Mito ou verdade: D. Pedro gritou às margens do rio Ipiranga? O que historiadores dizem sobre 7 de setembro

7 de setembro, data que marca o bicentenário da independência do Brasil, e nós pesquisamos: D. Pedro I realmente gritou “Independência ou Morte!” às margens do rio Ipiranga? O que se sabe sobre um dos momentos mais marcantes da história do nosso país?

Foto do famoso quadro "Independência ou Morte", do pintor brasileiro Pedro Américo, feito em óleo sobre tela em 1888. A obra está exposta no Museu Paulista (ou Museu do Ipiranga), em São Paulo (SP), e é o principal registro da Independência do Brasil. Foto: Arte de Pedro Américo.

Neste 7 de setembro de 2025 comemoramos 203 anos da Independência do Brasil, que se separou de Portugal em 1822. Este, que é um dos momentos mais importantes da história do nosso país, foi marcado pelo famoso grito de Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga, em São Paulo, montado em um cavalo: “Independência ou morte!”, conforme aprendemos em livros de história.

Pedro de Alcântara, mais conhecido como Dom Pedro I, é retratado como um herói que bradou pela liberdade do Brasil às margens do rio Ipiranga naquela época, em uma região que hoje é a cidade de São Paulo.

Mas será que o príncipe realmente gritou às margens do Ipiranga? E foi isso mesmo que ele teria falado? Podemos dizer que, na verdade, a história é um pouco menos heroica. Entenda melhor abaixo.

O real grito de D. Pedro I às margens do Ipiranga

Especialistas e historiadores consultados pela National Geographic apontam o que provavelmente é mito e o que pode ser verdade sobre a Independência do Brasil. E eles explicam que não foi bem como imaginávamos...

Primeiramente, D. Pedro I não montava cavalo. Segundo Jorge Pimentel Cintra, engenheiro especializado em cartografia histórica da Escola Politécnica e do Museu Paulista, o momento da proclamação aconteceu na volta de uma viagem que D. Pedro fazia de São Paulo a Santos, a qual passava pela Serra do Mar, e cavalos não seriam uma escolha apropriada para aquele terreno.

imperador Dom Pedro I
Imagem de Dom Pedro I, imperador brasileiro entre 1822 e 1831. Crédito: Wikimedia Commons.

A viagem passava por um caminho de pedra conhecido hoje como Calçada do Lorena, construído por rochas trabalhadas a mão. “Por não ser uma estrada plana, as mulas eram o meio mais seguro de subir a Serra do Mar”, diz Cintra.

Outra questão é que o local do grito não tenha sido as margens do rio Ipiranga. Cintra explica que o local seria outro e do qual talvez nem se pudesse ver o rio. Estudos do pesquisador (em que ele examinou pinturas, fotos, relatos e mapas antigos) mostram que o local exato da proclamação da independência seria uma colina próximo do rio, onde hoje fica a pista de skate do Parque do Ipiranga, a 405 metros do rio.

Museu do Ipiranga em 1912
Foto tirada na área externa do Museu do Ipiranga em 7 de setembro de 1912. Crédito: Divulgação.

E por fim, D. Pedro I realmente gritou “Independência ou morte”? Ele gritou, mas não foi exatamente isso. Explicamos abaixo.

Em sua Carta Dirigida aos Paulistas (documento de 8 de setembro de 1822 em que D. Pedro I fala sobre o episódio do dia anterior aos cidadãos da Província de São Paulo), D. Pedro não deixou nenhum registro específico sobre o que ele disse.

De acordo com Cintra, um documento do coronel Manuel Marcondes de Oliveira e Melo, barão de Pindamonhangaba e comandante da guarda de honra de D. Pedro, descreve:

“Diante da guarda, que descrevia um semicírculo, com a espada desembanhada [o Príncipe Regente], bradou: ‘Amigos! Estão, para sempre, quebrados os laços que nos ligavam ao governo português! E bradou ainda o príncipe: ‘Será nossa divisa de ora em diante: Independência ou morte! E as nossas cores, verde e amarelo, em substituição às das cortes”

Contudo, outros historiadores explicam que, segundo relatos do Padre Belchior de Oliveira, conselheiro de D. Pedro I, que viajava com a comitiva na época, o príncipe teria gritado: “Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal”.

Mas a independência oficial do Brasil não foi conseguida no grito e nem naquele exato momento. Naquele instante, D. Pedro e seu séquito pararam para descansar e foi quando dois mensageiros trouxeram para ele cartas vindas de Portugal: uma de sua esposa Maria Leopoldina e outra de José Bonifácio, seu assessor. Em ambas, era exigido a volta de D. Pedro a Portugal e afirmavam que Leopoldina já havia assinado o Decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal.

No final das contas, apenas quem estava lá naquele 7 de setembro de 1822 sabe com exatidão o que aconteceu

Referências da notícia

7 de setembro: descubra o verdadeiro grito de Dom Pedro I às margens do Ipiranga. 06 de setembro, 2024. Ludimila Ferreira.

Nos 200 anos da independência do Brasil, conheça mitos e verdades sobre o 7 de setembro. 06 de setembro, 2022. Redação National Geographic Brasil.