Ondas de calor serão 100 vezes mais prováveis de acontecer daqui pra frente no Brasil

Qual é mais relevante, El Niño ou mudanças climáticas? Novo estudo revela qual destes foi mais expressivo durante a última onda de calor registrada no Brasil!

Calor exorbitante na América do Sul
Estudo revela que as mudanças climáticas estão por trás do calor extremo registrado na América do Sul, incluindo o Brasil.

Grandes partes da América do Sul, incluindo o Brasil, sofreram com temperaturas extremamente altas durante este ano, com os termômetros atingindo 40°C no centro e norte do Brasil. Cientistas alertam que se o aquecimento global atingir os 2°C, prevê-se que ondas de calor semelhantes ocorram a cada cinco ou seis anos.

Onda de calor sem precedentes na primavera

As mudanças climáticas induzidas pelo homem tornaram a recente onda de calor de inverno na América do Sul 100 vezes mais provável, revela estudo. Tais mudanças foram o principal fator das condições meteorológicas extremas que assolam grande parte do continente durante a maior parte de agosto e setembro.

As temperaturas subiram até 4,3°C neste ano!

Na maior parte da América do Sul, incluindo o Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina, as temperaturas ultrapassaram os 40°C no final do inverno e prolongaram-se até à primavera do Hemisfério Sul.

Em consequência disso, pelo menos quatro mortes relacionadas ao calor foram relatadas em São Paulo, a maior cidade da América do Sul. Porém, o verdadeiro número de mortos provavelmente levará meses para ser determinado, afirmou o estudo publicado na World Weather Attribution.

O calor mata!

A onda de calor e a seca, associadas à morte em massa de peixes e botos, limitaram o acesso a suprimentos pelas comunidades locais que dependem do transporte fluvial na floresta tropical.

A barcaça que transportava três caminhões e 2 mil botijões de gás de cozinha está encalhada desde o mês passado nos vastos bancos de areia do Rio Negro.

Com a seca histórica que o Amazonas vem enfrentando, já chegou a 141 o número de botos encontrados mortos no Lago Tefé. Segundo os pesquisadores, a temperatura da água chegou a 40°C no dia de pico de mortes, em 29 de setembro, desde então, os animais vêm surgindo mortos no Lago Tefé.

Além disso, as aldeias indígenas não têm água potável, alimentos e nem remédios. Até os rios menores secaram e agora só resta a lama! Os baixos níveis dos rios dificultam o acesso à assistência médica. O rio Madeira não está navegável em seu curso superior, isolando as aldeias indígenas e demais comunidades que dependem da coleta de frutas na floresta, mas não podem escoar seus produtos.

Maior impacto das mudanças climáticas

Para um grupo de cientistas, as mudanças climáticas tiveram mais impactos nos extremos de temperaturas registrados na região central do Brasil, do que a atuação do fenômeno climático El Niño.

O fenômeno do El Niño pode ter contribuído com algum calor, mas sem a mudança climática, a onda de calor da primavera não seria tão intensa, afirmou Lincoln Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

A análise levou em consideração o período entre 17 e 26 de setembro, no qual uma massa de ar quente prevaleceu nas regiões sudeste e centro-oeste do país. O pico de calor foi registrado em 25 de setembro, com anomalias de 7°C acima da média para o período, como foi registrado no sul da Bahia, leste de Goiás, Mato Grosso do Sul e norte do Paraná.

Os pesquisadores calcularam o período de retorno, mudança na intensidade e razão de probabilidade entre 2023 e um clima com 1,2°C mais frio, ou seja, sem o aquecimento global antropogênico. Como resultado do estado, todos os três conjuntos de dados mostram um claro aumento na frequência e intensidade de eventos quentes.

Com o aquecimento global, a perspectiva é de que ondas de calor se tornarão ainda mais comuns e com extremos de temperatura cada vez maiores. As temperaturas médias globais de 2°C acima dos níveis pré-industriais, um evento de calor como este será cerca de cinco vezes mais provável e será 1,6°C mais quente do que hoje. Ou seja, as mudanças climáticas induzidas pelo homem tornaram a recente onda de calor na América do Sul 100 vezes mais provável.