Cientistas alertam: o atual desequilíbrio energético da Terra é o maior em 150 mil anos
Nos últimos 150.000 anos, a Terra experimentou um desequilíbrio energético sem precedentes. Te contamos aqui o quanto os elementos do sistema climático esquentaram e a que se deve esta situação preocupante.

O balanço energético da Terra é definido como a diferença entre a energia solar recebida do sol e a quantidade devolvida ao espaço na forma de radiação térmica. Num cenário ideal, as energias que chegam e saem da Terra se igualam, garantindo a estabilidade térmica do nosso planeta.
Mas durante um longo período, a energia recebida excedeu significativamente a liberada, gerando um desequilíbrio energético que atingiu níveis sem precedentes nos últimos 150.000 anos. Surge inevitavelmente a seguinte questão: até que ponto a Terra aqueceu e quem é o responsável por este fenômeno?
Quanto a Terra aqueceu?
Nos últimos 50 anos, a Terra ganhou cerca de 381 ZJ (zeta-joules) de calor, acumulando quase 0,5 watts por metro quadrado da superfície terrestre.
A distribuição deste calor é crucial: 89% aquece os oceanos, enquanto a atmosfera, o solo e o derretimento do gelo representam porcentagens menores.
Hidrosfera
89% desse excesso de calor é direcionado diretamente para os oceanos, favorecendo o aumento da temperatura da água.
It takes over 3000 times as much energy to heat water than air!
— Leon Simons (@LeonSimons8) October 20, 2022
The oceans of the Northern hemisphere mid latitudes are "on fire". See the combined trend for August and September.
This area covers >40 million km² of ocean and surface temps are now 0.5°C higher than 2019! pic.twitter.com/OqRsUrwGVa
Esse processo desencadeia a liberação de vapor d'água na atmosfera, funcionando como gás de efeito estufa e gerando feedbacks positivos que amplificam ainda mais o fenômeno do aquecimento global.
Atmosfera
Entre 1961 e 2000, a atmosfera acumulou cerca de 0,53 ZJ por década, mas de 2006 a 2020 disparou para 2,29 ZJ por década. Isto significa que a atmosfera acumula agora aproximadamente quatro vezes mais calor.
À medida que o ar aquece, ele pode reter exponencialmente mais água, aproximadamente >7% para cada grau de aumento na temperatura. Este vapor de água extra atua como um gás de efeito estufa, aquecendo ainda mais a atmosfera.
Litosfera
Não só a atmosfera e os oceanos são afetados, mas também a superfície terrestre. O ganho de calor estimado desde 1960 é de cerca de 24 ZJ, com cerca de 5% destinado ao aquecimento terrestre.
From 1971 to 2018 the world warmed with about 358 ZJ.
— Leon Simons (@LeonSimons8) July 17, 2022
That's 358 000 000 000 000 000 000 000 Joules of energy.
If all that energy would be used to melt land ice, global sea levels would now be over 2.5 meters higher. pic.twitter.com/N4o3EKJmOJ
Criosfera
O gelo, um componente crucial, sofre um aumento significativo no calor que causa seu derretimento. Como todos já sabemos, é necessária 80 vezes mais energia para derreter o gelo do que para aquecer a água em 1 grau Celsius.
Se todo o calor extra desde 1960 fosse aplicado no derretimento do gelo terrestre, o nível do mar seria agora cerca de 3 metros mais alto.
Como se chegou a esses níveis?
A atual desestabilização energética na Terra é influenciada não só pelo aumento dos gases de efeito estufa, mas também pela desaceleração da Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico ( Atlantic Meridional Overturning Circulation - AMOC), revelando-se um fator crucial. Esta corrente oceânica, responsável pela redistribuição do calor global, surgiu como um componente essencial no aumento do desequilíbrio energético.

Se a AMOC desacelerar e não conseguirmos reduzir as emissões, poderemos enfrentar um desequilíbrio energético previsto superior a 2,0 W/m², quatro vezes superior à média de 1970-2020. Atualmente, o desequilíbrio energético é de aproximadamente 1,4 W/m².
Este fenômeno, impulsionado por forçantes antropogênicas e naturais, exige uma cooperação internacional contínua no monitoramento e investigação para enfrentar os desafios climáticos iminentes. Compreender estas complexidades é essencial para informar políticas e ações que mitiguem os impactos das mudanças climáticas e promovam um futuro mais sustentável.