Economia global tem prejuízo de trilhões de dólares após anos de El Niño

Segundo uma pesquisa recente, o efeito El Niño causa um prejuízo de vários trilhões de dólares na economia global em anos posteriores à sua ocorrência, e as previsões apontam para um evento potencialmente custoso este ano.

El Niño, Califórnia, enchentes, 1998
Enchentes no condado de Yuba, Califórnia, em 10 de fevereiro, causadas pelo forte El Niño de 1997/98. Crédito: Bob Galbraith/AP.

De acordo com uma nova pesquisa publicada recentemente na revista Science, os efeitos do El Niño, um fenômeno climático natural, custam trilhões de dólares à economia global, pois suas consequências se estendem ao longo dos anos.

O El Niño é um fenômeno natural caracterizado por um aumento da temperatura superficial do mar (TSM) no centro-leste do oceano Pacífico equatorial, que modifica o padrão dos ventos na atmosfera, afetando o clima em vários locais do mundo.

O El Niño influencia o clima ao redor do globo, causando desde inundações severas em alguns lugares, até secas graves em outros, e costuma ocorrer em intervalos de tempo que variam entre 2 e 7 anos. No Brasil, por exemplo, o fenômeno causa um aumento da temperatura média e da precipitação na Região Sul, e uma diminuição das chuvas no Nordeste.

O artigo é resultado de uma pesquisa feita pelos geógrafos e economistas Cristopher Callahan e Justin Mankin, do Darthmouth College, de New Hampshire, nos Estados Unidos (EUA), que calcularam o impacto econômico de El Niños passados. Como o El Niño tem maior probabilidade de ocorrer na sequência de um La Niña, eles também levaram isso em conta ao calcular os impactos em um prazo mais estendido.

El Niños anteriores e seus prejuízos

anomalias de temperatura do mar, El Niño, 1998
Mapa global das anomalias de temperatura do oceano Pacífico, que caracterizam o El Niño de 1997/98, um dos mais fortes já registrados. Crédito: NASA.

Os pesquisadores fizeram os cálculos com base nos El Niños mais fortes da história, os de 1982/83 e de 1997/98, e identificaram que o PIB (Produto Interno Bruto) mundial perdeu entre 4,1 e 5,7 trilhões de dólares devido a esses eventos. As perdas econômicas se propagaram por cinco anos, em um efeito cascata que vai além da duração do El Niño em si, que tipicamente é menor que um ano.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em uma região, durante um período determinado. Ele é um dos indicadores mais utilizados na para se quantificar a atividade econômica de uma região.

Em relação ao El Niño de 1997/98, ao que tudo indica a economia brasileira sofreu um impacto médio-alto, com o fenômeno puxando o PIB nacional em mais de 5% para baixo. Os EUA, por exemplo, viram seu PIB cair 3% em 1988 e 2003, após cada El Niño. Os países tropicais como Peru e Indonésia, que são mais vulneráveis aos efeitos do El Niño, viram seus PIBs caírem mais de 10% nesses mesmos anos.

Segundo os pesquisadores, "o PIB peruano recuou em 1998 e ficou estagnado por mais de três anos”. “Por estar saindo de uma crise financeira em 1997, a desaceleração de 1998 não pode ser totalmente atribuída à oscilação do El Niño no Hemisfério Sul, mas a economia do Peru teria crescido mais rápido se o El Niño de 1997/98 não tivesse ocorrido", complementam eles.

Além disso, conforme os autores, "ao todo, 56% dos países do mundo experimentam quedas de crescimento significativas depois de El Niños, em uma média de 2,3%, que não são oscilações pequenas das quais podem se recuperar facilmente".

O que esperar da economia no futuro?

Além de estimar os prejuízos dos El Niños passados, os pesquisadores simularam o custo de impactos futuros do fenômeno, que devem ser agravados pela mudança climática. A estimativa é que a soma dos PIBs de todos os países pode perder até 84 trilhões de dólares no século 21, se o aquecimento global não for freado.

E já existem sinais de que o El Niño deste ano pode ser especialmente intenso. Sendo assim, ele poderá custar à economia global até 3 trilhões de dólares em danos até 2029. “Nossos resultados sugerem que provavelmente haverá um grande impacto econômico que diminuirá o crescimento econômico nos países tropicais por uma década”, disse Callahan, autor principal da pesquisa.

Callahan destacou também a importância de reduzir as emissões e realizar mais pesquisas sobre as consequências das mudanças climáticas. “Daqui para frente, pensando nos efeitos das mudanças climáticas no El Niño e no clima tropical, precisamos ter uma ideia melhor de como esses processos vão evoluir e o que as mudanças climáticas farão para controlá-los”, disse ele.