Operação da PF encontra piscinas com cianeto em área indígena demarcada de Roraima
O uso da substância tóxica no garimpo clandestino dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol traz sérias consequências para o meio ambiente e para a saúde pública.

A presença de cianeto em áreas de garimpo na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, acendeu um alerta urgente para autoridades ambientais e de saúde pública. Durante uma operação da Polícia Federal realizada em junho, conhecida como Fox Uno, foram descobertas estruturas com a substância, utilizadas ilegalmente para extrair ouro.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o uso do cianeto em garimpos funciona de maneira semelhante ao mercúrio, separando o ouro dos demais minerais. No entanto, os impactos são devastadores. O produto contamina o solo, os rios e a fauna local, com efeitos prolongados sobre o ecossistema e a saúde das pessoas. A exposição pode causar desde intoxicações agudas até danos crônicos ao organismo humano.
Contaminação atinge povos tradicionais e ameaça fronteira com a Guiana
A Terra Indígena Raposa Serra do Sol abriga mais de 26 mil indígenas, distribuídos entre os povos Macuxi, Taurepang, Ingarikó, Patamona e Wapichana. A região se estende por três municípios — Normandia, Pacaraima e Uiramutã — e faz fronteira com a Guiana. É uma das maiores áreas demarcadas no Brasil, reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em 2009.
A contaminação por cianeto compromete não apenas a qualidade da água e da pesca, como também a própria sustentabilidade alimentar das comunidades. Diante disso, o MPF orientou a adoção de medidas emergenciais para controlar a presença da substância e evitar um desastre socioambiental de maiores proporções.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) informou que existe um grupo de trabalho trilateral, com participação do Brasil, Guiana e Suriname, dedicado ao enfrentamento do garimpo ilegal na fronteira. O projeto “CoRAmazônia” também foi citado como uma das iniciativas que buscam articular ações conjuntas entre os países da região amazônica.
Falta de estrutura para lidar com resíduos tóxicos agrava o problema
Durante a ação da Polícia Federal, constatou-se que o descarte das substâncias tóxicas encontradas não pôde ser realizado. Faltavam profissionais especializados e equipamentos de proteção para manipular o material com segurança. A recomendação foi de não se aproximar das piscinas, tamanha era a periculosidade.
Mesmo diante da proibição constitucional de qualquer tipo de garimpo em terras indígenas, a prática segue ativa, explorando ilegalmente recursos naturais e colocando em risco populações inteiras. As estruturas de cianeto são um exemplo dramático de como a mineração clandestina ignora os limites da lei e os direitos dos povos originários.
O MPF também solicitou ao Itamaraty a abertura de tratativas diplomáticas com o governo da Guiana para criar um plano de cooperação bilateral. O objetivo é combater o garimpo transfronteiriço de forma mais coordenada, especialmente nas áreas de difícil acesso, onde a fiscalização é limitada.
Enquanto isso, as comunidades continuam vulneráveis, esperando ações concretas para garantir sua segurança, o direito à terra e a preservação de seus modos de vida.