um ciclone bomba.

Por que esses ciclones bombas estão se formando no Atlântico Norte?

Esses ciclones normalmente são desenvolvidos e alimentados pelas fortes correntes de ventos que sopram nos altos níveis da atmosfera, os chamados jatos de altos níveis. Nos últimos dias essa corrente de ventos tem estado mais intensa que o normal sobre o Atlântico Norte, atingindo velocidades de 390 km/h, favorecendo então a formação dessas super tempestades de inverno.

Mas por que a corrente de jatos está mais intensa com o normal? Isso está associado a uma importante oscilação climática do Hemisfério Norte, a Oscilação do Ártico (OA), semelhante a Oscilação Antártica do Hemisfério Sul. As fases (positiva e negativa) da OA influenciam na intensidade e comportamento da corrente de jatos do Hemisfério Norte. Quando a AO está em sua fase positiva o vórtice polar sobre o Ártico está mais intenso e a corrente de jatos, consequentemente, também fica mais intensa e mais zonal (reta de oeste-leste). Enquanto na fase negativa o vórtice polar se enfraquece, enfraquecendo os jatos e permitindo a entrada de massas de ar polares sobre os Estados Unidos.

Nos últimos dias o índice da OA tem mostrado um predomínio de fase positiva da oscilação. Na última segunda-feira (10), esse índice bateu o recorde de maior valor positivo já registrado, o que explica porque os jatos de altos níveis tem estado tão intensos e a formação das tempestades intensas que tem atingido a Europa.