Hunga Tonga: novos dados impressionantes sobre a erupção que abalou o mundo

A erupção do vulcão Hunga Tonga produziu efeitos nunca antes vistos na história da observação moderna. Passado um ano após a mais intensa erupção registada no planeta Terra, há novos dados impressionantes. Saiba tudo aqui!

Vulcão Hunga Tonga; erupção
Há pouco mais de um ano, a 15 de janeiro de 2022, entrava em erupção um poderoso caldeirão vulcânico quase submerso no Pacífico Sul, chamado Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, dando-se a conhecer ao mundo. Créditos: MAXAR VIA GETTY IMAGES

Depois de 7 anos “adormecido”, o vulcão gerou uma impressionante nuvem de cinzas que subiu mais alto na atmosfera da Terra do que qualquer outra já registada, atingindo os 58 km, e um tsunami de quase 15 metros que devastou o isolado arquipélago insular do Reino de Tonga.

A erupção do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai entrou para a história ao quebrar todos os tipos de recordes. Sabe-se que a energia liberada ultrapassou a maior explosão provocada pelo Homem na História, a mais potente bomba nuclear detonada, a bomba Tsar.

O impacto da explosão e do tsunami que a erupção gerou não se limitou a este arquipélago de mais de 170 ilhas, e ao sul do Oceano Pacífico. A erupção gerou um tsunami global, um dos muito poucos tsunamis que conhecemos que afetou todos os oceanos e mares do planeta Terra, gerado por um choque de pressão provocado pela erupção, que viajou na atmosfera.

Uma investigação publicada na revista Nature confirmou que esta erupção tinha se tornado a maior explosão na Terra nos tempos modernos. Mas os seus efeitos não param por aqui. Estima-se que os seus efeitos poderiam alterar o clima da Terra ao ponto de o aquecer nos próximos cinco anos, afetando também a camada de ozônio.

Um fenômeno notável na era da observação moderna

Embora este seja hoje um dos mais notáveis fenômenos naturais na era da observação moderna, felizmente o número de vítimas foi manifestamente inferior ao esperado, dada a dimensão do evento e comparação com fenômenos passados.

Há que viajar 140 anos para encontrar uma erupção de dimensão idêntica que tenha abalado o planeta Terra. A 27 de agosto de 1883, o vulcão Krakatoa entrava em erupção, levando à autodestruição de parte daquela ilha indonésia, causando aquele que havia sido até aos dias de hoje o maior e mais desastroso tsunami vulcânico da História.

A erupção do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai foi já classificada como Krakatoa 2.0” e mesmo um ano depois, o interesse por esta extraordinária erupção explosiva permanece.

O fenômeno foi acompanhado por vários satélites de observação da Terra, que recolheram dados em diferentes momentos: antes, durante e após a erupção. A equipa de cientistas do Aeolus Data Science Innovation Cluster usou os dados da missão Aeolus da ESA (European Space Agency) para monitorizar a explosão vulcânica, através de dados obtidos quase em tempo real do Aeolus Virtual Research Environment.

Com a erupção do Hunga Tonga, notaram que a pluma de cinzas expelida bloqueou o sinal do satélite na área da mesma, quando esta foi injetada na troposfera superior e na estratosfera inferior.

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Esta quebra no sinal do Aeolus sobre a região da erupção sugere que a nuvem de cinzas vulcânicas deva ter atingido uma altitude acima do alcance do satélite, que foi depois aumentado de 21 km para 30 km, no final de janeiro de 2022, o que permitiu perceber que a pluma de cinzas ultrapassou claramente a estratosfera.

“Ajustar ligeiramente o alcance do satélite significou que os nossos colegas do European Centre for Medium-Range Weather Forecasts puderam acompanhar o transporte da pluma enquanto esta viajava para o oeste quase em tempo real. Graças à sensibilidade do Aeolus às partículas vulcânicas, foi possível ver os efeitos mesmo alguns meses depois”, explica Tommaso Parrinello da ESA.

Em um artigo recentemente publicado na revista Nature, uma equipa de investigadores mostrou algo impressionante: a erupção de Tonga-Hunga forneceu a primeira evidência observacional de uma substancial hidratação estratosférica impulsionada por vulcões, aparentemente devido à localização submarina deste.

Aumento sem precedentes da massa de água estratosférica global

O estudo revela que esta erupção causou um aumento sem precedentes da massa de água estratosférica global em 13% (em relação aos níveis climatológicos) e um aumento de cinco vezes na carga de aerossóis estratosféricos – o maior nas últimas três décadas.

Através da combinação de dados de satélite, incluindo dados do satélite Aeolus da ESA e de observações terrestres, a equipa descobriu que, devido à altitude extrema, a pluma vulcânica circunavegou a Terra em apenas uma semana e que se dispersou quase de polo a polo em três meses.