Cientistas da NASA fazem primeira observação de um ciclone polar em Urano

Pela primeira vez, cientistas da NASA conseguiram observar daqui da Terra um ciclone polar em Urano, através de telescópios terrestres, graças à posição daquele planeta em sua longa órbita ao redor do Sol.

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Cientistas da NASA conseguiram localizar, daqui da Terra, o primeiro ciclone polar em Urano, visto aqui como um ponto de cor clara à direita do centro em cada imagem do planeta. Para destacar as características do ciclone, foram usadas cores diferentes para cada mapa. Crédito: NASA/JPL-Caltech/VLA.

Astrônomos da National Aeronautics and Space Administration (NASA) conseguiram capturar o fenômeno pela primeira vez daqui da Terra através das enormes antenas de rádio do observatório Very Large Array (VLA), no Estado do Novo México (EUA). A descoberta foi publicada há poucos dias na revista Geophysical Research Letters.

Ao examinar as ondas de rádio emitidas por Urano, eles detectaram o fenômeno no polo norte do planeta. As observações do VLA foram feitas em 2021 e 2022, revelando um ponto brilhante e compacto no centro do polo de Urano em diferentes comprimentos de onda. E essas observações foram as mais detalhadas já feitas da sua atmosfera.

Com essa descoberta, os cientistas confirmaram que todos os planetas do Sistema Solar, exceto Mercúrio, têm atmosferas com sinais de vórtice giratório nos polos.

Pelas análises, os padrões percebidos na temperatura, na velocidade do vento zonal e nas variações de gás traço foram consistentes com a presença de um vórtice ciclônico compacto. O ar circundante no polo norte de Urano mostrava-se ser mais quente e seco — características de um ciclone.

Além disso, segundo os cientistas, a comparação entre observações de 2015 e de 2022 sugere um possível fortalecimento do ciclone polar nos últimos anos.

O que facilitou a descoberta para os cientistas foi o fato de Urano estar apontando um de seus polos para a Terra, algo que não acontecia nas últimas décadas. Isso ocorre devido à obliquidade do planeta — estar bem inclinado em relação ao plano no Sistema Solar — e sua posição orbital em relação à Terra.

Sonda já havia detectado um ciclone em Urano anteriormente

A Sonda Voyager 2, da NASA, já havia identificado anteriormente um fenômeno com característica de redemoinho no polo Sul de Urano. Quando ela chegou à órbita do planeta em 1986, detectou mudanças na velocidade do vento, que podiam chegar a 900 km/h. Contudo, a nave não conseguiu uma visão do polo norte para ver se havia um vórtice lá também.

Outro detalhe é que as medições de infravermelho da Voyager 2 não identificaram mudanças na temperatura do vórtice polar, algo que esta nova descoberta conseguiu.

Ciclones em Urano não se formam sobre a água — ao contrário dos furacões na Terra — e não se deslocam, ficam presos nos polos. O vórtice polar de Urano não é formado por vapor d’água, mas por gelos de metano, amônia e sulfeto de hidrogênio.

“Essas observações nos dizem muito mais sobre a história de Urano. É um mundo muito mais dinâmico do que você imagina”, disse Alex Akins, autor principal da pesquisa.

Urano está mais em evidência atualmente, devido à sua posição, que leva 84 anos para completar uma volta ao redor do Sistema Solar. Como foi dito, nos últimos anos seus polos não apontaram para a Terra, mas desde 2015 os cientistas tiveram uma visão melhor e puderam observar mais profundamente a sua atmosfera.

“O fato de ainda estarmos descobrindo coisas tão simples sobre como a atmosfera de Urano funciona, realmente me deixa animado para descobrir mais sobre esse planeta misterioso”, afirma Akins. Os pesquisadores pretendem seguir observando este recém-descoberto ciclone, para ver como ele irá evoluir nos próximos anos.