Horário de verão pode voltar ao Brasil em 2025 para conter déficit de energia, segundo o ONS
ONS considera retorno do horário de verão para aliviar carga no sistema elétrico, diante de projeções de crescimento no consumo e déficit de potência até 2029.
O Brasil pode estar prestes a reviver o horário de verão. A possibilidade foi levantada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que alerta para o agravamento do déficit de potência nos próximos anos. Em relatório recente, o órgão apontou que, entre 2025 e 2029, a carga de energia no país deve crescer 14,1%, uma média de 3,4% ao ano. Esse cenário coloca em xeque a capacidade do sistema elétrico nacional de atender à demanda em momentos críticos.
Em entrevista ao Estado de S. Paulo, o diretor de Planejamento do ONS, Alexandre Zucarato, destacou que o novo Plano da Operação Energética (PEN) confirmou as previsões feitas anteriormente, mas com piora no quadro de suprimento. “O PEN 2025-2029 confirmou o diagnóstico do ano passado e mostrou agravamento do déficit de potência”, explicou. Segundo ele, uma das soluções em análise é o retorno do horário de verão. “Eventualmente, podemos recomendar horário de verão como imprescindível”, afirmou.
Embora o Brasil tenha abandonado essa prática em 2019, a mudança no perfil da matriz elétrica reabriu o debate. O avanço das fontes renováveis, como solar e eólica, que são intermitentes, exige mais flexibilidade das fontes convencionais, como hidrelétricas e termelétricas, para manter o equilíbrio do sistema.
Flexibilidade e uso de termelétricas estão no radar
De acordo com o relatório, o segundo semestre de 2025 será especialmente desafiador. Para contornar possíveis desequilíbrios entre oferta e demanda, o ONS propõe acionar mais usinas termelétricas a partir de outubro. A recomendação vem acompanhada de sugestões de articulação entre diversos órgãos públicos e ambientais, incluindo o Ministério de Minas e Energia, o Ministério do Meio Ambiente, a Agência Nacional de Águas e o Ibama.
A estratégia envolve flexibilizar restrições operativas, como regras para uso múltiplo da água ou limitações ambientais que possam afetar a geração de energia. O objetivo é garantir que o sistema possa reagir com agilidade a variações abruptas na carga.
Marcio Rea, diretor-geral do órgão, também destacou os novos desafios enfrentados pela operação. “Com o crescimento das fontes intermitentes, novos desafios também surgiram para a operação”, declarou.
Ele ainda ressaltou a necessidade de fontes controláveis: “Precisamos cada vez mais de flexibilidade no sistema, com fontes de energia controláveis, que nos atendam de forma rápida para termos o equilíbrio entre a oferta e a demanda.”
A fala reforça o papel de mecanismos como o horário de verão, que ajuda a espalhar o consumo de energia ao longo do dia, aliviando os chamados picos de carga, especialmente no início da noite.
Retomar o horário de verão: decisão política ou técnica?
Desde que foi extinto, o horário de verão voltou a ser discutido diversas vezes, mas sempre com resistência por parte do governo. Agora, com os dados apresentados pelo ONS, a medida pode ser a solução para evitar sobrecarga energética.
No entanto, a reativação depende não apenas de avaliação técnica, mas também de decisão política. Mesmo com as recomendações do setor elétrico, o governo precisa considerar o impacto da medida na população, na economia e no setor produtivo.
Com o aumento do consumo e a transição energética em curso, o Brasil terá que buscar soluções mais ágeis para evitar apagões e garantir a segurança do abastecimento nos próximos anos.
Referências da notícia
PODER360. Volta do horário de verão pode ser “imprescindível”, diz ONS. 9 de julho, 2025.
CNN Brasil. ONS diz que país precisa de hidrelétricas e cita volta do horário de verão. 9 de julho, 2025.