Dinamarca armazena quase 10 mil cérebros em um subsolo. É verdade?

Em um clima misterioso, o subsolo de uma Universidade na Dinamarca estaria guardando uma coleção de mais de 9 mil cérebros humanos ao longo de muitos anos. É verdade essa história? Contamos tudo aqui.

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Cérebros humanos armazenados no porão da Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense. O patologista, Martin Wirenfeldt Nielsen, é o responsável pela coleção. Foto: The Japan Times/AFP-JIJI.

Sim, é verdade! Em um porão isolado na Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense, existem inúmeras prateleiras com milhares de baldes brancos, e em cada um deles existe um cérebro humano antigo preservado em formol.

O acervo de quase 10 mil cérebros, 9.479 para ser mais exato, é resultado de uma pesquisa experimental realizada em 1945 pelo renomado psiquiatra Erik Strömgren. Estima-se que esta seja a maior coleção desse tipo no mundo.

Os cérebros foram coletados durante a autópsia de pessoas que morreram em instituições psiquiátricas daquele país, entre as décadas de 1940 e 1980, e alguns apresentavam marcas de lobotomia. O procedimento era para que os órgãos pudessem ser estudados no futuro.

Como tudo começou

Segundo informações da BBC News Mundo, os cérebros começaram a ser coletados em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, e sem a autorização prévia do paciente falecido ou consentimento dos familiares. Na época, eles ficaram guardados no Instituto de Patologia Cerebral, localizado no Hospital Psiquiátrico Risskov, na cidade de Aarhus, oeste da Dinamarca.

Conforme relatos, naquela época, os pacientes ficavam internados a vida toda. Não havia tratamento, e eles ficavam lá trabalhando no jardim, na cozinha ou fazendo outras outras coisas. Morriam ali e eram enterrados no cemitério do hospital.

As pesquisas sobre a coleção ao longo dos anos cobriu uma ampla gama de doenças, incluindo demência, esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão. Acredita-se que muitos dos pacientes também adquiriram outras doenças cerebrais, como derrame, epilepsia ou tumores cerebrais.

"Todos esses cérebros estão muito bem documentados. Sabemos quem eram os pacientes, onde nasceram e quando morreram. Também temos seus diagnósticos e relatórios de exames neuropatológicos”, disse Martin Wirenfeldt Nielsen, patologista e atual diretor da coleção, à BBC News Mundo.

Contudo, com o desenvolvimento da questão ética sobre os direitos dos pacientes, os procedimentos foram extintos em 1982. A partir daí, surgiu uma longa discussão sobre a relevância de armazenar estes cérebros, até que o Conselho de Ética Dinamarquês, na década de 1990, ordenou que eles deveriam ser preservados e usados para fins científicos.

E hoje, o que está sendo feito?

A coleção, que até então estava guardada em Aarhus, foi transferida para Odense em 2018, onde vários projetos para estudar doenças como demência e depressão estão em andamento. Para Nielsen, essa coleção é um recurso científico muito útil para se descobrir mais sobre transtornos mentais.

O vídeo abaixo mostra com mais detalhes como é por dentro do porão da Universidade que abriga os cérebros humanos. Veja:

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“O fato de os cientistas terem decidido ficar com os cérebros dos pacientes tantos anos atrás foi uma decisão genial para as futuras gerações de pesquisadores. Talvez daqui muito tempo, alguém apareça e saiba mais sobre o cérebro humano do que nós", diz Nielsen.

No entanto, as pesquisas ainda não produziram resultados considerados "revolucionários". "Mas eles já estão começando a surgir. Esses projetos exigem um compromisso de longo prazo, e isso significa vários anos até que haja resultados", acrescentou ele.

De qualquer forma, até então essa excêntrica coleção nunca havia recebido algum tratamento médico moderno e, como consta na própria página da Universidade, é "estudando esses cérebros, que os pesquisadores serão capazes de investigar o efeito do tratamento moderno".